Principal fórmula do
sucesso de Humberto de Campos
Pedro
J. Bondaczuk
A principal “fórmula”
do sucesso de Humberto de Campos (posto que não a única), quer como jornalista,
quer como escritor ou mesmo quer como político, não foi “só” seu imenso
talento, embora este contasse, e muito. Também não passou exclusivamente por
sua peculiar produtividade, posto que ajudasse. E nem mesmo se concentrou na
sua rara capacidade de aliar quantidade a qualidade nos tantos textos que
escreveu. Tudo isso contribuiu, óbvio, para que fosse bem sucedido. Fez com que
fosse, entre outras coisas, o escritor brasileiro mais lido da sua época. Mas a
característica que considero fundamental para que Humberto de Campos se
tornasse o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros” foi sua peculiar capacidade de
despertar simpatia. Foi a facilidade de fazer amizades e de construir alianças.
Quem não conta com essa virtude pode até chegar ao sucesso. Todavia, não se
mantém por muito tempo no topo.
Destaco que essa
conclusão é exclusivamente minha, baseada, todavia, na lógica. Vocês acham que
uma pessoa que não despertasse simpatia em ninguém conseguiria, como Humberto
de Campos conseguiu, ser recebido como filho, pelo comerciante José Dias de
Matos, de São Luiz, após a morte da mãe? Faria carreira tão meteórica no jornal
“A Província”, do Pará, ascendendo em pouquíssimo tempo da humilde função de
aprendiz de tipógrafo a sócio daquela mesma empresa jornalística? Duvido! Mas
foi no Rio de Janeiro que essa facilidade de fazer amigos mais apareceu, com
resultados miraculosos. Imaginem um jovem jornalista, de apenas 26 anos de
idade, procedente de fora do eixo Rio-São Paulo, sendo contratado por um órgão
de tamanho prestígio como era “O Imparcial”, naquele tempo, e ganhando, logo de
cara, uma coluna só dele!. Imaginaram?
Vocês acham que alguém
assim não despertaria inveja em jornalistas veteranos, com muito mais anos de
casa, e que não haviam conseguido nada sequer remotamente parecido? Se acharem
que não é porque não prestam muita atenção em seus próprios ambientes de
trabalho. Provavelmente, no início, aquele jovem nordestino deve ter sido
discretamente hostilizado, quando não sabotado, com seus tantos concorrentes de
olho em seus mínimos erros, para superdimensioná-los e mostrá-los à chefia. Mas
Humberto de Campos era um sujeito simpático, afável e humilde, desses que a gente
logo gosta assim que conhece. Não tardou, pois, em fazer amizades, e muitas,
sobretudo com escritores influentes e consagrados que trabalhavam no mesmo
jornal, como Coelho Neto, por exemplo, (que tem muito a ver com Campinas, por
haver sido professor do tradicional colégio “Culto à Ciência”). Ou como Emílio
de Menezes, a quem viria a suceder na cadeira de número 20 da Academia
Brasileira de Letras. Ou como o poeta Olavo Bilac, no auge do prestígio, quer
como escritor, quer como político, naqueles primeiros anos de República.
Humberto de Campos teve
o privilégio, ainda, de trabalhar ao lado de “figurões” como o jurista Ruy
Barbosa, que foi, por duas vezes, candidato à Presidência da República. Como o
crítico literário José Veríssimo. Como o poeta Vicente de Carvalho. Como o
historiador João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes, entre tantos, e tantos e
tantos outros. Se não fez amizade com eles, também nunca os teve como inimigos.
Essas “alianças” todas, se não foram o fator determinante para seu sucesso,
contribuíram bastante para ele. Fosse antipático e arredio, com certeza não
seria eleito, aos 39 anos de idade, para a Academia Brasileira de Letras. Não
venceria três eleições consecutivas para a Câmara de Deputados, representando o
Maranhão. Não seria aclamado, em votação popular, como “Príncipe dos Prosadores
Brasileiros”. Claro que seu talento foi decisivo. Sem dúvida, sua
extraordinária produtividade foi fator muito importante em seu favor. Todavia,
se fosse um sujeito arrogante, antipático e negativo, desses que encaram a
todos sempre com duas pedras na mão (como se diz no popular), ficaria pelo
caminho, como tantos outros (alguns provavelmente até melhores do quer ele)
ficaram.
É verdade que muitos
medíocres, com pouco talento ou mesmo sem nenhum, não raro conseguem obter
sucesso em suas respectivas atividades. Como?
Na base da bajulação aos superiores, de sucessivas intrigas e de
conchavos com outros “perdedores”. Cansei de ver isso acontecer. Todavia, estes
não duram muito tempo no topo. Mais cedo ou mais tarde, acabam derrubados de
seu pedestal pela própria mediocridade; Afinal, “ninguém consegue enganar a
todos todo o tempo”. E a queda, quando vem, é fragorosa e irreversível.
Sem a capacidade de
promover alianças, sem importantes apoios e sem um mínimo de reconhecimento,
dificilmente se consegue chegar a algum lugar de destaque. Pode acontecer,
óbvio, e às vezes até acontece. Mas não conheço nenhum caso desses, seja em que
atividade for. É verdade que a doença teve profunda e negativa influência no
comportamento de Humberto de Campos. É até compreensível. Ainda assim, quando
morreu, ele estava no auge do prestígio e da popularidade, Uma publicação
póstuma, no entanto, poria por terra
tudo o que conquistou em vida com tanto empenho e trabalho. Foi a divulgação de
seu “Diário Secreto”, em forma de livro, em dois volumes (publicados,
inicialmente, em fascículos, pela revista “O Cruzeiro”), fato este que merece
todo um capítulo a parte, que me proponho a tratar em um próximo texto.
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