Sunday, November 13, 2016

Mercado mostra sintomas de "doença"


Pedro J. Bondaczuk


As bolsas de valores das principais potências econômicas ocidentais estão lembrando muito, com suas oscilações, uma pessoa que esteja próxima da loucura. Sucedem períodos de grande euforia, com outros de intensa depressão, o que, seja qual for o motivo (e analistas têm apresentado razões diversas, algumas aparentemente estapafúrdias) é um sintoma de doença. Lembram as reações de um viciado em drogas, que quando está sob o efeito do estupefaciente, fica todo agitado, "elétrico", como se costuma comparar. Findo o efeito do tóxico, no entanto, deprime-se ao extremo, tornando-se até intratável. A "cocaína" das bolsas, ao que tudo indica, é o imenso déficit do governo norte-americano, que vem sendo financiado, basicamente, pela Alemanha Ocidental e pelo Japão.

Já no início deste ano, quando o dólar despencou nos mercados de câmbio mundiais, economistas de peso previram algo semelhante ao que está acontecendo. Alguns foram ainda mais longe e prognosticaram a proximidade de uma depressão mundial mais severa do que a da década de 1930.

As grandes potências, contudo, conseguiram um acordo para garantir a sustentação da moeda norte-americana, não sem antes ter havido uma enxurrada de críticas e recriminações a Bonn e a Tóquio, que estariam mantendo juros propositalmente altos para desestimular o consumo interno e com isso fechar as portas aos produtos de "Tio Sam".

O doloroso em tudo isso que está ocorrendo é que as pessoas mais humildes, que muitas vezes passaram a vida toda juntando algumas economias para uma velhice tranqüila e dar estabilidade às suas famílias, é que acabam sendo as mais afetadas. É certo que no mundo dos negócios os sentimentos têm que ser excluídos. Mas deve ser uma experiência terrível, realmente apavorante, acontecer, nos anos da aposentadoria, o que ocorreu com Vernon Lamberg, por exemplo, que em questão de poucas horas viu US$ 500 mil virarem fumaça.

Há quem tenha estrutura para se refazer de uma queda dessas e retomar tudo do princípio. Mas nem todos possuem tamanha frieza. E não se trata de apego a algo volátil como o dinheiro (principalmente nestes tempos estranhos, em que o imprevisível está acontecendo com tormentosa freqüência).

Trata-se, muitas vezes, do esforço de uma vida que acaba sendo posto a perder nas idas e vindas dos acertos e desacertos (mais estes do que aqueles) das várias políticas econômicas postas em prática. Não é novidade para ninguém que as bolsas são como um jogo. Quem entra nelas, deve entender, no mínimo, o seu mecanismo.

É como um "pôquer", que exige sangue frio, principalmente na hora do blefe. Mas uma catástrofe como a do dia 19 passado bem que mereceu o apelido que os norte-americanos lhe deram: "Meltdown", ou seja, um reator nuclear fundido. E este pode causar até uma "Síndrome da China" econômica.


(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 28 de outubro de 1987)

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