Mercado mostra sintomas de
"doença"
Pedro J. Bondaczuk
As
bolsas de valores das principais potências econômicas ocidentais estão
lembrando muito, com suas oscilações, uma pessoa que esteja próxima da loucura.
Sucedem períodos de grande euforia, com outros de intensa depressão, o que,
seja qual for o motivo (e analistas têm apresentado razões diversas, algumas
aparentemente estapafúrdias) é um sintoma de doença. Lembram as reações de um
viciado em drogas, que quando está sob o efeito do estupefaciente, fica todo
agitado, "elétrico", como se costuma comparar. Findo o efeito do
tóxico, no entanto, deprime-se ao extremo, tornando-se até intratável. A
"cocaína" das bolsas, ao que tudo indica, é o imenso déficit do
governo norte-americano, que vem sendo financiado, basicamente, pela Alemanha
Ocidental e pelo Japão.
Já
no início deste ano, quando o dólar despencou nos mercados de câmbio mundiais,
economistas de peso previram algo semelhante ao que está acontecendo. Alguns
foram ainda mais longe e prognosticaram a proximidade de uma depressão mundial
mais severa do que a da década de 1930.
As
grandes potências, contudo, conseguiram um acordo para garantir a sustentação
da moeda norte-americana, não sem antes ter havido uma enxurrada de críticas e
recriminações a Bonn e a Tóquio, que estariam mantendo juros propositalmente
altos para desestimular o consumo interno e com isso fechar as portas aos
produtos de "Tio Sam".
O
doloroso em tudo isso que está ocorrendo é que as pessoas mais humildes, que
muitas vezes passaram a vida toda juntando algumas economias para uma velhice
tranqüila e dar estabilidade às suas famílias, é que acabam sendo as mais
afetadas. É certo que no mundo dos negócios os sentimentos têm que ser
excluídos. Mas deve ser uma experiência terrível, realmente apavorante,
acontecer, nos anos da aposentadoria, o que ocorreu com Vernon Lamberg, por
exemplo, que em questão de poucas horas viu US$ 500 mil virarem fumaça.
Há
quem tenha estrutura para se refazer de uma queda dessas e retomar tudo do
princípio. Mas nem todos possuem tamanha frieza. E não se trata de apego a algo
volátil como o dinheiro (principalmente nestes tempos estranhos, em que o
imprevisível está acontecendo com tormentosa freqüência).
Trata-se,
muitas vezes, do esforço de uma vida que acaba sendo posto a perder nas idas e
vindas dos acertos e desacertos (mais estes do que aqueles) das várias
políticas econômicas postas em prática. Não é novidade para ninguém que as
bolsas são como um jogo. Quem entra nelas, deve entender, no mínimo, o seu
mecanismo.
É
como um "pôquer", que exige sangue frio, principalmente na hora do
blefe. Mas uma catástrofe como a do dia 19 passado bem que mereceu o apelido
que os norte-americanos lhe deram: "Meltdown", ou seja, um reator
nuclear fundido. E este pode causar até uma "Síndrome da China"
econômica.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 28 de outubro de
1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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