A infinita curiosidade
do homem
Pedro
J. Bondaczuk
A curiosidade humana é
infinita e é ela, ao lado da necessidade, que nos fez ser o que somos. Já
enfatizei um sem número de vezes que, se excetuarmos nossa capacidade de
compreensão e de raciocínio, genericamente chamada de razão, somos um dos
animais mais frágeis e desvalidos, dos tantos que habitam a Terra. Todavia,
essa característica única com que fomos dotados, a de pensar, nos permite
superar nossas fraquezas e vulnerabilidades, sobreviver e, mais do que isso,
evoluir em todos os sentidos, ou quase todos e nos tornarmos senhores da
natureza, pelo menos neste pequeno planeta de um ínfimo sistema planetário de
uma estrela de quinta grandeza. Ainda não evoluímos, todavia, o suficiente para
substituir nosso egoísmo latente e nossos instintos mais primitivos para, em vez de competirmos uns com os
outros, cooperarmos entre nós. Mas... esta é outra história, que requer
considerações mais profundas e demoradas do que as que me proponho as fazer
nestas breves e descompromissadas reflexões.
Entre as tantas
questões que espicaçam nossa curiosidade, certamente a mais intrincada, por
motivos compreensíveis, ou seja, pela ausência de provas cabais que fundamentem
as várias teorias que elaboramos, está a das origens. Está aí a “mãe de todas
as ciências”, que é a Filosofia, para comprovar isso. É ela que nos faz tentar
responder o que desconfio que não tenha resposta, que são as perguntas
fundamentais que, volta e meia, tenho trazido obsessivamente à baila, a exemplo
do que milhões e milhões de pensadores muito mais eruditos, preparados e
geniais do que eu já fizeram, fazem e
com certeza ainda farão enquanto nossa espécie existir: O que sou? De onde
venho? Para onde vou? Por que existo? E vai por aí afora.
Não são só estas,
óbvio, as questões que homens de todas as partes e todos os tempos buscam, em
vão, responder. É o tal negócio: uma pergunta puxa outra, e mais outra e mais
outra e as indagações se tornam praticamente infinitas. Teorias e mais teorias
são construídas, derrubadas, substituídas por novas em virtude de algumas
descobertas, mas saber, saber de verdade, sem ter que recorrer a fantasias e
especulações, ninguém sabe. Por exemplo, sobre a origem do homem, as opiniões
variam, dependendo da formação e da atividade de quem opina. Perguntem a um
biólogo e ele, certamente, terá sua posição, com os respectivos argumentos para
fundamentá-la. Já a tese do teólogo será, com toda a certeza, bastante
diferente, acompanhada da respectiva tentativa de fundamentação.
O leigo, por seu turno,
desses que “pensam” nem que seja só um pouquinho (o que nem todos fazem) não
apresentará teoria alguma a respeito. Apoiará, em vez disto, esta ou aquela já
existente, de acordo com sua intuição pessoal, interesse e preferência que nem
sempre saberá explicar. Ademais, a imensa maioria, talvez 90% ou mais dos cerca
de 7,3 bilhões de habitantes do Planeta nunca pensou e dificilmente pensará
nisso. Estes limitam-se a viver, quando não meramente a “sobreviver”.
Preocupam-se, apenas, com o trivial, no entanto essencial, ou seja, com o
alimento, abrigo, vestimenta etc.etc,etc. e com formas de garantir tudo isso no
dia a dia. Não pensam, reitero, em propriamente “viver”, no sentido mais
grandioso da vida, explorando ao máximo o potencial de entendimento com
que foram dotados, mas somente em
“sobreviver” como possam, agindo dessa forma não em virtude do raciocínio, mas
somente do puro instinto. Estão certos? Estão errados? Quem sabe?
Quando o homem “surgiu”
na Terra? Como se deu esse “surgimento”? Quando ele ocorreu? O biólogo
responderá de uma forma e o teólogo de outra. E mesmo eles não responderão da
mesma maneira que seus companheiros de atividade. Determinada corrente dirá que
foi “assim”, outra responderá que foi “assado”, cada qual fazendo de sua teoria
um dogma, que é o caminho mais inadequado para a busca da verdade. Nem as
religiões se entendem sobre a questão. Os judeus e os cristãos, por exemplo,
dirão que Deus criou o primeiro casal, Adão e Eva, no ato final do processo de
criação do universo, que teria durado apenas sete dias e teria ocorrido há
somente em torno de sete mil anos. Já os budistas terão outra explicação, o
mesmo ocorrendo com hinduístas, bramanistas etc.etc.etc. Quem está certo? Quem
está errado? Como saber? Ninguém sabe e duvido que algum dia alguém o saiba.
Hoje, por exemplo, a
“Ciência”, ou o que se convencionou chamar como tal, afirma (com certa overdose
de empáfia e de arrogância), que o universo inteiro surgiu há 14,6 bilhões de
anos terrestres de um tal de Big Bang. Que o Sistema Solar, e por conseqüência
a Terra, tem por volta de 4,8 bilhões de anos terrestres e que em cerca de
outros 4 bilhões e tanto de anos o Sol esgotará todo seu potencial de energia e
que então será o fim dele e de todos os planetas que o orbitam. Mas as coisas
foram e são mesmo assim? Não são? Como saber (mas saber de fato e não apenas
especular e nem teorizar)? Onde quero chegar com todo esse meu bla-blá-blá? Que
podemos crer em uma ou em outra tentativa de explicação, mas sem jamais dogmatizar
nenhuma delas. Ou seja, devemos sempre deixar um espaço para a dúvida razoável
que, ao contrário do que os fanáticos apregoam, não significa falta de fé, mas
a distinção sábia entre esta e a mera superstição.
Quem tem tempo,
preparo, conhecimento e disposição para exercer sua capacidade de raciocínio,
deve continuar pesquisando, raciocinando, procurando responder a essas questões
que espicaçam nossa curiosidade, sem se apegar fanaticamente às suas eventuais
convicções, achando que elas sejam a “verdade”. Podem até ser, mas só teremos
certeza que são se tivermos provas cabais sobre o que cremos, o que, ainda,
ninguém tem. Terá algum dia? Como saber? Da minha parte, acredito que não,
baseado na pequenez e na efemeridade humanas face à imensidão do universo. Não
faço, contudo, nenhum dogma disso, ciente de que posso estar completamente
errado sobre tudo aquilo em que creio. O que, no entanto, não me impede de
seguir matutando a respeito, pelo menos enquanto tiver capacidade e lucidez
para isso, sem, contudo, fazer proselitismo e nem ser prosélito de
ninguém.
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