Imposto inflacionário
Pedro J. Bondaczuk
A questão da inflação no Brasil
lembra muito aquela perguntinha, que os professores de Biologia fazem nas
escolas, quando querem provocar os alunos: “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a
galinha?”. As contas do governo são deficitárias por causa da inflação ou esta
teima em resistir em virtude da necessidade freqüente da cobertura dos rombos
de caixa do Estado, através de emissões de moeda sem lastro?
Este círculo-vicioso precisa ser
rompido, e logo, em algum ponto, para que o Brasil volte a ser um país viável.
Na atual conjuntura, por maior que seja o nosso patriotismo, não é. A situação
em que nos encontramos está nos derrubando para posições cada vez mais baixas
na escala internacional de qualidade de
vida. Principalmente, nos indicadores sociais.
Todos os anos, os tecnocratas do
Planalto engendram medidas tapa-buracos para financiar a ainda pesadíssima e
ineficiente máquina burocrática. Ora a investida se dá no bolso do contribuinte
do Imposto de Renda pessoa física, ora são as empresas que são arrochadas para
se fazer caixa, ora são todos os brasileiros, indistintamente, que pagam a
conta, como está prestes a ocorrer agora com o malfadado imposto do cheque, em
vias de ser aprovado pelo Congresso.
O equilíbrio fiscal pode se dar
por duas pontas: o aumento da receita e a redução de despesas. O ideal seria a
ocorrência simultânea das duas possibilidades, via crescimento da produção e
consumo, e austeridade governamental. Entre nós, isto continua sendo utopia.
Este remendo tributário que se
está engendrando acabará dando resultados idênticos às alquimias tentadas
antes. Ou seja, o excesso de arrecadação obtido com o Imposto Provisório sobre
Movimentação Financeira (e quem garante a sua provisoriedade?) será,
fatalmente, corroído pela inflação, que mudou de patamar desde o fim de 1992 e
dificilmente irá retroceder para o degrau anterior, já intolerável, dos 21% ou
22%.
A criação do IPMF, portanto, é
inócua, economicamente, e politicamente desastrada. O fantasma inflacionário
que ronda o País permanentemente desde 1982, quando o Brasil caiu na real de
que o decantado “milagre” foi, na verdade, uma farsa, é altamente corruptor.
O professor Eduardo Gianetti da
Fonseca, no ensaio “Ética e inflação” publicado no “Braudel Papers” número um –
documento do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial – constata: “A
confusão e falta de transparência das contas públicas deixa não apenas o Estado
extremamente vulnerável à ação dos corruptos, como abre também incontáveis
janelas para o uso privado (e impune) da máquina estatal. O outro lado da mesma
moeda é o declínio da moralidade fiscal no setor privado. Isso ocorre, em larga
medida, em função da própria exacerbação do conflito e de desconfiança em
relação ao Estado, provocada pelo recolhimento compulsório do imposto
inflacionário”.
A inflação é o mais injusto dos
tributos para os que têm baixa renda. Os cidadãos de maior poder aquisitivo têm
a “ciranda financeira” para proteger seu capital e ainda faturar algum lucro em cima. E o trabalhador? E
quem é obrigado a viver com um salário-mínimo de Cr$ 1.270.000 mensais? A ele
cabem todos os ônus e nenhuma vantagem por parte do governo, que é exercido em
seu nome.
(Artigo publicado na página 2,
Opinião, do Correio Popular, em 19 de fevereiro de 1993).
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