Tuesday, November 08, 2016

Outro fator de risco



Pedro J. Bondaczuk


A sucessão de erros, verificada nos últimos tempos, na manipulação e armazenamento de material radioativo ainda pode vir a provocar uma tragédia de proporções bem maiores do que o desastre com a usina nuclear soviética de Chernobyl, na Ucrânia, ocorrido em 26 de abril de 1986.

Naquela oportunidade, 31 pessoas morreram e cerca de 400 sofreram graves exposições à radiação, tendo que ser internadas em hospitais. No corrente ano, nós, brasileiros, tivemos o dissabor de nos vermos às voltas com um acidente que, proporcionalmente à fonte causadora, acabou gerando até mais vítimas do que no caso russo. Afinal, na URSS foi todo um reator, de grande porte, que explodiu, lançando uma nuvem radiativa para a atmosfera que chegou a dar a volta ao mundo.

Em Goiânia, entretanto, a cápsula de césio (manipulada por leigos) era do tamanho de um parafuso médio. E produziu mais de 10% dos mortos de Chernobyl. Agora, uma usina iraniana acaba de ser bombardeada. Mas as autoridades persas garantiram que material radiativo (de grande periculosidade, portanto) está estocado nessa unidade.

Para ocorrer um vazamento fatal basta, somente, o dedo do acaso. E é bom que se frise que por mais competência que venham a ter os técnicos do Irã e os engenheiros alemães ocidentais que os assessoram, eles estão dezenas de anos-luz de distância, em termos de competência, dos seus colegas soviéticos de Chernobyl.

Afinal, na URSS, quase 20% de toda a eletricidade consumida no país é de origem atômica. É claro que os russos, por conseqüência, devem ter desenvolvido um know-how de segurança, ainda mais após a amarga experiência que eles tiveram em abril do ano passado.

Aos inúmeros perigos representados por esta guerra estúpida que se desenrola, há sete anos, no Golfo Pérsico, se soma mais este, muito pior do que um eventual fechamento do Estreito de Ormuz por parte dos iranianos ou uma extensão do conflito às monarquias moderadas da região.

Se uma simples cápsula de césio 137 causou tanta desgraça em Goiânia, imagine o leitor o que poderia ocorrer com toneladas de plutônio (ou seja lá que combustível ou dejeto nuclear que a República Islâmica possua) caso sua radiação venha a vazar!

Uma fonte energética tão preciosa quanto esta, por conseguinte, está se transformando em causa de pavor para a humanidade. E não somente quando usada para fins bélicos, como acontecia até não faz muito tempo, mas agora, também, quando utilizada para fins pacíficos.

Entregar esse tipo de material a países com tamanha instabilidade, como o Irã e o Iraque (que também tem um reator, já bombardeado por Israel) é o mesmo que dar uma granada, ou um vidro com nitroglicerina, para uma criança brincar!

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 18 de novembro de 1987)


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