Outro
fator de risco
Pedro J. Bondaczuk
A sucessão de erros, verificada nos últimos tempos,
na manipulação e armazenamento de material radioativo ainda pode vir a provocar
uma tragédia de proporções bem maiores do que o desastre com a usina nuclear
soviética de Chernobyl, na Ucrânia, ocorrido em 26 de abril de 1986.
Naquela oportunidade, 31 pessoas morreram e cerca de
400 sofreram graves exposições à radiação, tendo que ser internadas em
hospitais. No corrente ano, nós, brasileiros, tivemos o dissabor de nos vermos
às voltas com um acidente que, proporcionalmente à fonte causadora, acabou
gerando até mais vítimas do que no caso russo. Afinal, na URSS foi todo um
reator, de grande porte, que explodiu, lançando uma nuvem radiativa para a
atmosfera que chegou a dar a volta ao mundo.
Em Goiânia, entretanto, a cápsula de césio
(manipulada por leigos) era do tamanho de um parafuso médio. E produziu mais de
10% dos mortos de Chernobyl. Agora, uma usina iraniana acaba de ser
bombardeada. Mas as autoridades persas garantiram que material radiativo (de
grande periculosidade, portanto) está estocado nessa unidade.
Para ocorrer um vazamento fatal basta, somente, o
dedo do acaso. E é bom que se frise que por mais competência que venham a ter
os técnicos do Irã e os engenheiros alemães ocidentais que os assessoram, eles
estão dezenas de anos-luz de distância, em termos de competência, dos seus
colegas soviéticos de Chernobyl.
Afinal, na URSS, quase 20% de toda a eletricidade
consumida no país é de origem atômica. É claro que os russos, por conseqüência,
devem ter desenvolvido um know-how de segurança, ainda mais após a amarga
experiência que eles tiveram em abril do ano passado.
Aos inúmeros perigos representados por esta guerra
estúpida que se desenrola, há sete anos, no Golfo Pérsico, se soma mais este,
muito pior do que um eventual fechamento do Estreito de Ormuz por parte dos
iranianos ou uma extensão do conflito às monarquias moderadas da região.
Se uma simples cápsula de césio 137 causou tanta
desgraça em Goiânia, imagine o leitor o que poderia ocorrer com toneladas de
plutônio (ou seja lá que combustível ou dejeto nuclear que a República Islâmica
possua) caso sua radiação venha a vazar!
Uma fonte energética tão preciosa quanto esta, por
conseguinte, está se transformando em causa de pavor para a humanidade. E não
somente quando usada para fins bélicos, como acontecia até não faz muito tempo,
mas agora, também, quando utilizada para fins pacíficos.
Entregar esse tipo de material a países com tamanha
instabilidade, como o Irã e o Iraque (que também tem um reator, já bombardeado
por Israel) é o mesmo que dar uma granada, ou um vidro com nitroglicerina, para
uma criança brincar!
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 18 de novembro de 1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment