Sol novo a cada dia
Pedro J.
Bondaczuk
A maioria das pessoas (umas mais, outras menos) tem a
insensatez de, ou se preocupar demais com o futuro – esse tempo vago, que ainda
não aconteceu (e para muitos, não vai acontecer jamais) – ou com o passado –, que
não pode mais ser modificado –, embora alguns dos erros cometidos (não todos)
possam, eventualmente, ser reparados.
Ficamos aflitos, por exemplo (não sem razão, convenhamos),
quando estamos desempregados e somos impedidos, dessa forma,. de fazer o que mais
gostamos e/ou mais sabemos. Fora, evidentemente, a frustração de não poder
prover nosso sustento e o da nossa família. É uma situação, infelizmente,
bastante comum nessa época dita de globalização econômica, a que a maioria das
pessoas está cada vez mais sujeita. Um dos efeitos mais perversos do
desemprego, talvez maior do que o econômico, é a queda, quando não a supressão
da auto-estima.
Mais prudente e prático, porém, em vez de nos entregarmos
à aflição, à indolência e ao desespero, é arregaçarmos as mangas e partirmos
para a luta. É buscarmos soluções, se não definitivas, pelo menos emergenciais.
É persistirmos, persistirmos e persistirmos, teimosa e reiteradamente, sempre,
sem descanso e sem desânimo face aos percalços e obstáculos desse dia, ou do
vindouro, ou de outros tantos do porvir. Amanhã tudo pode ser diferente, talvez
com a providencial ajuda do acaso. O que temos a fazer é revermos a estratégia
e mudá-la, quando ela se mostrar ou improdutiva, ou então inconveniente para a
conquista dos nossos objetivos.
Há quem insista em ficar refém do passado, como se a vida
houvesse acabado, tanto diante de algum fracasso, como se tudo estivesse
irremediavelmente perdido; quanto face ao sucesso, julgando que sua cota de
contribuição à sociedade já esteja cumprida e não haja mais nada a fazer. As
duas situações são equivocadas. A luta do homem, as suas obrigações e obras, só
terminam com a morte. E esta (felizmente) não sabemos como, onde e
principalmente quando vai acontecer. Tanto pode ser várias décadas à frente, quanto no segundo
seguinte. Nossa obrigação só expira com
nosso último suspiro.
Quem age dessa forma omissa, e até covarde (e não são
poucos), deixa de viver plenamente as alegrias do presente. Perde a preciosa
chance (talvez a última, talvez a única) de tentar mudar (para melhor,
evidentemente) uma realidade adversa, ou nem sempre (quase nunca?) de acordo
com as expectativas. Cada novo dia, porém, é uma oportunidade que a vida nos
dá.
É uma possibilidade – iminente ou remota, não importa –,
de tentarmos realizar os nossos projetos, de concretizarmos o nosso adormecido
e inexplorado potencial, de surpreendermos o mundo e de, assim, mudarmos
situações que nos sejam, ou pelo menos pareçam, negativas. Afinal, as
aparências vivem a nos pregar peças e a enganar nossos sentidos (até mesmo o
nosso intelecto).
Jorge Luís Borges indaga, com pertinência, a propósito:
“Que é o nosso passado, senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver
entre recordar sonhos e recordar o passado?”. Sim, que diferença existe? Em
termos práticos, nenhuma!
Fernando Pessoa, por seu turno, em sua “Ode de Ricardo
Reis – I”, nos dá a “fórmula de grandeza”:
“Para ser grande, sê
inteiro: nada
teu exagera ou
exclui.
Sê todo em cada
coisa.
Põe quanto és
no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a
lua toda
brilha, porque alta
vive”.
Integridade! Este é o segredo dos vencedores! Claro que,
sendo íntegros, não temos nunca a certeza da vitória! Nunca se tem! Mas,
“escondendo-nos” no passado, ou nos limitando a “sonhar” com o futuro, podemos
estar certos de uma coisa: o fracasso será fatal!
Erich-Marie Remarque acentua, na
boca de uma personagem, em seu romance “O Obelisco Negro”: “Morremos um pouco
cada dia, mas cada dia também já vivemos um pouco mais”. E Morris West nos lembra,
no livro “O Verão do Lobo Vermelho”: “...É assim que as coisas mais importantes
acontecem em nossas vidas. Seguimos através de raciocínios, fantasias, medos,
frustrações, vastos e desolados hectares de tempo em que nada se faz. Então, um
belo dia, o médico chega e diz que estamos morrendo ou a moça vem e diz que
está grávida ou que a bolsa caiu de repente e estamos pobres ou um avião cai do
céu e nós morremos e temos de comparecer a julgamento sem os nossos
apontamentos”.
A imprevisibilidade, destaque-se,
é a marca registrada da vida. O que não podemos e muito menos devemos é
desanimar, ou, o que é pior, nos entregar à indolência. Afinal, um sol novo
nasce a cada dia...
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