Thursday, April 02, 2015


Vão sobrar só 3 ditaduras


Pedro J. Bondaczuk


A América do Sul, a partir de março de 1990 (se não ocorrer nenhuma surpresa de última hora) vai viver um momento ímpar de sua história: não terá um único país com presidente que não tenha sido eleito diretamente pela população.

R no restante do hemisfério, restarão somente três Repúblicas vivendo sob ditadura, uma de esquerda, outra de direita e a terceira chamaríamos de “oportunística”: Cuba e Haiti, ambos Estados insulares do Caribe, e o Panamá, na América Central.

Os demais, bem ou mal, contarão com governantes consagrados pelas urnas. É certo que em algumas sociedades nacionais o voto ainda não é levado a sério. Os pleitos são eivados de fraudes e de toda a sorte de irregularidades. Mas o simples ato de votar tem, intrinsecamente, uma função didática. Com o tempo, de tanto exercitar-se, o eleitorado vai adquirir consciência democrática e saber fazer respeitar a sua vontade.

Em dois dos casos, que se constituem em exceções, há, embora remotamente, perspectivas eleitorais para 1990. O general haitiano Prosper Avril, que no início do corrente ano escapou de duas tentativas golpistas diferentes no prazo de uma semana, prometeu devolver o poder aos civis até novembro do próximo ano.

Embora não se possa fiar muito em promessas num país que tem o retrospecto como o seu, não deixa de ser uma esperança. Quanto ao Panamá, onde Francisco Rodriguez preside, provisoriamente, como preposto do homem-forte local, general Manuel Antonio Noriega, após a farsa eleitoral que lá ocorreu há pouco, há, também, promessas. Muito vagas, é verdade. E principalmente não confiáveis. Mas quem sabe essa República, ficando ilhada no hemisfério, saiba finalmente encontrar o caminho democrático que há tanto tempo procura.

Sem nenhuma possibilidade, por enquanto, de sucessão, sobraria apenas Cuba, onde Fidel Castro já é o detentor do recorde de tempo de governo nas Américas, depois da deposição de Alfredo Stroessner no Paraguai, em 4 de fevereiro passado.

O barbudo líder cubano perde, na atualidade, entre os que ainda estão no poder no mundo, apenas para o presidente da Coréia do Norte, Kim Il Sung. Por isso, por se tratar de algo inusitado para a América Latina, imersa numa crise sem precedentes, de ordem econômica, social e até moral (com a região andando para trás ao invés de desenvolver-se, correndo o risco de se tornar mais atrasada até mesmo do que a África e determinadas áreas da Ásia), o fato da democracia estar desabrochando entre nós é algo para ser destacado.

E, sobretudo, protegido, pois somente num clima de liberdade e de multiplicidade de opiniões os latino-americanos poderão ter alguma chance, mesmo que muito pequena, de sair da enrascada em que estão metidos.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 8 de dezembro de 1989).


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