Vão sobrar só 3 ditaduras
Pedro J.
Bondaczuk
A América do Sul, a partir de março de 1990 (se não
ocorrer nenhuma surpresa de última hora) vai viver um momento ímpar de sua
história: não terá um único país com presidente que não tenha sido eleito
diretamente pela população.
R no restante do hemisfério,
restarão somente três Repúblicas vivendo sob ditadura, uma de esquerda, outra
de direita e a terceira chamaríamos de “oportunística”: Cuba e Haiti, ambos
Estados insulares do Caribe, e o Panamá, na América Central.
Os demais, bem ou mal, contarão
com governantes consagrados pelas urnas. É certo que em algumas sociedades
nacionais o voto ainda não é levado a sério. Os pleitos são eivados de fraudes
e de toda a sorte de irregularidades. Mas o simples ato de votar tem,
intrinsecamente, uma função didática. Com o tempo, de tanto exercitar-se, o
eleitorado vai adquirir consciência democrática e saber fazer respeitar a sua
vontade.
Em dois dos casos, que se
constituem em exceções, há, embora remotamente, perspectivas eleitorais para
1990. O general haitiano Prosper Avril, que no início do corrente ano escapou
de duas tentativas golpistas diferentes no prazo de uma semana, prometeu
devolver o poder aos civis até novembro do próximo ano.
Embora não se possa fiar muito em promessas num país que
tem o retrospecto como o seu, não deixa de ser uma esperança. Quanto ao Panamá,
onde Francisco Rodriguez preside, provisoriamente, como preposto do homem-forte
local, general Manuel Antonio Noriega, após a farsa eleitoral que lá ocorreu há
pouco, há, também, promessas. Muito vagas, é verdade. E principalmente não
confiáveis. Mas quem sabe essa República, ficando ilhada no hemisfério, saiba
finalmente encontrar o caminho democrático que há tanto tempo procura.
Sem nenhuma possibilidade, por
enquanto, de sucessão, sobraria apenas Cuba, onde Fidel Castro já é o detentor
do recorde de tempo de governo nas Américas, depois da deposição de Alfredo
Stroessner no Paraguai, em 4 de fevereiro passado.
O barbudo líder cubano perde, na atualidade,
entre os que ainda estão no poder no mundo, apenas para o presidente da Coréia
do Norte, Kim Il Sung. Por isso, por se tratar de algo inusitado para a América
Latina, imersa numa crise sem precedentes, de ordem econômica, social e até
moral (com a região andando para trás ao invés de desenvolver-se, correndo o
risco de se tornar mais atrasada até mesmo do que a África e determinadas áreas
da Ásia), o fato da democracia estar desabrochando entre nós é algo para ser
destacado.
E, sobretudo, protegido, pois
somente num clima de liberdade e de multiplicidade de opiniões os
latino-americanos poderão ter alguma chance, mesmo que muito pequena, de sair
da enrascada em que estão metidos.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 8
de dezembro de 1989).
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