Wednesday, April 08, 2015

Campanha agora deve pegar fogo


Pedro J. Bondaczuk


A campanha presidencial norte-americana, a partir desta convenção, que se realiza em Atlanta, na Geórgia, do Partido Democrata, deve, literalmente, pegar fogo. Os membros da agremiação, após oito anos de divisionismos e de falta de liderança, estão unidos.

Poucas vezes eles mostraram tamanha vontade de vencer, como agora, após um longo jejum, de oito anos, do poder. É claro que o outro lado não vai permanecer inerte, sem nada fazer para que os republicanos se mantenham na Casa Branca.

No calor dos comícios, certamente, o presidente Ronald Reagan deverá lançar todo o peso do seu enorme prestígio em favor de George Bush. É verdade que os vários escândalos da atual administração serão usados, com toda a certeza, como elementos muito importantes pelos democratas contra seu adversário.

Mas seria uma infantilidade não levar em conta o “punch” do atual mandatário, o seu verdadeiro carisma, que fez com que ele ultrapassasse virtualmente incólume o Rubicão do “Irangate”. Sua popularidade, na ocasião, chegou a sofrer ligeiros arranhões. Mas, a seguir, as duas reuniões de cúpula que ele realizou com Mikhail Gorbachev, após o auge do escândalo (a de dezembro de 1987 em Washington e a recente, em Moscou), restabeleceram essa simpatia a seu devido lugar, se é que não a aumentaram.

Até mesmo a população soviética ficou encantada com o veterano presidente, o mais velho da história norte-americana, mas que soube preservar um vigor e uma jovialidade que muitos, com a metade da sua idade, não têm.

Os democratas, desta feita, tentam repetir a mesma fórmula que deu certo em 1960, respeitando até mesmo a sua configuração geográfica. Escolheram para candidato um jovem, da Nova Inglaterra, do mesmo Estado de Massachusets de Kennedy, igualmente filho de imigrantes (só que gregos e não irlandeses como o assassinado ex-presidente) e que, para completar, com requintes de perfeição, a estratégia, também foi buscar para vice um conservador do Sul, do mesmo Texas de Lyndon Johnson, na figura do senador Lloyd Bentsen.

Ou seja, estão cutucando a onça com vara curta. Entraram com tudo no reduto de Bush, que considera esse Estado como a sua casa, do ponto de vista político. O partido, desta feita, conta com algo a mais, que nos últimos anos não contou. Com a garantia dos votos dos negros e dos hispânicos, assegurados pela liderança que o pastor Jesse Jackson exerce sobre essa comunidade.

É claro que nada disso é garantia para uma vitória, liquida e certa, diante de um eleitorado tão volúvel e caprichoso. Afinal, eleição, qualquer que seja, é loteria. Mas que ajuda, disto não se tem como duvidar.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 20 de julho de 1988).


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