Sunday, April 05, 2015

Programa caro e inútil


Pedro J. Bondaczuk


O projeto do presidente norte-americano, Ronald Reagan, denominado, oficialmente, de Iniciativa de Defesa Estratégica, mas que a imprensa apelidou de “Guerra nas Estrelas”, desperta controvérsias não apenas de caráter político, econômico ou militar. Há grandes e expressivas correntes de cientistas que duvidam que a moderna tecnologia – embora opere verdadeiros milagres em inúmeros campos – consiga colocar em prática aquilo que sequer foi equacionado na teoria.

O maior especialista em raios laser do país, Peter Hagelstein, considerado um gênio na matéria, abandonou, em 121 de setembro de 1986, o programa, para retornar à vida universitária. Na oportunidade, o ilustre e jovem professor de Física deu a entender que, com os conhecimentos atuais, é virtualmente impossível a criação do escudo espacial pretendido pelo presidente Ronald Reagan e estimulado pelo Pentágono.

Entretanto, anteontem, veio a lume que há tempos, paralelo com a IDE, outro projeto armamentista, secretíssimo, esteve em desenvolvimento todos estes anos: o Prometheus, cujas pesquisas ocorreram sem o conhecimento sequer do Congresso norte-americano.

Ele estaria centralizado num canhão magnético, utilizando energia cinética, indispensável para a “guerra nas estrelas”. Admitamos que a Iniciativa de Defesa Estratégica seja factível. Que, conforme desejo do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, ele venha a ser instalado já nos próximos quatro anos, a um custo, apenas para a construção do equipamento necessário – sem contar a sua montagem – que ascende à estonteante cifra de US$ 3,1 trilhões, praticamente a totalidade do Produto Interno Bruto da potência mais rica do Planeta.

Qual a valia desse sistema se, mesmo com esse absurdo gasto (que daria para alimentar, vestir e prover educação para toda a humanidade, durante décadas, extinguindo, por conseqüência, com o estopim das guerras, guerrilhas e revoluções, que é a miséria), ele não conseguirá manter incólume o território norte-americano de um ataque nuclear?

Uma ogiva atômica, é bom que se esclareça, embora ao detonar possa destruir países inteiros, não é grande e nem volumosa. Pode ser transportada facilmente por um terrorista suicida. E não faltam malucos, com vocação para mártires, que se disponham a uma tarefa tão hedionda.

Bastaria que um único deles burlasse a vigilância da extensíssima fronteira dos EUA e entrasse com um artefato desse tipo, digamos, em Nova York, ou em Washington, nas proximidades da Casa Branca. E essas cidades sumiriam do mapa!

Numa eventualidade dessas, para que serviriam os sofisticados canhões de laser da “guerra nas estrelas”, ou os raios magnéticos, do recém-revelado projeto Prometheus? Segurança absoluta não se adquire a poder de dólares, por ser a utopia das utopias.

A própria vida está sob permanente risco, desde o instante em que o óvulo é fecundado. Ademais, o escudo espacial é um poderoso estimulante para o adversário, para que pesquise meios ainda mais sofisticados de furar o bloqueio defensivo do antagonista. E, com isso, trilhões e mais trilhões de dólares continuarão a ser queimados nestes perigosos e inúteis (além de macabros) brinquedinhos.

As mentes mais privilegiadas do Planeta estarão empenhadas por gerações neste jogo de xadrez diabólico, de ataque e defesa, desvirtuando, por completo, a finalidade da ciência. E tudo a troco do quê? De uma pueril demonstração de algo tolo e vão chamado de “poder”, que naquilo que é essencial ao homem, nada pode. Por exemplo, não livra ninguém das doenças, das angústias, das injustiças, da miséria e da morte. Aliás, apenas consegue abreviar a extinção, pois traz em si a suicida semente da destruição.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 24 de abril de 1987)

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