Programa caro e inútil
Pedro J.
Bondaczuk
O projeto do presidente norte-americano, Ronald Reagan,
denominado, oficialmente, de Iniciativa de Defesa Estratégica, mas que a
imprensa apelidou de “Guerra nas Estrelas”, desperta controvérsias não apenas
de caráter político, econômico ou militar. Há grandes e expressivas correntes
de cientistas que duvidam que a moderna tecnologia – embora opere verdadeiros
milagres em inúmeros campos – consiga colocar em prática aquilo que sequer foi
equacionado na teoria.
O maior especialista em raios
laser do país, Peter Hagelstein, considerado um gênio na matéria, abandonou, em
121 de setembro de 1986, o programa, para retornar à vida universitária. Na
oportunidade, o ilustre e jovem professor de Física deu a entender que, com os
conhecimentos atuais, é virtualmente impossível a criação do escudo espacial
pretendido pelo presidente Ronald Reagan e estimulado pelo Pentágono.
Entretanto, anteontem, veio a
lume que há tempos, paralelo com a IDE, outro projeto armamentista, secretíssimo,
esteve em desenvolvimento todos estes anos: o Prometheus, cujas pesquisas
ocorreram sem o conhecimento sequer do Congresso norte-americano.
Ele estaria centralizado num
canhão magnético, utilizando energia cinética, indispensável para a “guerra nas
estrelas”. Admitamos que a Iniciativa de Defesa Estratégica seja factível. Que,
conforme desejo do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, ele venha a ser
instalado já nos próximos quatro anos, a um custo, apenas para a construção do
equipamento necessário – sem contar a sua montagem – que ascende à estonteante
cifra de US$ 3,1 trilhões, praticamente a totalidade do Produto Interno Bruto
da potência mais rica do Planeta.
Qual a valia desse sistema se,
mesmo com esse absurdo gasto (que daria para alimentar, vestir e prover
educação para toda a humanidade, durante décadas, extinguindo, por
conseqüência, com o estopim das guerras, guerrilhas e revoluções, que é a
miséria), ele não conseguirá manter incólume o território norte-americano de um
ataque nuclear?
Uma ogiva atômica, é bom que se
esclareça, embora ao detonar possa destruir países inteiros, não é grande e nem
volumosa. Pode ser transportada facilmente por um terrorista suicida. E não
faltam malucos, com vocação para mártires, que se disponham a uma tarefa tão
hedionda.
Bastaria que um único deles
burlasse a vigilância da extensíssima fronteira dos EUA e entrasse com um
artefato desse tipo, digamos, em Nova York, ou em Washington, nas proximidades
da Casa Branca. E essas cidades sumiriam do mapa!
Numa eventualidade dessas, para
que serviriam os sofisticados canhões de laser da “guerra nas estrelas”, ou os
raios magnéticos, do recém-revelado projeto Prometheus? Segurança absoluta não
se adquire a poder de dólares, por ser a utopia das utopias.
A própria vida está sob
permanente risco, desde o instante em que o óvulo é fecundado. Ademais, o
escudo espacial é um poderoso estimulante para o adversário, para que pesquise
meios ainda mais sofisticados de furar o bloqueio defensivo do antagonista. E,
com isso, trilhões e mais trilhões de dólares continuarão a ser queimados
nestes perigosos e inúteis (além de macabros) brinquedinhos.
As mentes mais privilegiadas do
Planeta estarão empenhadas por gerações neste jogo de xadrez diabólico, de
ataque e defesa, desvirtuando, por completo, a finalidade da ciência. E tudo a
troco do quê? De uma pueril demonstração de algo tolo e vão chamado de “poder”,
que naquilo que é essencial ao homem, nada pode. Por exemplo, não livra ninguém
das doenças, das angústias, das injustiças, da miséria e da morte. Aliás,
apenas consegue abreviar a extinção, pois traz em si a suicida semente da
destruição.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 24
de abril de 1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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