Thursday, April 16, 2015

Estúpida dialética do terror


 Pedro J. Bondaczuk


O terrorismo está destinado a ser assunto ainda durante muitos e muitos anos, para sociólogos, jornalistas, ministros de Estado, chefes militares e líderes políticos, entre outros. A despeito de algumas estatísticas virem tentando impingir a idéia de que esta praga mundial está diminuindo, isto está longe da realidade.

É que tais levantamentos são feitos se levando em conta apenas vítimas norte-americanas e européias. De fato, os atentados contra cidadãos e bens deles caíram bastante nos últimos tempos, embora o verão, época em que atos extremistas ousados acontecem com maior freqüência no Hemisfério Norte, ainda sequer tenha começado ali.

Entretanto, mesmo no Velho Mundo, os ataques não pararam. Embora não estejam ocorrendo na França, na Itália, na Alemanha Ocidental, na Bélgica, na Holanda e na Grã-Bretanha, alvos prediletos dos terroristas em vista das controvérsias que eles julgam ter com esses países, os bascos e catalães, por exemplo, não estão dando tréguas aos espanhóis.

Ontem, mais um ato hediondo e covarde dessa espécie foi perpetrado, atingindo, desta vez, não autoridades do governo, ou seus representantes, como a organização sempre fazia. Os afetados foram civis despreocupados, que faziam compras em um shopping-center, quando tudo, de repente, pareceu voar pelos ares.

Ações violentas dessa espécie também não cessaram no Terceiro Mundo. Apenas nos últimos dias, tivemos ataques no Peru, na Venezuela e na Colômbia. E ontem, a casa de um importante analista econômico argentino, o jornalista Osvaldo Granados, foi dinamitada, não se sabe com que propósito.

Aliás, as autoridades desse país já admitem a sombria possibilidade do terrorismo ressurgir na Argentina, por causa da aprovação da controvertida lei da Obediência Devida, que se seguiu a uma anterior, de fins do ano passado, a do Ponto Final, reduzindo, em muito, os processos contra os militares que se excederam na repressão durante o período conhecido como “guerra suja”.

Além desses lugares, que dada a proximidade de nós despertam mais a nossa atenção, grupos separatistas vêm agindo em inúmeras outras partes, no afã de criar países que já nasceriam mortos caso o sonho desses utopistas se tornasse realidade, posto que surgiriam de atos de violência. E esta, como se sabe, é péssima conselheira.

Os tamis, do Sri Lanka, e os sikhs, do Estado indiano do Punjab, estão suprimindo vidas de pessoas que poderiam até apoiar as suas causas, eventualmente, caso elas fossem postuladas por outros canais mais civilizados. No entanto, os parentes dessas vítimas estarão sempre presentes diante das autoridades, exigindo justiça, senão vingança. Afinal, foram agredidos, com a perda de entes queridos, sem que tivessem feito sequer qualquer provocação.

Entretanto, é baldado qualquer esforço para conscientizar os fanáticos, que lançam mão do terror para reivindicar o que quer que seja, que esse não é o caminho mais indicado para a consecução dos seus objetivos. Os bascos, por exemplo, que já são vítimas de discriminação por uma parte da população espanhola (mesmo aqueles moderados, que entendem que a estratégia do entendimento não passa jamais pela confrontação), deverão pagar um preço muito alto pela inconseqüência de um grupo mais exaltado, que entende que os fins sempre justificam os meios que forem empregados para a sua consecução, quando a história está farta de exemplos de que as coisas não são assim. Afinal, como o povo sempre disse, na infinita sabedoria da sua simplicidade: “Quem semeia ventos, somente pode colher tempestades”.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 20 de junho de 1987).


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