Estúpida dialética do terror
O terrorismo está destinado a ser assunto ainda durante
muitos e muitos anos, para sociólogos, jornalistas, ministros de Estado, chefes
militares e líderes políticos, entre outros. A despeito de algumas estatísticas
virem tentando impingir a idéia de que esta praga mundial está diminuindo, isto
está longe da realidade.
É que tais levantamentos são
feitos se levando em conta apenas vítimas norte-americanas e européias. De
fato, os atentados contra cidadãos e bens deles caíram bastante nos últimos
tempos, embora o verão, época em que atos extremistas ousados acontecem com
maior freqüência no Hemisfério Norte, ainda sequer tenha começado ali.
Entretanto, mesmo no Velho Mundo,
os ataques não pararam. Embora não estejam ocorrendo na França, na Itália, na
Alemanha Ocidental, na Bélgica, na Holanda e na Grã-Bretanha, alvos prediletos
dos terroristas em vista das controvérsias que eles julgam ter com esses
países, os bascos e catalães, por exemplo, não estão dando tréguas aos
espanhóis.
Ontem, mais um ato hediondo e
covarde dessa espécie foi perpetrado, atingindo, desta vez, não autoridades do
governo, ou seus representantes, como a organização sempre fazia. Os afetados
foram civis despreocupados, que faziam compras em um shopping-center, quando
tudo, de repente, pareceu voar pelos ares.
Ações violentas dessa espécie
também não cessaram no Terceiro Mundo. Apenas nos últimos dias, tivemos ataques
no Peru, na Venezuela e na Colômbia. E ontem, a casa de um importante analista
econômico argentino, o jornalista Osvaldo Granados, foi dinamitada, não se sabe
com que propósito.
Aliás, as autoridades desse país
já admitem a sombria possibilidade do terrorismo ressurgir na Argentina, por
causa da aprovação da controvertida lei da Obediência Devida, que se seguiu a
uma anterior, de fins do ano passado, a do Ponto Final, reduzindo, em muito, os
processos contra os militares que se excederam na repressão durante o período
conhecido como “guerra suja”.
Além desses lugares, que dada a
proximidade de nós despertam mais a nossa atenção, grupos separatistas vêm
agindo em inúmeras outras partes, no afã de criar países que já nasceriam
mortos caso o sonho desses utopistas se tornasse realidade, posto que surgiriam
de atos de violência. E esta, como se sabe, é péssima conselheira.
Os tamis, do Sri Lanka, e os
sikhs, do Estado indiano do Punjab, estão suprimindo vidas de pessoas que
poderiam até apoiar as suas causas, eventualmente, caso elas fossem postuladas
por outros canais mais civilizados. No entanto, os parentes dessas vítimas
estarão sempre presentes diante das autoridades, exigindo justiça, senão
vingança. Afinal, foram agredidos, com a perda de entes queridos, sem que
tivessem feito sequer qualquer provocação.
Entretanto, é baldado qualquer
esforço para conscientizar os fanáticos, que lançam mão do terror para
reivindicar o que quer que seja, que esse não é o caminho mais indicado para a
consecução dos seus objetivos. Os bascos, por exemplo, que já são vítimas de
discriminação por uma parte da população espanhola (mesmo aqueles moderados,
que entendem que a estratégia do entendimento não passa jamais pela
confrontação), deverão pagar um preço muito alto pela inconseqüência de um
grupo mais exaltado, que entende que os fins sempre justificam os meios que
forem empregados para a sua consecução, quando a história está farta de
exemplos de que as coisas não são assim. Afinal, como o povo sempre disse, na
infinita sabedoria da sua simplicidade: “Quem semeia ventos, somente pode
colher tempestades”.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 20
de junho de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment