Pulitzer consagra o
escritor Anthony Doerr
Pedro
J. Bondaczuk
Os prêmios Pulitzer,
instituídos em 1917 por Joseph Pulitzer – que chegam, portanto, à sua 98ª
edição – acabam de ser divulgados nos
Estados Unidos, em suas 21 categorias. Embora eu seja jornalista (e ame minha
profissão), a mim interessa, sobretudo, a premiação literária, já que, óbvio,
este nosso espaço é voltado especificamente à Literatura. Portanto, tratarei,
especificamente, dela. E nela, seis escritores acabam de ser consagrados, dos
quais, apenas um é relativamente bem conhecido no Brasil. Refiro-me a Anthony
Doerr, que ganhou a medalha de ficção, por seu romance “All the lights we
cannot see”. Quem não o conhece ainda, terá a oportunidade de conhecê-lo. A
Editora Intrínseca, revelando grande agilidade e, por que não dizer, senso de
oportunidade (e um tantinho de sorte) acaba de publicar o livro premiado,
devidamente traduzido para o português, com o título “Toda luz que não podemos
ver”. Ponto para ela.
O romance em questão é
best-seller nos Estados Unidos. Não é, portanto, nenhuma surpresa ter valido um
Pulitzer ao autor. O curioso é que Anthony Doerr, nascido em Cleveland, no
Estado de Ohio, em 27 de outubro de 1973 (irá completar, portanto, neste ano,
42 anos de idade) não é, propriamente,
romancista. Não, pelo menos, preferencialmente. Ele é, por formação,
historiador, embora não tenha concorrido na categoria de História. Bem,
esclareço que a ficção não lhe é estranha. O livro premiado não é seu primeiro
romance. Tempos atrás, Doerr publicou “About Grace”, inédito no Brasil, que fez
até relativo sucesso. Lançou, também, dois volumes de contos, “The Shell
colector” e “Memory Wall”. Embora ainda bastante jovem, esse escritor conta, em
sua bibliografia, com o livro de memórias “Four seasons in Rome”.
A avaliação positiva,
quase unânime, da crítica ao seu romance premiado e, agora, a conquista do
Pulitzer, fazem de Anthony Doerr candidato quase que natural ao Prêmio Nobel de
Literatura. Bem, aí as coisas complicam um pouco, dada a existência de uma
infinidade de escritores já consagrados na “fila de espera”. Mas... nunca se
sabe o que se passa na cabeça dos jurados da Academia Sueca, aos quais cabe a atribuição
da premiação literária mais prestigiada, e também a mais polêmica do mundo.
“Toda luz que não
podemos ver” narra os caminhos de uma garota francesa cega e de um menino
alemão, que se encontram numa França ocupada pelos nazistas enquanto tentam sobreviver
à Segunda Guerra Mundial. Tão logo leia o romance, proponho-me a traçar
comentários estritamente pessoais, como sempre faço, a propósito. Por enquanto,
resta-me crer na competência e no bom gosto literário dos jurados que atribuem
o Pulitzer. Embora essa premiação tenha como objetivo principal reconhecer a
excelência em jornalismo nos Estados Unidos, os prêmios de caráter literário
conferem enorme prestígio aos ganhadores e lhes garantem polpudos contratos com
editoras.
Mas há outras cinco
categorias literárias nesse prêmio. A que gera maior expectativa nos círculos
de Literatura é a de poesia. E o ganhador deste ano foi o poeta, natural de
Filadélfia, na Pensilvânia, Gregory Pardlo, de 47 anos, pela obra “Digest”.
Como se vê, é a nova geração norte-americana de escritores conquistando seu
espaço, no saudável processo de renovação. O Pulitzer de teatro foi conferido
ao dramaturgo novaiorquino Stephen Adly Guirguis, pelo livro “Between Riverside
and crazy”. A jornalista nascida no Bronx, em Nova York, Elizabeth Kolbert, de
54 anos, foi a premiada na categoria de não-ficção, com a obra “The sixth
extinction: um unnatural history”.
A historiadora
Elizabeth A. Fenn, professora da “University of Colorado Boulder”, conquistou o
prêmio de História pelo livro “Encounters of the world: a history of the mandam
people”. Finalmente, o veterano biógrafo novaiorquino de 67 anos, David I.
Kertzer (nascido em 20 de fevereiro de 1948), foi o distinguido na categoria
Biografias. A obra que lhe valeu o prêmio é destas que gostaria de ler, por
envolver um personagem para lá de polêmico. O título é “"The Pope and
Mussolini: the secret history of Pius XI and the rise of fascism in
Europe". Afinal, tudo o que é secreto e que alguém se proponha a revelar,
sempre desperta interesse e, sem dúvida, tende a provocar muita polêmica. Creio
que seja o caso desse livro premiado de Kertzer.
A expectativa é a de
que as nossas editoras sejam tão ágeis como a Intrínseca foi em relação ao
romance de Anthony Doerr e adquiram os direitos de publicação no Brasil dos
outros livros premiados com o Pulitzer e os lancem o mais breve possível entre
nós. Afinal, diz a lógica, a própria premiação faz com que eles tenham o signo
da excelência e, portanto, do potencial sucesso de vendas.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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