Wednesday, April 01, 2015

Coragem e temeridade

Pedro J. Bondaczuk

A ousadia, ou seja, a coragem para fazer o que achamos adequado e, sobretudo, necessário, vale para quase tudo na vida, inclusive para os sentimentos. Muitas pessoas são infelizes e solitárias porque temem se expor. Secretamente, acalentam projetos de relacionamento. Mas vão adiando, adiando e adiando sua execução, na medida do seu medo, por temor de correr riscos. Findam solitárias e infelizes por receio de tentar. Poderiam se dar mal caso se arriscassem? Óbvio que sim. Contudo, o fracasso poderia ser minimizado, se não neutralizado, caso os riscos fossem calculados e as probabilidades de sucesso fossem, digamos, de pelo menos 50%.  Nesse aspecto, claro, não há fórmulas mágicas, soluções milagrosas ou respostas definitivas.

Para saber se a convivência com uma companheira vai dar certo, ou não, não existe outro caminho senão criar coragem, sobrepujar o medo e tentar. E, como tudo na vida, essa tentativa, insisto, envolve riscos de fracasso. Antes de tentarmos, pois, as chances de êxito ou de fracasso precisam ser, e criteriosamente, pesadas. É questão de prudência. Mas a tentativa, desde que inteligente e planejada tem, também, possibilidades de êxito. E nunca saberemos se dará certo ou não caso não tentemos. As pessoas (entre as quais, às vezes, me incluo), tendem a confundir coragem com temeridade. Arriscam-se em empreendimentos cujas chances de êxito são ínfimas, não raro nulas, apenas para provarem para terceiros (ou mesmo para elas próprias) que não têm medo. No fundo, no fundo, têm. Afinal, este é instintivo e não depende da nossa vontade.

Há, por exemplo, os que se propõem a praticar esportes radicais para os quais não estão habilitados, por razões que só eles sabem. Aliás, oponho-me a riscos inúteis desse tipo, que podem redundar (e geralmente redundam) em prejuízos físicos, em fraturas, contusões de toda espécie e, em casos extremos, em morte. Para mim, tecnicamente, essas atitudes temerárias não passam de tentativas de suicídio. Ademais, quais vantagens advirão desses riscos extremos? Ao fim e ao cabo, convenhamos, nenhuma! Quem age assim não é corajoso, como deseja ser encarado, mas temerário, para dizer o mínimo. Samuel Clemens, escritor norte-americano mais conhecido pelo pseudônimo que adotou (Mark Twain) definiu que "coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo".

Este – que na definição do psiquiatra, psicólogo e sociólogo espanhol Emílio Mira y Lopez é um dos "quatro gigantes da alma" (ao lado da ira, do amor e do dever) – quando físico e na dosagem correta, é um dos mais eficazes mecanismos de proteção do homem. É instintivo e protetor. Impede, por exemplo, que uma pessoa salte sem pára-quedas de grandes alturas, ou que coloque a mão no fogo e sofra queimaduras profundas, ou que enfrente com as mãos desarmadas uma fera selvagem e vai por aí afora. Em sua intensidade máxima, é conhecido como terror. Aí, torna-se nocivo. Tende a ficar incontrolável e deixa de proteger o indivíduo, para se transformar em agudo risco.

Mas há outra espécie de medo que é sempre negativa, por inibir o que temos de melhor: a criatividade. É o de assumir responsabilidades, de se expor, de produzir obras novas, de explorar campos desconhecidos em busca de novidades, de tentar estabelecer relacionamentos cujas chances sejam de quase 100% de darem certo e, em última análise, de viver em sentido pleno. É aí que entra o fator coragem. Cautela em excesso, ao contrário do que muitos pensam, é defeito e não virtude. Nosso medo de errar não deve chegar ao ponto de inibir nossas ações e de impedir que façamos o que quer que seja. A vida implica em riscos, em ousadia, em um quê de perpétua aventura. Só que não podemos confundir nunca, em circunstância alguma, coragem com temeridade.

Segurança absoluta não existe. Tudo o que fizermos, por mais bem-planejado que seja, sempre terá margem variável para o fracasso. Mark Twain observou: “Daqui a vinte anos você estará mais desapontado com as coisas que não fez do que com as que fez. Então jogue fora os limites. Navegue para longe do porto seguro. Sinta o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra”. Mas faça-o, eu acrescentaria, tendo em mente esta observação de Coelho Neto: "A intrepidez é do bravo, a temeridade é do louco". Não faça loucuras!

Pese, antes de agir, tanto a necessidade, quanto os benefícios e as chances de êxito do empreendimento arriscado que esteja prestes a iniciar, mesmo que inibido pelo medo natural gerado pela incerteza. Feito este balanço, e da forma mais meticulosa e realista possível, lance mão de sua coragem e vá em frente. Mas não a confunda com temeridade. Encare o medo em sua real perspectiva, ou seja, sem desprezá-lo e nem superestimá-lo. Feito isso, siga o conselho do escritor e orador norte-americano Dale Carnegie, homem inegavelmente bem-sucedido, por saber fazer, com sabedoria, essa distinção e essa opção: "Tente a sua sorte! A vida é feita de oportunidades. O homem que vai mais longe é quase sempre aquele que tem coragem de arriscar".


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: