Coragem e temeridade
Pedro
J. Bondaczuk
A ousadia, ou seja, a
coragem para fazer o que achamos adequado e, sobretudo, necessário, vale para
quase tudo na vida, inclusive para os sentimentos. Muitas pessoas são infelizes
e solitárias porque temem se expor. Secretamente, acalentam projetos de
relacionamento. Mas vão adiando, adiando e adiando sua execução, na medida do
seu medo, por temor de correr riscos. Findam solitárias e infelizes por receio
de tentar. Poderiam se dar mal caso se arriscassem? Óbvio que sim. Contudo, o
fracasso poderia ser minimizado, se não neutralizado, caso os riscos fossem
calculados e as probabilidades de sucesso fossem, digamos, de pelo menos
50%. Nesse aspecto, claro, não há
fórmulas mágicas, soluções milagrosas ou respostas definitivas.
Para saber se a
convivência com uma companheira vai dar certo, ou não, não existe outro caminho
senão criar coragem, sobrepujar o medo e tentar. E, como tudo na vida, essa
tentativa, insisto, envolve riscos de fracasso. Antes de tentarmos, pois, as
chances de êxito ou de fracasso precisam ser, e criteriosamente, pesadas. É
questão de prudência. Mas a tentativa, desde que inteligente e planejada tem,
também, possibilidades de êxito. E nunca saberemos se dará certo ou não caso
não tentemos. As pessoas (entre as quais, às vezes, me incluo), tendem a
confundir coragem com temeridade. Arriscam-se em empreendimentos cujas chances
de êxito são ínfimas, não raro nulas, apenas para provarem para terceiros (ou
mesmo para elas próprias) que não têm medo. No fundo, no fundo, têm. Afinal,
este é instintivo e não depende da nossa vontade.
Há, por exemplo, os que
se propõem a praticar esportes radicais para os quais não estão habilitados,
por razões que só eles sabem. Aliás, oponho-me a riscos inúteis desse tipo, que
podem redundar (e geralmente redundam) em prejuízos físicos, em fraturas,
contusões de toda espécie e, em casos extremos, em morte. Para mim,
tecnicamente, essas atitudes temerárias não passam de tentativas de suicídio.
Ademais, quais vantagens advirão desses riscos extremos? Ao fim e ao cabo,
convenhamos, nenhuma! Quem age assim não é corajoso, como deseja ser encarado,
mas temerário, para dizer o mínimo. Samuel Clemens, escritor norte-americano
mais conhecido pelo pseudônimo que adotou (Mark Twain) definiu que
"coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do
medo".
Este – que na definição
do psiquiatra, psicólogo e sociólogo espanhol Emílio Mira y Lopez é um dos
"quatro gigantes da alma" (ao lado da ira, do amor e do dever) –
quando físico e na dosagem correta, é um dos mais eficazes mecanismos de
proteção do homem. É instintivo e protetor. Impede, por exemplo, que uma pessoa
salte sem pára-quedas de grandes alturas, ou que coloque a mão no fogo e sofra
queimaduras profundas, ou que enfrente com as mãos desarmadas uma fera selvagem
e vai por aí afora. Em sua intensidade máxima, é conhecido como terror. Aí,
torna-se nocivo. Tende a ficar incontrolável e deixa de proteger o indivíduo,
para se transformar em agudo risco.
Mas há outra espécie de
medo que é sempre negativa, por inibir o que temos de melhor: a criatividade. É
o de assumir responsabilidades, de se expor, de produzir obras novas, de
explorar campos desconhecidos em busca de novidades, de tentar estabelecer
relacionamentos cujas chances sejam de quase 100% de darem certo e, em última
análise, de viver em sentido pleno. É aí que entra o fator coragem. Cautela em
excesso, ao contrário do que muitos pensam, é defeito e não virtude. Nosso medo
de errar não deve chegar ao ponto de inibir nossas ações e de impedir que
façamos o que quer que seja. A vida implica em riscos, em ousadia, em um quê de
perpétua aventura. Só que não podemos confundir nunca, em circunstância alguma,
coragem com temeridade.
Segurança absoluta não
existe. Tudo o que fizermos, por mais bem-planejado que seja, sempre terá
margem variável para o fracasso. Mark Twain observou: “Daqui a vinte anos você
estará mais desapontado com as coisas que não fez do que com as que fez. Então
jogue fora os limites. Navegue para longe do porto seguro. Sinta o vento em
suas velas. Explore. Sonhe. Descubra”. Mas faça-o, eu acrescentaria, tendo em
mente esta observação de Coelho Neto: "A intrepidez é do bravo, a
temeridade é do louco". Não faça loucuras!
Pese, antes de agir,
tanto a necessidade, quanto os benefícios e as chances de êxito do
empreendimento arriscado que esteja prestes a iniciar, mesmo que inibido pelo
medo natural gerado pela incerteza. Feito este balanço, e da forma mais
meticulosa e realista possível, lance mão de sua coragem e vá em frente. Mas
não a confunda com temeridade. Encare o medo em sua real perspectiva, ou seja,
sem desprezá-lo e nem superestimá-lo. Feito isso, siga o conselho do escritor e
orador norte-americano Dale Carnegie, homem inegavelmente bem-sucedido, por
saber fazer, com sabedoria, essa distinção e essa opção: "Tente a sua
sorte! A vida é feita de oportunidades. O homem que vai mais longe é quase
sempre aquele que tem coragem de arriscar".
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