Convenção sem grandes emoções
Pedro J.
Bondaczuk
A convenção nacional do Partido Republicano dos Estados
Unidos, encerrada, ontem, em Nova Orleans, apresentou muito menos emoção do que
a democrata, levada a efeito no mês passado, em Atlanta, na Geórgia. O único
momento realmente de grandeza, que sensibilizou os observadores políticos, foi
a abertura do encontro partidário, com o discurso do presidente Ronald Reagan.
E nem tanto pelo teor do seu
pronunciamento, que foi aquele que todos esperavam, com ênfase naquilo que o
mandatário entende como sendo seus principais sucessos e com duras críticas às
administrações anteriores da oposição, para ele, todas “desastrosas”, o que é
um tanto simplista. No mais, a convenção foi de uma monotonia a toda a prova.
É certo que em termos de
eleições, principalmente nos Estados Unidos, onde o candidato eleito vai ocupar
o cargo de maior poder no mundo, não são essas reuniões partidárias que contam.
Muito dinheiro rola durante a campanha. A opinião pública não somente é sondada
a toda hora, mas também manipulada pelos maiores especialistas em propaganda
que se conhece.
E nem todos que opinam, votam, já
que o voto, nos EUA, não é obrigatório. Mas se fôssemos julgar pelo entusiasmo,
pelo ímpeto das respectivas campanhas, diríamos que os democratas, desta vez,
estão com “jeito de vencedores”.
Nós mesmos já mencionamos,
inúmeras vezes, neste espaço, que o trunfo dos republicanos, a sua “grande
cartada”, é o carisma de Reagan. Mas é mister que se frise e se repita que em
política, prestígio é algo pessoal, que não se transfere.
Muitos candidatos de governos,
confiantes na boa gestão e na popularidade dos que estavam no poder e apoiavam
suas candidaturas, tiveram o dissabor de aprender isso na prática, na própria
carne, em inúmeras ocasiões e lugares. Convenhamos, Bush não é nenhum fenômeno
de comunicação. Muito pelo contrário, é até um tanto apático. No aspecto de
domínio de uma platéia, perde, e disparadamente, para Michael Dukakis.
Comenta-se, amiúde, que “todos”
os norte-americanos são ricos. Que após a administração Reagan, o grande
“problema” desse povo é não ter problemas. Mas a coisa não é bem assim. Muita
gente ganhou dinheiro como nunca durante os oito anos da atual administração,
não há como negar.
Mas sempre que alguém ganha, necessariamente alguém também
perdeu. E muita, mas muita gente mesmo empobreceu como nunca neste período nos
Estados Unidos. Tais pessoa estariam dispostas a repetir a experiência?
Votariam, de novo, num republicano?
A verdade é que a campanha está
totalmente indefinida. Quem souber trabalhar melhor o eleitorado,
principalmente em cima das falhas do adversário, deverá ser o vencedor. Só que
Dukakis, ao contrário de Jimmy Carter, em 1980, e de Walter Mondale, em 1984,
agora é a “pedra” e não a “vidraça”, papel que acabou sobrando para Bush.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 19
de agosto de 1988).
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