Monday, April 27, 2015

Convenção sem grandes emoções


Pedro J. Bondaczuk


A convenção nacional do Partido Republicano dos Estados Unidos, encerrada, ontem, em Nova Orleans, apresentou muito menos emoção do que a democrata, levada a efeito no mês passado, em Atlanta, na Geórgia. O único momento realmente de grandeza, que sensibilizou os observadores políticos, foi a abertura do encontro partidário, com o discurso do presidente Ronald Reagan.

E nem tanto pelo teor do seu pronunciamento, que foi aquele que todos esperavam, com ênfase naquilo que o mandatário entende como sendo seus principais sucessos e com duras críticas às administrações anteriores da oposição, para ele, todas “desastrosas”, o que é um tanto simplista. No mais, a convenção foi de uma monotonia a toda a prova.

É certo que em termos de eleições, principalmente nos Estados Unidos, onde o candidato eleito vai ocupar o cargo de maior poder no mundo, não são essas reuniões partidárias que contam. Muito dinheiro rola durante a campanha. A opinião pública não somente é sondada a toda hora, mas também manipulada pelos maiores especialistas em propaganda que se conhece.

E nem todos que opinam, votam, já que o voto, nos EUA, não é obrigatório. Mas se fôssemos julgar pelo entusiasmo, pelo ímpeto das respectivas campanhas, diríamos que os democratas, desta vez, estão com “jeito de vencedores”.

Nós mesmos já mencionamos, inúmeras vezes, neste espaço, que o trunfo dos republicanos, a sua “grande cartada”, é o carisma de Reagan. Mas é mister que se frise e se repita que em política, prestígio é algo pessoal, que não se transfere.

Muitos candidatos de governos, confiantes na boa gestão e na popularidade dos que estavam no poder e apoiavam suas candidaturas, tiveram o dissabor de aprender isso na prática, na própria carne, em inúmeras ocasiões e lugares. Convenhamos, Bush não é nenhum fenômeno de comunicação. Muito pelo contrário, é até um tanto apático. No aspecto de domínio de uma platéia, perde, e disparadamente, para Michael Dukakis.

Comenta-se, amiúde, que “todos” os norte-americanos são ricos. Que após a administração Reagan, o grande “problema” desse povo é não ter problemas. Mas a coisa não é bem assim. Muita gente ganhou dinheiro como nunca durante os oito anos da atual administração, não há como negar.

Mas sempre que alguém ganha, necessariamente alguém também perdeu. E muita, mas muita gente mesmo empobreceu como nunca neste período nos Estados Unidos. Tais pessoa estariam dispostas a repetir a experiência? Votariam, de novo, num republicano?

A verdade é que a campanha está totalmente indefinida. Quem souber trabalhar melhor o eleitorado, principalmente em cima das falhas do adversário, deverá ser o vencedor. Só que Dukakis, ao contrário de Jimmy Carter, em 1980, e de Walter Mondale, em 1984, agora é a “pedra” e não a “vidraça”, papel que acabou sobrando para Bush.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 19 de agosto de 1988).


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