Friday, April 17, 2015

Ocidente não acredita na "perestroika"


Pedro J. Bondaczuk


O presidente Mikhail Gorbachev, à medida em que aumenta o desgaste de sua imagem junto à população soviética, que não entende o alcance, a estratégia e o real objetivo da "perestroika", busca, com maior insistência, apoio exterior, onde goza de inegável respeito e popularidade.

O curioso é que os mesmos setores que gritam exigindo a aceleração das reformas são os primeiros a se aproveitar do descontentamento gerado pelas amargas decisões que o Cremlin é obrigado a tomar para fazer a transição de uma economia estatizada para o mercado livre.

Exemplo típico disso foi o recente aumento geral de preços determinado pelo corte de subsídio a uma extensa lista de produtos, para deter o alarmante crescimento do déficit orçamentário. Tal decreto provocou greves, manifestações e críticas de todos os lados.

No ano passado, esse tipo de providência precisou ser suspenso, por causa do pânico que causou à população, por indução, frise-se, dos próprios setores que vinham pressionando a adoção da medida. O populista Bóris Yeltsin vem baseando toda a sua fulminante carreira política no vácuo de poder deixado por Gorbachev, que parece ter tomado sobre os seus ombros uma tarefa muito maior do que sua capacidade, por mais sinceras que sejam suas intenções e mais lúcida a sua visão de mundo. Tanto é que até aqui nada fez de concreto para apresentar alternativas.

Fora da União Soviética, são poucos os que entendem os verdadeiros objetivos da "perestroika" e seu real alcance. Daí os apoios ao projeto reformista serem tão tíbios e acompanhados, em geral, de indisfarçável ceticismo quanto ao seu êxito.

O presidente George Bush afirmou e reiterou, em inúmeras oportunidades, que apóia Gorbachev, em quem disse confiar, mas ressaltou ter sérias dúvidas acerca das mudanças que ele pretende implantar. Anteontem, por exemplo, discursando na Base Maxwell da Força Aérea, em Montgomery, voltou a respaldar o líder do Cremlin.

Mas emendou: "O caminho à frente da União Soviética será difícil e em momentos, extraordinariamente doloroso. Será lento. Haverá revezes. Mas este processo de reforma, esta transformação interior, deve ter procedência, se é que a cooperação externa e nosso progresso rumo a uma verdadeira paz internacional irão perdurar. Deve ter êxito".

Bush acredita que Gorbachev esteja sinceramente determinado a fazer da URSS um país democrático, estável e confiável perante o mundo. Mas parece não estar certo de que ele tenha "capacidade" para uma tarefa tão monumental. Teme que o presidente soviético venha a ser manipulado por aqueles que, embora se dizendo reformistas, sonham em manter o "status quo" ou fazer as coisas regredirem aos tempos de Leonid Brezhnev.

Por isso, ressalvou: "Ao mesmo tempo seguiremos apoiando um processo de reforma dentro da União Soviética, destinado à liberdade política e econômica. Um processo que, cremos, deve ser levantado num diálogo e negociações pacíficas".

A estratégia de Bush ficou mais clara em 24 de abril de 1990, no auge da pressão exercida pelo Cremlin contra a Lituânia, para que a República báltica rebelde voltasse atrás na sua declaração de independência. Disse, naquela oportunidade: "Minha maior preocupação no momento é não fazer nada que force a União Soviética a agir e comprometer o processo de paz e liberdade em todo o mundo". Ou seja, o presidente norte-americano aferra-se à tática de esperar para ver o que acontece.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 16 de abril de 1991).


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