Ocidente
não acredita na "perestroika"
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente Mikhail Gorbachev, à medida em que aumenta o desgaste de sua imagem
junto à população soviética, que não entende o alcance, a estratégia e o real
objetivo da "perestroika", busca, com maior insistência, apoio
exterior, onde goza de inegável respeito e popularidade.
O
curioso é que os mesmos setores que gritam exigindo a aceleração das reformas
são os primeiros a se aproveitar do descontentamento gerado pelas amargas
decisões que o Cremlin é obrigado a tomar para fazer a transição de uma
economia estatizada para o mercado livre.
Exemplo
típico disso foi o recente aumento geral de preços determinado pelo corte de
subsídio a uma extensa lista de produtos, para deter o alarmante crescimento do
déficit orçamentário. Tal decreto provocou greves, manifestações e críticas de
todos os lados.
No
ano passado, esse tipo de providência precisou ser suspenso, por causa do
pânico que causou à população, por indução, frise-se, dos próprios setores que
vinham pressionando a adoção da medida. O populista Bóris Yeltsin vem baseando
toda a sua fulminante carreira política no vácuo de poder deixado por
Gorbachev, que parece ter tomado sobre os seus ombros uma tarefa muito maior do
que sua capacidade, por mais sinceras que sejam suas intenções e mais lúcida a
sua visão de mundo. Tanto é que até aqui nada fez de concreto para apresentar
alternativas.
Fora
da União Soviética, são poucos os que entendem os verdadeiros objetivos da
"perestroika" e seu real alcance. Daí os apoios ao projeto reformista
serem tão tíbios e acompanhados, em geral, de indisfarçável ceticismo quanto ao
seu êxito.
O
presidente George Bush afirmou e reiterou, em inúmeras oportunidades, que apóia
Gorbachev, em quem disse confiar, mas ressaltou ter sérias dúvidas acerca das
mudanças que ele pretende implantar. Anteontem, por exemplo, discursando na
Base Maxwell da Força Aérea, em Montgomery, voltou a respaldar o líder do
Cremlin.
Mas
emendou: "O caminho à frente da União Soviética será difícil e em
momentos, extraordinariamente doloroso. Será lento. Haverá revezes. Mas este
processo de reforma, esta transformação interior, deve ter procedência, se é
que a cooperação externa e nosso progresso rumo a uma verdadeira paz
internacional irão perdurar. Deve ter êxito".
Bush
acredita que Gorbachev esteja sinceramente determinado a fazer da URSS um país
democrático, estável e confiável perante o mundo. Mas parece não estar certo de
que ele tenha "capacidade" para uma tarefa tão monumental. Teme que o
presidente soviético venha a ser manipulado por aqueles que, embora se dizendo
reformistas, sonham em manter o "status quo" ou fazer as coisas
regredirem aos tempos de Leonid Brezhnev.
Por
isso, ressalvou: "Ao mesmo tempo seguiremos apoiando um processo de
reforma dentro da União Soviética, destinado à liberdade política e econômica.
Um processo que, cremos, deve ser levantado num diálogo e negociações
pacíficas".
A
estratégia de Bush ficou mais clara em 24 de abril de 1990, no auge da pressão
exercida pelo Cremlin contra a Lituânia, para que a República báltica rebelde
voltasse atrás na sua declaração de independência. Disse, naquela oportunidade:
"Minha maior preocupação no momento é não fazer nada que force a União
Soviética a agir e comprometer o processo de paz e liberdade em todo o
mundo". Ou seja, o presidente norte-americano aferra-se à tática de
esperar para ver o que acontece.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 16 de abril de
1991).
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