Seres
humanos não se classificam por raças
Pedro J. Bondaczuk
A história jamais se repete e, por essa razão, os
erros cometidos no passado, que levaram civilizações à decadência e à posterior
extinção, acabam sendo esquecidos. Caso não o fossem, sofrimentos inúteis,
destruições insensatas e massacres criminosos seriam certamente evitados.
Se porventura a humanidade soubesse não reincidir em
equívocos praticados em outros tempos, os povos teriam queimado etapas na busca
de uma sociedade ideal, onde houvesse fartura, equilíbrio e solidariedade. Em
que todos pudessem se sentir realizados e, conseqüentemente, felizes.
Mas por causa, exclusivamente, da nossa estupidez, o
simples desejo de coisas tão corriqueiras e fáceis de se conseguir hoje soa
como utopia, como uma enorme fantasia, como algo que extrapola, em muito, o
plano da realidade.
O racismo, nas mais variadas formas em que se apresenta,
já redundou, entre outras coisas, em duas guerras mundiais neste século. A
primeira foi causada pela revolta dos bósnios e sérvios, que se recusavam a ver
parte dos seus territórios anexada à Áustria. E por razões puramente étnicas.
Por isso, Gavrilo Princip, integrante de um grupo nacionalista chamado
"Mão Negra", que costumava manter reuniões na taverna "Grinalda
Verde", em Belgrado, foi incumbido de uma missão que ele julgava sagrada e
que no entanto se revelou desastrosa. Ou seja, deveria assassinar o arquiduque
Francisco Ferdinando, que estava com viagem marcada para a Bósnia, para
comandar exercícios militares.
E ele cometeu, de fato, esse ato de violência, que
encarava como fundamental para a sua causa, em 28 de junho de 1914. Com isso,
conseguiu deflagrar a Primeira Guerra Mundial, que já vinha
"fermentando" há tempos e que carecia somente de um pretexto para começar.
Passados 21 anos dessa conflagração, e eis que
outra, muito mais escabrosa e cruel, surgiu, por idênticos motivos: por
pretensa superioridade de uma etnia sobre outra (ou sobre outras, para sermos
mais exatos). Foi deflagrada por uma questão indefinida, vaga, tola ao extremo,
chamada "racismo".
O que, em termos de seres humanos, se entende por
"raça"? A separação de pessoas por tal parâmetro é indigna. Animaliza
os homens. Estes possuem a identidade do seu poder de raciocínio, do livre-arbítrio,
do fato de serem "imagem e semelhança" da divindade. Raça é algo que
se aplica para seres inferiores, para os animais, não para pessoas.
Mas é este conceito estúpido e ilógico que ainda
prevalece hoje. Na África do Sul, a maioria do povo que habita esse país foi
privado por anos de todos os direitos em sua própria pátria somente por uma
questão de cor da pele. Nos Estados Unidos, os conflitos raciais permanecem
sempre latentes. Na União Soviética, distúrbios étnicos entravaram a evolução
da "glasnost" e da "perestroika". E o racismo se multiplica
pela Grã-Bretanha, Itália, França etc. Que pena que a história nunca se repita!
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 5 de setembro de 1989).
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