Passo para a governabilidade
Pedro J. Bondaczuk
O
estilo de governo do presidente Itamar Franco ficou patenteado com a realização
da sua reunião com líderes de 19 partidos, ocorrida na sexta-feira da semana
passada. A importância desse encontro, como os próprios participantes
admitiram, não está em algum eventual entendimento --- que de fato não saiu ---
mas na sua própria realização.
O
diálogo marca o fim de uma disputa entre Legislativo e Executivo em que ninguém
saiu ganhando, mas o País perdeu. Projetos importantíssimos para o
reordenamento da economia brasileira foram deixados de lado, por absoluta
ausência de boa vontade entre as partes.
Não
se defende aqui um governo de união nacional que, dada a complexidade da
política brasileira, seria impossível neste momento. A própria multiplicidade
de partidos indica a divisão que hoje impera no País quanto aos caminhos que
devem ser trilhados para que o Brasil saia do fundo do poço. equacione seus
principais problemas e retome a trilha do desenvolvimento auto-sustentado, sem
o ônus da inflação e com justiça social.
Nas
autênticas democracias, a oposição responsável, construtiva e atuante é
imprescindível. Consenso, em termos de política, existe apenas nas ditaduras,
onde as vontades do tirano são as leis que prevalecem. O próprio presidente
disse que não pretendeu nem pretende obter apoio unânime para governar.
Então
a reunião não serviu para nada? Claro que teve a sua utilidade. Um dos
resultados já apareceu esta semana, com a escolha do ajuste fiscal, fundamental
para a governabilidade do País nos dois anos de governo de Itamar Franco, como
matéria prioritária de debate e votação.
Isso
não quer dizer que a proposta oficial, encaminhada em novembro ao Congresso,
deva ser aprovada sem qualquer alteração. O papel dos congressistas nem é esse,
de meros avalistas de projetos do Executivo. Eles representam a população que
os elegeu e têm a obrigação de evitar ônus desnecessários (se o forem) ao já
atribulado contribuinte.
Um
ponto o presidente deixou bem claro. O de que o Congresso, principal
responsável por sua chegada ao poder, tem a obrigação de compartilhar das
responsabilidades da condução do País. Não pode se omitir. Afinal, ambos os
poderes são partes, ao lado do Judiciário, de um mesmo governo, o de todos os
brasileiros.
Daí
a razão da sua convocação extraordinária para votar 17 questões da mais
absoluta prioridade. Caso se pense em implantar o parlamentarismo no Brasil,
está aí uma oportunidade rara para deputados e senadores irem treinando a
compartilhar das responsabilidades governamentais.
Itamar
Franco, embora presidente, vem agindo mais como se fora um primeiro-ministro de
fato. Até na escolha de seus ministros recorreu a membros do Congresso, de onde
ele próprio é oriundo. Os primeiros passos para a governabilidade foram,
portanto, dados. Resta que Legislativo e Executivo não se percam em meras
manifestações de boas intenções e se disponham, de fato, a modernizar o País,
extinguindo os monumentais bolsões de miséria que ele tem.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio popular, em 14 de janeiro de 1993).
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