Esgota-se
tempo para dialogar
Pedro J. Bondaczuk
A contagem regressiva para uma guerra no Golfo
Pérsico já começou e as pessoas de bom senso, aquelas que sabem aproveitar
erros do passado para tentar impedir sua repetição no presente, certamente,
farão as últimas tentativas para romper a intransigência das duas partes e
levar os dois lados a uma solução negociada para o conflito.
Aquilo que não se consegue mediante conversações,
igualmente não se obtém, através do expediente sempre nefasto do confronto,
pelas armas. Ainda mais quando o palco escolhido para esse tira-teima armado é
uma região repleta de campos de petróleo.
É verdade que boa parte das declarações feitas pelos
líderes dos dois lados tem um objetivo bem definido. Ou seja, ganhar a guerra,
desestabilizando os nervos do adversário, sem que se dispare um só tiro.
Todavia, esse diabólico jogo de xadrez permanece indefinido e o tempo está se
esgotando.
O presidente norte-americano, George Bush, ao
deslocar o imenso contingente de homens e armas para o Golfo Pérsico, antes
mesmo do Conselho de Segurança das Nações Unidas haver aprovado tal
deslocamento, auto-limitou sua margem de manobra. Virtualmente, impôs uma
solução de força, ou, no mínimo, de coação, para a questão.
Deixou Saddam Hussein, literalmente, acuado, no
dilema de ou lutar e expor seu pequeno país a uma destruição de tal sorte que
levará décadas para se recuperar, ou ceder e perder a credibilidade diante de
considerável parcela de pessoas no mundo árabe que o tem na conta de um herói moderno,
de um novo coronel Gamal Abdel Nasser.
Não estão sendo deixadas alternativas ao líder
iraquiano, o que nem mesmo é prudente. Uma fera acuada sempre se torna mais
perigosa. Ademais, uma guerra, ao contrário do que determinados analistas
alienados ou propagandistas afoitos apregoam, qualquer que seja a sua natureza,
não é, em absoluto, o alegre piquenique que eles pensam que seja. Ainda mais
tendo um adversário bem armado, bastante determinado e que se torna mais
perigoso à medida em que cresce o seu desespero. E, principalmente, tendo por
palco um deserto cheio de campos de petróleo.
Se uma operação militar contra as forças de Saddam
Hussein fosse tão simples quanto alguns querem dar a entender, ela já teria
sido executada logo que o Iraque invadiu o Kuwait em 2 de agosto de 1990. O
Ocidente, todavia, conhece o monstro que criou. Foi ele que armou o ditador
iraquiano até os dentes, depois de ter superestimado o Irã dos aiatolás.
Ainda há tempo para as partes chegarem a um
entendimento. Mas, para isso, é indispensável que as negociações, de fato,
aconteçam e sejam realizadas sem ultimatos ou precondições. Afinal, como diz o
dito popular, “é preferível um mau acordo do que uma boa briga”. Neste caso
específico, o clichê encaixa-se como uma luva.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 3 de janeiro de 1991)
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