Opções e consequências
Pedro
J. Bondaczuk
A vida nos impõe uma
multiplicidade de escolhas, muitas das quais (diria a maioria) são até
inconscientes, ditadas pelos instintos, ou pelas circunstâncias, ou, e
principalmente pelas necessidades. Sua exatidão vai determinar nosso sucesso ou
fracasso, felicidade ou amargura, bem ou mal. Algumas são irreversíveis, outras
são passivas de mudanças caso percebamos, ou desconfiemos que fizemos uma
primeira opção equivocada. Há as que, mesmo podendo ser mudadas, deixam
seqüelas e conseqüências do erro anterior. Outras tantas não deixam essas
marcas. Aliás, não deixam marca nenhuma. Há casos e casos. Ponderemos.
Escolhemos profissões,
companhias, amizades etc. e até clubes de futebol para torcer. Somos sempre
instados a escolher alguém ou alguma coisa, e raramente nos é permitido errar.
As escolhas mais importantes, para serem as corretas e adequadas, deveriam ser
estudadas, ponderadas, planejadas e, sobretudo, cautelosas. Nem sempre
(normalmente nunca, salvo exceções) são. Se escolhermos uma profissão para a qual
não tenhamos talento ou habilitação, por exemplo, ficaremos à margem do mercado
de trabalho. Podemos (e devemos) mudar, mas o tempo perdido será sempre
irrecuperável.
Se a escolha de uma
companhia não for feita por amor, o resultado será de frustração e infelicidade
(e não raro, de infidelidade) para quem escolhe e para quem é escolhido.
Teremos nova chance para reparar o equívoco dessa opção? Depende das
circunstâncias. Às vezes podemos ter, e não só uma mas várias oportunidades,
mas também podemos não ter mais nenhuma.
E isso vale para tudo o mais na vida. William Shakespeare adverte: “Você
faz suas escolhas e suas escolhas fazem você”. Se forem corretas e adequadas, o
resultado “talvez” seja o sucesso (dependendo do que você considere q1ue seja
êxito), pois desse nunca há garantia absoluta para ninguém. Não raro você
escolhe o melhor caminho, faz tudo certo, porém... dá tudo errado. Nunca
aconteceu isso com você, paciente leitor? Comigo aconteceu e mais de uma vez. A
probabilidade maior é no sentido oposto. Ou seja, se as escolhas forem
equivocadas, esses equívocos vão gerar, com certeza, fracassados,
marginalizados e seres amargos e infelizes.
Por mais que busquemos
a perfeição (o que é legítimo, embora se trate de uma impossibilidade, dados
nossos defeitos e limitações), a vida é feita de múltiplas escolhas. Há os que
optam por serem apenas amados, com o que se dão para lá de satisfeitos.
Incluo-me entre estes. Há, porém, quem não se importe tanto com afetos e que
queira ser admirado, ou pelo que é ou pelo que faz. Quem faz essa escolha está
certo ou errado? Como saber? Os resultados é que vão lhe indicar o acerto ou o
erro da opção. Como esta não é a minha, só posso especular a propósito e com
imensa imprecisão (suponho). Há, também, os mais ambiciosos, que querem as duas
coisas. Ou seja, serem amados e admirados, simultaneamente. Alguns (poucos)
conseguem, outros tantos (muitos) não. E existem, ainda, inúmeras outras
opções, de todos os tipos e naturezas.
O filósofo
norte-americano Will Durant recomenda, para esses casos citados, a adoção das
seguintes estratégias: “Se você quer ser amado, seja modesto. Se quer ser
admirado, seja orgulhoso. Se quer as duas coisas, use, externamente, a modéstia
e, internamente, o orgulho. Mas o próprio orgulho pode ser modesto, raramente
se deixando ver e nunca se deixando ouvir”. Não afirmo nem uma coisa e nem
outra. Nem que o filósofo está certo e nem que está errado. Não há fórmula
exata para esses casos. Tudo depende das circunstâncias e oportunidades de cada
um.
Reporto-me, novamente,
ao doutor Gregory House - personagem
interpretado pelo ator Hugh Laurie, da famosa série de televisão do mesmo nome,
do canal de TV a cabo Fox – que citei recentemente em uma de minhas reflexões
neste espaço, mas desta vez referente a escolhas. O médico teimoso e rabugento,
mas genial, desse seriado, afirmou, em um dos tantos episódios exibidos:
“Existem três opções nessa vida: ser bom em algo, ficar bom ou desistir”. Eu
não diria isso de forma tão incisiva e peremptória, como se fosse um dogma
proibido de ser contestado. Mas que a afirmação tem um fundo de verdade, disso
não tenho nenhuma dúvida, sobretudo no que se refere à aposta em nosso talento
(caso tenhamos algum, lógico).
Há os que buscam a
excelência no que têm de melhor, em sua evidente habilidade, e se dão bem. Há
os que não têm nenhum talento especial, para nada, mas que se esforçam ao
máximo para desenvolver um que sintam que está ao seu alcance e levam esse
aprimoramento quase à perfeição. E são bem-sucedidos. Há, no entanto, os que
não se sentem aptos para absolutamente nada, que não têm interesse por coisa
alguma e que, por isso, não buscam se aperfeiçoar em nada e que... desistem. O
resultado, lógico e infalível, é o fracasso. Tornam-se pessoas inúteis, sem
ambições, metas e nem perspectivas, derrotadas e marginalizadas, pesos mortos
para suas famílias e para a sociedade. Desconfio que a imensa maioria –
raramente por culpa própria, mas vítimas das circunstâncias – esteja nesse
caso. .
O professor, teólogo,
poeta e escritor britânico Clive Staples Lewis, que assinava seus trabalhos
literários como C. S. Lewis, nascido na atual Irlanda do Norte, observou, em
certa ocasião: “Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência
em alguma coisa um pouco diferente do que era antes”. Se para pior ou para
melhor, depende do acerto ou do erro da escolha. Mas nunca mais será igual ao
que era antes de escolher. Referindo-se, especificamente, a escolhas afetivas
(que todos, salvo exceções, fazemos e que muitos fazem até diversas vezes na
vida), a escritora Martha Medeiros questiona e, ao fim, conclui, com
pertinência e inteligência: “E então?
Somando os prós e os contras, as boas e as más opções, onde, afinal, é o melhor
lugar do mundo? Meu palpite: dentro de um abraço”. O meu também! E o seu,
caríssimo leitor?
No comments:
Post a Comment