Sunday, April 05, 2015

Opções e consequências

Pedro J. Bondaczuk

A vida nos impõe uma multiplicidade de escolhas, muitas das quais (diria a maioria) são até inconscientes, ditadas pelos instintos, ou pelas circunstâncias, ou, e principalmente pelas necessidades. Sua exatidão vai determinar nosso sucesso ou fracasso, felicidade ou amargura, bem ou mal. Algumas são irreversíveis, outras são passivas de mudanças caso percebamos, ou desconfiemos que fizemos uma primeira opção equivocada. Há as que, mesmo podendo ser mudadas, deixam seqüelas e conseqüências do erro anterior. Outras tantas não deixam essas marcas. Aliás, não deixam marca nenhuma. Há casos e casos. Ponderemos.

Escolhemos profissões, companhias, amizades etc. e até clubes de futebol para torcer. Somos sempre instados a escolher alguém ou alguma coisa, e raramente nos é permitido errar. As escolhas mais importantes, para serem as corretas e adequadas, deveriam ser estudadas, ponderadas, planejadas e, sobretudo, cautelosas. Nem sempre (normalmente nunca, salvo exceções) são. Se escolhermos uma profissão para a qual não tenhamos talento ou habilitação, por exemplo, ficaremos à margem do mercado de trabalho. Podemos (e devemos) mudar, mas o tempo perdido será sempre irrecuperável.

Se a escolha de uma companhia não for feita por amor, o resultado será de frustração e infelicidade (e não raro, de infidelidade) para quem escolhe e para quem é escolhido. Teremos nova chance para reparar o equívoco dessa opção? Depende das circunstâncias. Às vezes podemos ter, e não só uma mas várias oportunidades, mas também podemos não ter mais nenhuma.  E isso vale para tudo o mais na vida. William Shakespeare adverte: “Você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você”. Se forem corretas e adequadas, o resultado “talvez” seja o sucesso (dependendo do que você considere q1ue seja êxito), pois desse nunca há garantia absoluta para ninguém. Não raro você escolhe o melhor caminho, faz tudo certo, porém... dá tudo errado. Nunca aconteceu isso com você, paciente leitor? Comigo aconteceu e mais de uma vez. A probabilidade maior é no sentido oposto. Ou seja, se as escolhas forem equivocadas, esses equívocos vão gerar, com certeza, fracassados, marginalizados e seres amargos e infelizes.

Por mais que busquemos a perfeição (o que é legítimo, embora se trate de uma impossibilidade, dados nossos defeitos e limitações), a vida é feita de múltiplas escolhas. Há os que optam por serem apenas amados, com o que se dão para lá de satisfeitos. Incluo-me entre estes. Há, porém, quem não se importe tanto com afetos e que queira ser admirado, ou pelo que é ou pelo que faz. Quem faz essa escolha está certo ou errado? Como saber? Os resultados é que vão lhe indicar o acerto ou o erro da opção. Como esta não é a minha, só posso especular a propósito e com imensa imprecisão (suponho). Há, também, os mais ambiciosos, que querem as duas coisas. Ou seja, serem amados e admirados, simultaneamente. Alguns (poucos) conseguem, outros tantos (muitos) não. E existem, ainda, inúmeras outras opções, de todos os tipos e naturezas.

O filósofo norte-americano Will Durant recomenda, para esses casos citados, a adoção das seguintes estratégias: “Se você quer ser amado, seja modesto. Se quer ser admirado, seja orgulhoso. Se quer as duas coisas, use, externamente, a modéstia e, internamente, o orgulho. Mas o próprio orgulho pode ser modesto, raramente se deixando ver e nunca se deixando ouvir”. Não afirmo nem uma coisa e nem outra. Nem que o filósofo está certo e nem que está errado. Não há fórmula exata para esses casos. Tudo depende das circunstâncias e oportunidades de cada um.

Reporto-me, novamente, ao doutor Gregory House  -    personagem interpretado pelo ator Hugh Laurie, da famosa série de televisão do mesmo nome, do canal de TV a cabo Fox – que citei recentemente em uma de minhas reflexões neste espaço, mas desta vez referente a escolhas. O médico teimoso e rabugento, mas genial, desse seriado, afirmou, em um dos tantos episódios exibidos: “Existem três opções nessa vida: ser bom em algo, ficar bom ou desistir”. Eu não diria isso de forma tão incisiva e peremptória, como se fosse um dogma proibido de ser contestado. Mas que a afirmação tem um fundo de verdade, disso não tenho nenhuma dúvida, sobretudo no que se refere à aposta em nosso talento (caso tenhamos algum, lógico).

Há os que buscam a excelência no que têm de melhor, em sua evidente habilidade, e se dão bem. Há os que não têm nenhum talento especial, para nada, mas que se esforçam ao máximo para desenvolver um que sintam que está ao seu alcance e levam esse aprimoramento quase à perfeição. E são bem-sucedidos. Há, no entanto, os que não se sentem aptos para absolutamente nada, que não têm interesse por coisa alguma e que, por isso, não buscam se aperfeiçoar em nada e que... desistem. O resultado, lógico e infalível, é o fracasso. Tornam-se pessoas inúteis, sem ambições, metas e nem perspectivas, derrotadas e marginalizadas, pesos mortos para suas famílias e para a sociedade. Desconfio que a imensa maioria – raramente por culpa própria, mas vítimas das circunstâncias – esteja nesse caso. . 

O professor, teólogo, poeta e escritor britânico Clive Staples Lewis, que assinava seus trabalhos literários como C. S. Lewis, nascido na atual Irlanda do Norte, observou, em certa ocasião: “Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes”. Se para pior ou para melhor, depende do acerto ou do erro da escolha. Mas nunca mais será igual ao que era antes de escolher. Referindo-se, especificamente, a escolhas afetivas (que todos, salvo exceções, fazemos e que muitos fazem até diversas vezes na vida), a escritora Martha Medeiros questiona e, ao fim, conclui, com pertinência e inteligência:  “E então? Somando os prós e os contras, as boas e as más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo? Meu palpite: dentro de um abraço”. O meu também! E o seu, caríssimo leitor?


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