Grave
omissão dos promotores de show
Pedro J. Bondaczuk
A tragédia que se abateu, anteontem, sobre parte dos
300 mil espectadores, que assistiam a um show de acrobacias aéreas na Base de
Ramstein, na Alemanha Ocidental, pertencente aos Estados Unidos, já era algo
esperado de acontecer. Os espetáculos dessa natureza estão se tornando muito
populares na Europa, de uns tempos para cá, e cada dia eles ficam mais ousados,
para não dizer temerários.
Nós sempre admiramos a perícia desses intrépidos
pilotos, que quando realizam suas manobras complicadas e arriscadíssimas têm
plena ciência de que suas vidas estão em
jogo. O que reprovamos, é a criminosa negligência dos promotores e
organizadores de tais exibições, que quase nunca pensam no principal: na
segurança dos civis. Erros todos nós estamos sujeitos a cometer em nossas
profissões. Mas há alguns imperdoáveis.
Pelo que as investigações preliminares já
conseguiram concluir, a tragédia de anteontem foi provocada por uma falha
humana da piloto da aeronave que explodiu sobre a multidão, que calculou mal a
distância, antes de cruzar no meio do "coração" que os nove aviões
estavam formando. A esquadrilha, denominada "Flechas Tricolores",
certamente já realizou a mesma manobra milhares de vezes, com êxito. Jamais será
possível saber com certeza o que levou o aviador, que era perito no seu
"mètier" (afinal, era o "solista" da exibição) a calcular
mal a distância e a altura.
O fato é que, pelos relatos das testemunhas e pelas
imagens mostradas pela televisão, o público estava perto demais da pista. Não
existia, portanto, um espaço para o "escape" do piloto, em caso de
algo não andar bem. Por isso, não se deve culpar os que faziam a exibição pela
tragédia, uma das mais brutais dos últimos tempos. Os culpados são os seus
promotores, que não previram a possibilidade de acidentes.
Aliás, há algum tempo os alemães ocidentais vêm
fazendo campanha contra não apenas os vôos de exibição em seu território, mas
inclusive os de treinamento a baixas altitudes. Os acidentes aéreos nesse país
vêm se sucedendo de forma alarmante. Para se ter uma idéia, somente em julho
passado, três caças F-16 caíram num único dia, em locais diferentes da Alemanha
Ocidental. E se uma aeronave dessas, por uma dessas infelicidades do acaso,
viesse a cair sobre uma escola, um hospital, uma zona densamente povoada ou
mesmo uma usina nuclear?
Afinal, esses exercícios são realizados, via de
regra, em locais próximos a logradouros como os citados. A catástrofe
adquiriria dimensões inimagináveis. Ninguém está defendendo o fim desses vôos.
O que se deseja é que eles ocorram em lugares apropriados, onde se preserve a
segurança e a integridade (além do patrimônio) dos cidadãos. Que a tragédia de
Ramstein, portanto, venha a servir de alerta para as autoridades européias
daqui para a frente.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do
Correio Popular, em 30 de agosto de 1988)
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