Monday, April 20, 2015

Grave omissão dos promotores de show


Pedro J. Bondaczuk


A tragédia que se abateu, anteontem, sobre parte dos 300 mil espectadores, que assistiam a um show de acrobacias aéreas na Base de Ramstein, na Alemanha Ocidental, pertencente aos Estados Unidos, já era algo esperado de acontecer. Os espetáculos dessa natureza estão se tornando muito populares na Europa, de uns tempos para cá, e cada dia eles ficam mais ousados, para não dizer temerários.

Nós sempre admiramos a perícia desses intrépidos pilotos, que quando realizam suas manobras complicadas e arriscadíssimas têm plena ciência de que suas  vidas estão em jogo. O que reprovamos, é a criminosa negligência dos promotores e organizadores de tais exibições, que quase nunca pensam no principal: na segurança dos civis. Erros todos nós estamos sujeitos a cometer em nossas profissões. Mas há alguns imperdoáveis.

Pelo que as investigações preliminares já conseguiram concluir, a tragédia de anteontem foi provocada por uma falha humana da piloto da aeronave que explodiu sobre a multidão, que calculou mal a distância, antes de cruzar no meio do "coração" que os nove aviões estavam formando. A esquadrilha, denominada "Flechas Tricolores", certamente já realizou a mesma manobra milhares de vezes, com êxito. Jamais será possível saber com certeza o que levou o aviador, que era perito no seu "mètier" (afinal, era o "solista" da exibição) a calcular mal a distância e a altura.

O fato é que, pelos relatos das testemunhas e pelas imagens mostradas pela televisão, o público estava perto demais da pista. Não existia, portanto, um espaço para o "escape" do piloto, em caso de algo não andar bem. Por isso, não se deve culpar os que faziam a exibição pela tragédia, uma das mais brutais dos últimos tempos. Os culpados são os seus promotores, que não previram a possibilidade de acidentes.

Aliás, há algum tempo os alemães ocidentais vêm fazendo campanha contra não apenas os vôos de exibição em seu território, mas inclusive os de treinamento a baixas altitudes. Os acidentes aéreos nesse país vêm se sucedendo de forma alarmante. Para se ter uma idéia, somente em julho passado, três caças F-16 caíram num único dia, em locais diferentes da Alemanha Ocidental. E se uma aeronave dessas, por uma dessas infelicidades do acaso, viesse a cair sobre uma escola, um hospital, uma zona densamente povoada ou mesmo uma usina nuclear?

Afinal, esses exercícios são realizados, via de regra, em locais próximos a logradouros como os citados. A catástrofe adquiriria dimensões inimagináveis. Ninguém está defendendo o fim desses vôos. O que se deseja é que eles ocorram em lugares apropriados, onde se preserve a segurança e a integridade (além do patrimônio) dos cidadãos. Que a tragédia de Ramstein, portanto, venha a servir de alerta para as autoridades européias daqui para a frente.

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 30 de agosto de 1988)


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