Dolorosa
tentativa de reconciliação
Pedro J. Bondaczuk
O processo de pacificação nacional no Líbano
continua penoso e instável, embora muitos passos tenham sido dados rumo à
reconciliação, pelo gabinete de Rachid Karami. Beirute, por exemplo, está, virtualmente,
sob o controle do Exército, o aeroporto da capital funciona outra vez, tanto
para pousos quanto para decolagens e a Linha Verde, que dividia a zona urbana
em duas virtuais e distintas cidades (a parte Leste, dos cristãos, e a Oeste,
de predominância muçulmana), já não mais existe.
Entretanto, ao que parece, ainda há muita brasa
ardendo sob as cinzas, como demonstra o incidente ocorrido ontem, no bairro de
Basta. Atentados, como este, podem pôr a perder todo um trabalho lento,
paciente, de refinada diplomacia, como este, conduzido pelo hábil político
Karami. O passo dado, em Beirute, para a reconciliação nacional, embora
expressivo, ainda é muito pequeno. Um quase nada.
Sob intensa expectativa e uma vacilante esperança,
no sábado da próxima semana, dia 18 de agosto, o governo libanês tentará
avançar mais alguns centímetros, penosos, sofridos, rumo ao restabelecimento da
ordem no país.
O Exército, agora revigorado e com o moral alto,
após o sucesso da operação em Beirute, tentará ocupar as problemáticas
Montanhas Chuf, que circundam a capital, com o objetivo de pacificar duas das
dezessete milícias rivais libanesas: as drusas e as cristãs maronitas.
Mas é necessário que haja boa vontade, não apenas de
Karami, de Gemayel e de outros líderes, que sonham com uma sociedade
reestruturada, onde a lei e a ordem voltem a imperar. É preciso que todos
desarmem os espíritos, arregacem as mangas e caiam em si, atentando para a dura
realidade do país.
Uma família desunida nunca pode prosperar. Da mesma
forma, ocorre com uma comunidade nacional, que não passa de uma macro-família,
ligada por laços comuns, de língua, do território e das tradições.
O que aconteceu ao Líbano, nesses penosos nove anos
de guerra civil, deve servir de exemplo, e de alerta, a outros países. Exemplo
de como a intolerância pode prosperar quando se dá ouvidos a extremistas,
internos e externos. Alerta para as conseqüências desastrosas que o ódio, a
insânia e as ações ao arrepio das leis podem trazer em termos de perda de vidas
e de bens. Por isso, nunca é demais a aplicação do surrado clichê, que por vir
do povo, cristaliza uma grande sabedoria: “É sempre preferível um mau acordo do
que uma boa demanda”.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 10 de agosto de 1984)
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