Monday, April 06, 2015

Como na Roma antiga


Pedro J. Bondaczuk


O orçamento nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos aos governos estrangeiros devem ser reduzidos, se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”.

Esta citação, enviada à redação por um jovem estudante secundarista, ao contrário do que possa parecer, não é de nenhum economista brasileiro nem dos ex-ministros Delfim Netto ou Roberto Campos. Nem partiu de qualquer membro do atual governo ou dos passados. Sequer é recente. Muito pelo contrário, data de 55 antes de Cristo e é de autoria do tribuno e senador romano Marcus Tulius Cícero.

Apesar da observação ter sido feita há mais de dois milênios, como é atual e se encaixa como uma luva à presente situação brasileira! Conclui-se que parte considerável da culpa de estarmos atravessando uma crise como jamais o País enfrentou antes se deve ao fato de as nossas autoridades repetirem erros milenares, primários, palmares, inconcebíveis para administradores com um mínimo de competência.

Equilíbrio orçamentário o Brasil nunca teve. Orçamento entre nós é autêntica peça de ficção. Governar é definir prioridades. Todavia, os governantes brasileiros, invariavelmente, gastam muito além dos recursos obtidos através da arrecadação de impostos, em projetos perdulários, quando não inúteis. Daí a necessidade de endividamento, interno e externo, e de emissão de moeda, sem lastro na produção, causa básica da inflação brasileira. A dívida pública, salvo em raras ocasiões, é aumentada, ao invés de reduzida.

Quanto aos pagamentos ao exterior, há alguns anos, por causa de negociações desastrosas e obscuras, chegaram a consumir US$ 12,5 bilhões anuais somente em juros e serviços, tais como comissões e taxas de risco, sem que o principal tivesse um único centavo de redução.

As autoridades públicas, como regra geral, mantêm uma olímpica arrogância em relação à sociedade que representam, tratando de assuntos do governo como se fossem coisas suas, pessoais, que pudessem dispor ao seu bel-prazer, sem dar satisfações a ninguém.

Finalmente, há que se considerar a “ciranda financeira”, que permite aos detentores de títulos governamentais viverem de juros, muito superiores à inflação, auferindo lucros exorbitantes sem que produzam um único parafuso ou objeto qualquer, em detrimento dos que investem em atividades produtivas, arriscam seus capitais, vivem às voltas com os sustos e traumas das sucessivas mudanças das regras econômicas e ainda são tratados com arrogância, ao invés de serem premiados pela sua utilidade.

Como se observa, portanto, repete-se, no Brasil, o mesmo conjunto de erros e de distorções que colocava o Estado romano, de 55 antes de Cristo, na iminência de falir, a ponto de forçar o tribuno Cícero a fazer sua dramática advertência, que nos cabe com exatidão, conforme observou, com rara argúcia, o jovem Marcos, que enviou a citação à redação do Correio.     

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de abril de 1993)


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