Como
na Roma antiga
Pedro J. Bondaczuk
“O orçamento nacional deve ser equilibrado. As
dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser
moderada e controlada. Os pagamentos aos governos estrangeiros devem ser
reduzidos, se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente
aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”.
Esta citação, enviada à redação por um jovem
estudante secundarista, ao contrário do que possa parecer, não é de nenhum
economista brasileiro nem dos ex-ministros Delfim Netto ou Roberto Campos. Nem
partiu de qualquer membro do atual governo ou dos passados. Sequer é recente.
Muito pelo contrário, data de 55 antes de Cristo e é de autoria do tribuno e
senador romano Marcus Tulius Cícero.
Apesar da observação ter sido feita há mais de dois
milênios, como é atual e se encaixa como uma luva à presente situação
brasileira! Conclui-se que parte considerável da culpa de estarmos atravessando
uma crise como jamais o País enfrentou antes se deve ao fato de as nossas
autoridades repetirem erros milenares, primários, palmares, inconcebíveis para
administradores com um mínimo de competência.
Equilíbrio orçamentário o Brasil nunca teve.
Orçamento entre nós é autêntica peça de ficção. Governar é definir prioridades.
Todavia, os governantes brasileiros, invariavelmente, gastam muito além dos
recursos obtidos através da arrecadação de impostos, em projetos perdulários,
quando não inúteis. Daí a necessidade de endividamento, interno e externo, e de
emissão de moeda, sem lastro na produção, causa básica da inflação brasileira.
A dívida pública, salvo em raras ocasiões, é aumentada, ao invés de reduzida.
Quanto aos pagamentos ao exterior, há alguns anos,
por causa de negociações desastrosas e obscuras, chegaram a consumir US$ 12,5
bilhões anuais somente em juros e serviços, tais como comissões e taxas de
risco, sem que o principal tivesse um único centavo de redução.
As autoridades públicas, como regra geral, mantêm
uma olímpica arrogância em relação à sociedade que representam, tratando de
assuntos do governo como se fossem coisas suas, pessoais, que pudessem dispor
ao seu bel-prazer, sem dar satisfações a ninguém.
Finalmente, há que se considerar a “ciranda
financeira”, que permite aos detentores de títulos governamentais viverem de
juros, muito superiores à inflação, auferindo lucros exorbitantes sem que
produzam um único parafuso ou objeto qualquer, em detrimento dos que investem
em atividades produtivas, arriscam seus capitais, vivem às voltas com os sustos
e traumas das sucessivas mudanças das regras econômicas e ainda são tratados
com arrogância, ao invés de serem premiados pela sua utilidade.
Como se observa, portanto, repete-se, no Brasil, o
mesmo conjunto de erros e de distorções que colocava o Estado romano, de 55
antes de Cristo, na iminência de falir, a ponto de forçar o tribuno Cícero a
fazer sua dramática advertência, que nos cabe com exatidão, conforme observou,
com rara argúcia, o jovem Marcos, que enviou a citação à redação do Correio.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 30 de abril de 1993)
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