País
mata o futuro
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil vem se especializando, há muito tempo, em
jogar fora o seu potencial mais precioso, seu maior patrimônio, sua garantia de
um futuro promissor, que são suas crianças. A mortalidade infantil entre nós,
por exemplo, é incompatível com nosso "status" internacional e
principalmente com a nossa aspiração de galgar, em curto prazo, o seleto e
restrito clube dos países do Primeiro Mundo.
O abandono de menores chega a constituir-se num
escândalo, tema predileto dos políticos em períodos pré-eleitorais e assunto
maldito assim que eles chegam ao poder. Nossos administradores invertem a
fórmula clássica de prudência, preferindo remediar a prevenir, ao deixarem de
investir em escolas para terem de gastar, anos depois, em presídios.
Não bastassem as mazelas oficiais, vêm se espalhando, como
ervas daninhas, bandos de assassinos, que se autodenominam de
"Vigilantes", de
"Justiceiros", ou algo semelhante, especializados em exterminar
crianças, como se estivessem suprimindo ratos e não vidas humanas (re por isso,
sempre preciosas).
Ontem, a diretoria da Fundação Abrinq, liderada por
empresários, entregou um "dossiê-bomba" ao presidente Fernando Collor
sobre extermínio de menores na Baixada Santista. Bandidos dessa espécie, que
enxergam em meninos e meninas pobres somente marginais em potencial, precisam
ser retirados, o quanto antes, das ruas. São matadores frios, covardes,
insensíveis, impiedosos, que certamente "já nasceram adultos". Nunca
tiveram infância.
A periferia de São Paulo já convive, há tempos, com
essas gangues. O mesmo ocorre com outras metrópoles brasileiras, mais
notadamente Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
A matança maior, todavia, acontece na violentíssima
Baixada Fluminense. O coordenador do Movimento de Meninos de Rua, Wolmer do
Nascimento, denunciou que nessa região até o juiz Rubens Medeiros, da Quinta
Vara Criminal de Duque de Caxias, está envolvido na atuação de grupos de
extermínio locais.
Triste o destino da criança brasileira! Quando
escapa do aborto de sua mãe, acaba colhida por alguma doença decorrente do
estado de miserabilidade de sua família. Se sobrevive ao período crítico de um
a cinco anos, morre, muitas vezes, de fome ou desnutrição aguda. E se escapa
heroicamente das situações anteriores, termina sendo exterminada pelos tais
"Justiceiros", ou "Vigilantes", ou seja lá o nome que
tenham esses grupos de assassinos que, apenas na Baixada Fluminense, de janeiro
a maio do ano passado, deram cabo de 184 menores naquela região.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 23 de novembro de 1990).
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