Preciosidade literária
Pedro
J. Bondaczuk
O livro de poesias
“Permanência”, de Márcia Mendes, é uma preciosidade, qualquer que seja o
aspecto que se o aborde. Sobretudo, o literário, mas não somente ele. A edição
é primorosa. Além disso, conta com prefácio e textos de orelha e contracapa
explicativos e pertinentes; E o conteúdo... é
desses de tirar o fôlego do leitor que, além de se emocionar com os
poemas, é induzido a refletir sobre aspectos importantes e até transcendentais
da vida. Apaixona-se, de imediato, pela autora. É inevitável. Nota dez,
portanto, para a editora “Mar de Letras” por este feito editorial.
A organização do livro,
ou seja, a distribuição ordenada e coerente dos poemas, coube (conforme a
própria Márcia informa) ao ilustre poeta Pedro Lyra, tido e havido, com
justiça, como “referência de grande valor na literatura brasileira
pós-modernista”, como o professor Antonio Miranda o caracteriza. Ele explica,
no texto de contracapa, qual o critério adotado na distribuição das
composições, de acordo com suas vertentes temáticas: “Nas cinco partes do
livro, subintituladas com expressivos sintagmas extraídos dos versos das peças
de abertura, ela (Márcia Mendes) reúne poemas que, numa incisiva linguagem,
abordam temas fundamentais não apenas do nosso tempo: o amor, em I) No Caminho;
o universo pessoal feminino, em II) Meu Risco; o dia a dia, em III) Vácuo da
Vida; dramas sociais e existenciais, em IV) Na Curva do Tempo; e, como em todo
poeta consciente do seu ofício, alguns aspectos do fazer poético, em V)
Urgência”.
Em textos anteriores comentei
a pertinência do título do livro e apresentei um pouco do que a autora é, fez e
pensa do mundo e da vida. Para tratar do conteúdo (que só será devidamente
valorizado pelo leitor, óbvio, pela leitura da obra), recorro a nomes ilustres
que, de alguma forma, participaram da sua edição. Como o escritor e professor
Godofredo de Oliveira Neto, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
que escreveu, na orelha de “Permanência”: “Ao consorciar a beleza da arte
poética a elevada mensagem de paz, como no poema ‘Perdidos’, que abre esta
coletânea, Márcia Mendes envolve o leitor nos mistérios cavernosos do universo
e seu eu-lírico, ao ‘se deixar beijar pelas palavras’, desbasta veredas por
onde se embrenham os mais finos versos. Entre o inconsciente e as sugestões do
pensamento, a autora busca a síntese através da linguagem”.
Já a poetisa, editora e
tradutora Thereza Christina Roque da Motta – membro da Academia Brasileira de
Poesia e do Penn Clube do Brasil – fez a seguinte observação, em determinado
trecho do prefácio
(intitulado “O dom da permanência”): “(...) O que Márcia procura ela
encontra. O que ela sente, ela diz. O que ela pensa, sente, chora, espera, ama,
ela escreve. E através dessa escrita, ela descreve o universo ao qual pertence
de modo inalienável. Sua extrema consciência de si e do outro, sua candura, sua
visão humaníssima estão presentes nos poemas desse Permanência, pois é a
permanências que os poemas buscam. Ela não sabe o que está fazendo o tempo
todo, ninguém sabe, mas ela busca, como todos buscam entender, descobrir,
desvendar e revelar naquilo que escrevem. O poeta nunca sabe quando escreverá
seu próximo poema, mas ele sempre tem de ser definitivo, como se fosse o
último, como se dividisse o tempo em antes e depois dele, por ser inesquecível.
Ninguém é o mesmo depois de ler um poema como esse. Nele está a fórmula da
eternidade e da permanência”.
Ao cabo da leitura do
livro, corroboro estas opiniões. Foram exatamente estas as impressões que
“Permanência” deixou em meu espírito. Refleti, me emocionei e, sobretudo, me
apaixonei por todos os poemas, como este, que selecionei a esmo, na
impossibilidade de reproduzir todos eles:
Farta
“Estou
farta!
Da
fome no mundo,
Da
decadência elegante,
Da
deseducação dos ricos,
Do
descaso ao semelhante,
Do
roubo, da violência, da corrupção,
Dos
falsos profetas,
Dos
falsos amores,
Das
dores, terrores e dissabores!
Morrer
é pouco.
Quero
desencobrir desejos,
Despir-me
da couraça do passado
Insosso.
Quero
o encontro da areia,
No
litoral.
Quero
suspender saberes,
Literais,
E
quem sabe
Se
no rastro do horizonte
Adentro
o sonho
De
um mundo melhor?!”
“Permanência” é,
creiam-me, uma preciosidade: literária, poética, editorial. O poeta Pedro Lyra
acentua, a propósito: “O leitor consciente se encontrará em muitas passagens
desse livro, para se ler com olhar crítico. E permanecer”. Viva você também
essa experiência estética. Confira e se embeveça, como eu fiquei embevecido.
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