Cabe a Menem uma solução
Pedro
J. Bondaczuk
A Argentina está à beira de uma nova crise militar, a
somente 17 dias da posse do presidente eleito, Carlos Saul Menem, depois da
publicação, ontem, por parte de um jornal local, de uma carta aberta, atribuída
ao coronel Mohammed Ali Seineldin, mentor da rebelião ocorrida em Villa
Martelli, em dezembro do ano passado.
Aliás, tal situação não poderia
ser sequer caracterizada com o rótulo de novidade, mas ser classificada como
uma continuação de algo que ficou sem a devida resolução no seu devido tempo.
Propalou-se, em fins de 1988, que o motim de então foi solucionado mediante um
acordo entre o governo de Raul Alfonsin e os amotinados.
A Casa Rosa, na oportunidade,
negou a existência de tal pacto, todavia sem muita convicção, como que
confirmando que o mesmo havia sido feito. Por ele, nenhum dos participantes
ativos dessa quebra de disciplina castrense seria punido por tal falta, a não
ser o seu próprio líder, o coronel Seineldin.
A carta aberta de ontem, não apenas
aludiu ao dito acordo – portanto ele existe – como acusou as autoridades de não
o terem cumprido integralmente. Embora os peronistas busquem “lavar as mãos”
para a crise militar (ou a sucessão delas), não há dúvidas de que serão eles os
encarregados da sua solução.
Afinal, o atual presidente tem,
hoje, somente 16 dias para resolver se concede ou não uma anistia aos
processados por violação aos direitos humanos durante o regime anterior.
Alfonsin, todavia, neste momento em que já começa a “limpar as gavetas” da Casa
Rosada para dar lugar ao sucessor, está muito mais preocupado com a
hiperinflação, que ameaça emplacar uma taxa inflacionária mensal recorde de até
110% no corrente mês, do que com outras questões.
Ele teme, além disso, passar para
a história como o governante que foi obrigado a voltar atrás numa atitude que
mereceu aplausos internacionais quando foi tomada, e que hoje é encarada até
mesmo com indiferença. O mais provável é que deixe esse enorme “abacaxi” para
Menem descascar.
Resta saber se a crise que ameaça
se estender, com a publicação da carta de Seineldin, não vai atingir proporções
tais que impeçam a passagem do poder, de forma antecipada, no dia 8 de julho
próximo, ao menos pacificamente. Ou se ela não seria um mero pretexto para a
ultradireita, dentro do Exército argentino, descontente com a volta do
peronismo ao governo, partir para a aventura de um desastroso golpe de Estado,
sepultando de vez a vacilante e ainda frágil democracia nesse país.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 22
de junho de 1989).
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