Vestibular
muda para melhor
Pedro J. Bondaczuk
Os exames vestibulares, grande bicho-papão de
estudantes e de pais, que causam tantas e tamanhas preocupações numa
determinada época da vida de uma boa parte da população, vão mudar. E espera-se
que a mudança seja para melhor. Já está vigorando a nova determinação do
ministro da Educação, Carlos Chiarelli, que confere autonomia às universidades
do País para a definição de datas e critérios de seleção de seus alunos.
O ideal, sem dúvida, seria o ingresso direto nos
cursos universitários, sem essa autêntica peneira. Isto seria possível se não
houvesse tamanha deficiência no ensino de 1° e 2° graus. Mas como há, que se
faça, pois, um vestibular mais racional e que realmente avalie os conhecimentos
dos vestibulandos, sem se transformar em autêntica roleta, verdadeira loteria,
como ocorria até aqui.
Detalhe importante na matéria é a portaria
ministerial disciplinando o aproveitamento das vagas, principalmente nas
universidades públicas. Atualmente, há muitas delas funcionando apenas com
metade de sua capacidade, num desperdício de recursos (provenientes de nossos
impostos, frise-se) insensato e incompreensível.
As instituições, doravante, terão que trabalhar com
classes cheias, como manda a própria lógica, num país carente de profissionais
em determinados setores e que precisa queimar etapas na trilha do seu
desenvolvimento. Os exames, da maneira como estavam dimensionados, nem sempre
aferiam o real conhecimento do vestibulando. Ademais, candidatos a cursos tão
diferentes quanto Medicina, Engenharia e Direito, para citar apenas um caso,
faziam, rigorosamente, a mesma prova.
Um pretendente a uma vaga em Letras, por exemplo,
tinha que ser expert em matemática, disciplina que posteriormente jamais
voltaria a usar (a não ser as operações básicas e uma ou outra noção de
porcentagem, juros, regras de três ou algo parecido), sob pena de não poder
seguir a carreira de seus sonhos.
Quantos talentos não foram perdidos por essa razão?
Quanta gente não precisou sufocar os seus ideais por não conseguir ultrapassar
a barreira de um vestibular, dimensionado exatamente para vedar o ingresso aos
bancos universitários para o maior número possível de pessoas?
Falta, agora, mais um pequeno complemento,
prometido, aliás, pelo ministro Chiarelli tão logo assumiu a pasta, qual seja o
da criação de cursos noturnos nas universidades públicas. Só assim o ensino
superior será realmente democratizado, corrigindo uma distorção que impedia o
acesso a ele exatamente daqueles estudantes para os quais teoricamente essas
instituições foram criadas.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 11 de agosto de 1990)
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