Sunday, November 23, 2014

Vestibular muda para melhor


Pedro J. Bondaczuk


Os exames vestibulares, grande bicho-papão de estudantes e de pais, que causam tantas e tamanhas preocupações numa determinada época da vida de uma boa parte da população, vão mudar. E espera-se que a mudança seja para melhor. Já está vigorando a nova determinação do ministro da Educação, Carlos Chiarelli, que confere autonomia às universidades do País para a definição de datas e critérios de seleção de seus alunos.

O ideal, sem dúvida, seria o ingresso direto nos cursos universitários, sem essa autêntica peneira. Isto seria possível se não houvesse tamanha deficiência no ensino de 1° e 2° graus. Mas como há, que se faça, pois, um vestibular mais racional e que realmente avalie os conhecimentos dos vestibulandos, sem se transformar em autêntica roleta, verdadeira loteria, como ocorria até aqui.

Detalhe importante na matéria é a portaria ministerial disciplinando o aproveitamento das vagas, principalmente nas universidades públicas. Atualmente, há muitas delas funcionando apenas com metade de sua capacidade, num desperdício de recursos (provenientes de nossos impostos, frise-se) insensato e incompreensível.

As instituições, doravante, terão que trabalhar com classes cheias, como manda a própria lógica, num país carente de profissionais em determinados setores e que precisa queimar etapas na trilha do seu desenvolvimento. Os exames, da maneira como estavam dimensionados, nem sempre aferiam o real conhecimento do vestibulando. Ademais, candidatos a cursos tão diferentes quanto Medicina, Engenharia e Direito, para citar apenas um caso, faziam, rigorosamente, a mesma prova.

Um pretendente a uma vaga em Letras, por exemplo, tinha que ser expert em matemática, disciplina que posteriormente jamais voltaria a usar (a não ser as operações básicas e uma ou outra noção de porcentagem, juros, regras de três ou algo parecido), sob pena de não poder seguir a carreira de seus sonhos.

Quantos talentos não foram perdidos por essa razão? Quanta gente não precisou sufocar os seus ideais por não conseguir ultrapassar a barreira de um vestibular, dimensionado exatamente para vedar o ingresso aos bancos universitários para o maior número possível de pessoas?

Falta, agora, mais um pequeno complemento, prometido, aliás, pelo ministro Chiarelli tão logo assumiu a pasta, qual seja o da criação de cursos noturnos nas universidades públicas. Só assim o ensino superior será realmente democratizado, corrigindo uma distorção que impedia o acesso a ele exatamente daqueles estudantes para os quais teoricamente essas instituições foram criadas.    

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 11 de agosto de 1990)


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