Pior ainda está para vir
Pedro J. Bondaczuk
A entrevista exclusiva
concedida, anteontem, pelo presidente iraquiano, Saddam Hussein, ao repórter
Peter Arnett, da rede norte-americana de TV “Cable News Network” (CNN) e o
pronunciamento feito por George Bush a líderes religiosos do seu país deixaram
no público uma certeza: a guerra do Golfo Pérsico está muito longe sequer de um
cessar-fogo.
Além
de tudo, ficou implícito que todo o dano já causado pelo conflito ao meio
ambiente e às populações civis é ínfimo diante do que ambos os lados pretendem
fazer. Diante de tanta irresponsabilidade e estupidez, no entanto, a opinião
pública mundial parece anestesiada.
O
mundo assiste, atônito, um desastre ecológico medonho, como o ocorrido no Golfo
Pérsico, e quase não faz nada para conter tamanha insensatez.
Na
entrevista de ontem, Saddam deixou claro que pretende usar, no momento em que
julgar oportuno, armas não convencionais, eufemismo para designar gases
tóxicos, ogivas bacteriológicas contendo vírus de doenças absolutamente letais
e bombas nucleares de campo de batalha.
É
claro que os aliados não ficarão passivos e, contando com um poder de fogo
muitíssimo superior, irão revidar com a máxima dureza. Nesta altura a cândida
declaração de Bush de anteontem, perante os líderes religiosos dos Estados
Unidos, de que não pretende destruir o Iraque, certamente deverá soar como
outra anedota, das tantas e trágicas que já foram ditas desde 2 de agosto de
1990, quando os políticos e os diplomatas de ambos os lados e dos países que se
propuseram a mediar na questão passaram a si próprios o maior dos atestados de
incompetência.
Com
certeza essa gente deve pensar que uma guerra é aquele desfile esterilizado de
heroísmo que há nos filmes, próprios para abelhas de tão açucarados que são,
onde tudo termina bem, o mocinho sobrevive, casa com a mocinha e se instaura um
período de paz e felicidade gerais.
Ocorre
que a realidade costuma ser mais fantástica do que a mais febril das fantasias.
E em casos de confrontos armados, tende a descambar para o lado da tragédia, do
macabro, do horror. Afirmar que em mais de 25 mil ações aéreas contra o Iraque
a população civil sofreu poucos danos é duvidar da inteligência dos que ouvem
tais declarações.
Dizer
que a tecnologia da morte é competente para executar “operações cirúrgicas”, de
caráter estritamente militar, é superestimar a capacidade de domínio dessa fera
que é o homem. E os pilotos, salvo provas em contrário, são humanos.
Se
a maioria esmagadora da humanidade , que saó deseja paz para poder equacionar
seus problemas pessoais, não fizer alguma coisa para deter os piromaníacos com
complexo de Napoleão, o Planeta jamais voltará a ser o mesmo lugar
razoavelmente propício de se viver, se é que os efeitos da catástrofe ecológica
ocorrida em apenas 13 dias de guerra no Golfo Pérsico já não tornou isso uma
realidade irreversível.
(Artigo
publicado na página 15, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 30 de
janeiro de 1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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