Wednesday, November 26, 2014

Pior ainda está para vir



Pedro J. Bondaczuk


A entrevista exclusiva concedida, anteontem, pelo presidente iraquiano, Saddam Hussein, ao repórter Peter Arnett, da rede norte-americana de TV “Cable News Network” (CNN) e o pronunciamento feito por George Bush a líderes religiosos do seu país deixaram no público uma certeza: a guerra do Golfo Pérsico está muito longe sequer de um cessar-fogo.

Além de tudo, ficou implícito que todo o dano já causado pelo conflito ao meio ambiente e às populações civis é ínfimo diante do que ambos os lados pretendem fazer. Diante de tanta irresponsabilidade e estupidez, no entanto, a opinião pública mundial parece anestesiada.

O mundo assiste, atônito, um desastre ecológico medonho, como o ocorrido no Golfo Pérsico, e quase não faz nada para conter tamanha insensatez.

Na entrevista de ontem, Saddam deixou claro que pretende usar, no momento em que julgar oportuno, armas não convencionais, eufemismo para designar gases tóxicos, ogivas bacteriológicas contendo vírus de doenças absolutamente letais e bombas nucleares de campo de batalha.

É claro que os aliados não ficarão passivos e, contando com um poder de fogo muitíssimo superior, irão revidar com a máxima dureza. Nesta altura a cândida declaração de Bush de anteontem, perante os líderes religiosos dos Estados Unidos, de que não pretende destruir o Iraque, certamente deverá soar como outra anedota, das tantas e trágicas que já foram ditas desde 2 de agosto de 1990, quando os políticos e os diplomatas de ambos os lados e dos países que se propuseram a mediar na questão passaram a si próprios o maior dos atestados de incompetência.

Com certeza essa gente deve pensar que uma guerra é aquele desfile esterilizado de heroísmo que há nos filmes, próprios para abelhas de tão açucarados que são, onde tudo termina bem, o mocinho sobrevive, casa com a mocinha e se instaura um período de paz e felicidade gerais.

Ocorre que a realidade costuma ser mais fantástica do que a mais febril das fantasias. E em casos de confrontos armados, tende a descambar para o lado da tragédia, do macabro, do horror. Afirmar que em mais de 25 mil ações aéreas contra o Iraque a população civil sofreu poucos danos é duvidar da inteligência dos que ouvem tais declarações.

Dizer que a tecnologia da morte é competente para executar “operações cirúrgicas”, de caráter estritamente militar, é superestimar a capacidade de domínio dessa fera que é o homem. E os pilotos, salvo provas em contrário, são humanos.

Se a maioria esmagadora da humanidade , que saó deseja paz para poder equacionar seus problemas pessoais, não fizer alguma coisa para deter os piromaníacos com complexo de Napoleão, o Planeta jamais voltará a ser o mesmo lugar razoavelmente propício de se viver, se é que os efeitos da catástrofe ecológica ocorrida em apenas 13 dias de guerra no Golfo Pérsico já não tornou isso uma realidade irreversível.


(Artigo publicado na página 15, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 30 de janeiro de 1991).

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