Beira da catástrofe
Pedro
J. Bondaczuk
A depredação e poluição
do Planeta, que atingiu o seu auge, ou está prestes a atingi-lo nesta geração,
não começou com ela. É um processo que vem de longuíssima data, desde o
princípio do que entendemos por “civilização”. É certo que passou a se acelerar
em meados do século XVIII, com a tal da Revolução Industrial e, a partir de
então, jamais deu trégua. Nunca se
desacelerou, pelo contrário, teve aceleração em progressão geométrica, de
década para década e, recentemente, de mês paras mês e quiçá já de dia para
dia.
Era lógico que isso
acontecesse, até por causa da multiplicação da população mundial. Esta levou
dezenas de milênios para atingir o primeiro bilhão. Todavia, para chegar ao
sétimo... bastaram cinqüenta anos ou menos, apesar das guerras, sobretudo das
duas mundiais, que redundaram, somadas, em pelo menos 50 milhões de mortes.
Mais pessoas, claro, resultam em mais consumo, em mais utilização de
matérias-primas não renováveis (petróleo, carvão etc.etc.etc.) e... mais
poluição. Não é preciso ser nenhum especialista para chegar a essa óbvia
conclusão. É puríssima questão de lógica, daquela tão evidente que pode ser
classificada, sem exagero, de “acaciana”.
O sociólogo e
ambientalista norte-americano Alan Durning informou, em ensaio que publicou, se
não me falha a memória nos primeiros meses de 2000: “No início dos anos 90, os
americanos médios consumiam, direta ou indiretamente, 52 quilos de materiais
básicos por dia: 18 quilos de petróleo e carvão, 13 de outros minerais, 12 de
produtos agrícolas e 9 de produtos florestais. O consumo diário nesses níveis
traduz-se em impactos globais que se equiparam às forças da natureza. Em 1990,
as minas que exploram a crosta terrestre para suprir a classe consumista moveram
mais terra e rocha do que todos os rios do mundo juntos. A indústria química
produziu milhões de toneladas de substâncias sintéticas, mais de 70 mil
variedades, muitas das quais mostraram-se impossíveis de serem isoladas do
ambiente natural. Os cientistas que estudam a neve da Antártida, os peixes de
mares profundos e as águas subterrâneas encontraram resíduos químicos feitos
pelo homem”.
Essas cifras, hoje, sem
a menor sombra de dúvida, são muito maiores. Para atualizá-las, devemos
acrescentar, sem exagero, 50% de aumento. E isso se quisermos ser
conservadores. Não é de se estranhar, pois, que o aquecimento global esteja se
acelerando e, talvez, já seja irreversível. Para o bem da humanidade, e não
apenas para nós e nossa geração, mas para nossa descendência, tomara que ainda
haja alguma possibilidade de reversão. Mas, se houver e para que ocorra, nosso
padrão de consumo, de desperdício e de depredação do meio ambiente tem que
mudar já e radicalmente. Nada, no entanto, indica que isso vá acontecer. A
conseqüência, lógica, nem precisa ser explicitada: é a pior possível. E vai
além, muito além da mais delirante e catastrofista imaginação.
O editor-chefe da
revista “Skeptik”, Michael Shermer, em entrevista publicada no suplemento
“Mais!” do jornal “Folha de S. Paulo” em 14 de setembro de 2001, alertou:. “Se
queremos entender e salvar nosso ambiente, precisamos entender que todos os
humanos destroem seu ambiente. As evidências hoje mais contundentes são de que
todas as megaextinções que aconteceram nos últimos 50 mil anos foram causadas
ou disparadas por humanos. Na invasão da América do Norte pelos nativos
americanos, havia pelo menos uma dúzia de grupos de mamíferos que foram caçados
até a extinção. Você pode detectar isso na Papua-Nova Guiné, na Nova Zelândia e
na Austrália também. O perigo é pensar que alguns grupos vivem em harmonia e
que talvez, se adotássemos seu estilo de vida, estaríamos melhor. Todos os
humanos são egoístas e inconseqüentes. Precisamos estar atentos e cautelosos
sobre as conseqüências de nossas ações”. Mas não estamos.
Esse alerta foi feito
há treze anos, quando os efeitos do aquecimento global já se manifestavam,
posto que com muito menor intensidade e velocidade. De lá para cá, o que foi
feito para racionalizar o consumo, deter o desperdício e, sobretudo, conter as
agressões e depredações à natureza? Nada! Rigorosamente nada! Perdeu-se,
praticamente, uma década e meia que, mesmo que aproveitada, esse aproveitamento
já seria tardio. E a omissão não pode e não deve ser atribuída à falta de
advertências pelos que entendem do assunto e que cansaram de tentar alertar as
autoridades mundiais para o que estava acontecendo. Em vão!
Querem um exemplo? No
início da década de 50 do século XX, o eminente físico russo Lew Kowarski, um
dos sábios cujos trabalhos com Joliot-Curie abriram caminho para a “era
nuclear” e que faleceu em 1979, alertou, em um artigo em uma determinada
revista científica: “Não quero ser profeta. Mas uma coisa é certa: no ritmo
atual, as reservas de combustíveis naturais, carvão, petróleo, gás, se
esgotarão rapidamente, tal a industrialização dos países subdesenvolvidos, a
necessidade cada vez maior dos países industrializados e o crescimento da
população mundial. Alfred Sauvy diz que no ano 2000 a Terra terá seis bilhões
de habitantes. E tudo isso é consumo”.
E olhem que seu enfoque
concentrou-se nas reservas de combustíveis fósseis, sem os quais o mundo atual
tende a parar. Mas não deixou de mencionar a questão da poluição e suas
catastróficas conseqüências ditadas pelo aquecimento global causado pela
excessiva emissão de gases, notadamente do dióxido de carbono. Afirmou, a
respeito: “Até mesmo as medidas ecológicas preventivas consomem energia. A
limitação das emissões nocivas de gás
nos carros americanos teve como resultado o aumento do consumo de
gasolina. Sem falar da poluição. Los Angeles é uma cidade morta, do ponto de
vista atmosférico. Quando ali se instalou a indústria cinematográfica, o céu
era sempre claro, ótimo para fotografia. Hoje é o reino do smog. E o mesmo está
sucedendo com as outras cidades americanas. Caso se pretenda cobrir todas as
necessidades futuras de energia com os combustíveis naturais, a poluição se
tornará insuportável. Já há certa inquietação com a possível diminuição do teor
de oxigênio da atmosfera”.
Essas advertências
foram feitas há praticamente sete décadas, espaço de uma geração inteira. Quem
lhe deu ouvidos? Ninguém! O “lobby” das petrolíferas impediu o desenvolvimento
de pesquisas no sentido de se estabelecer nova matriz energética, pelo menos
não tão poluente ou, quem sabe, nem um pouco poluente. Nesses setenta anos, a
atmosfera terrestre não parou, um único dia, um reles minuto, de ser agredida
por toneladas e toneladas de gases nocivos, ameaçadores à vida, e não somente a
humana. A natureza, que agora reage de forma ameaçadora, foi, convenhamos,
sumamente benigna com o homem, dando-lhe oportunidades imensas de cair em si e parar de agredi-la e de emporcalhá-la.
Em vão! Como ser minimamente otimista face esta realidade sombria, literalmente
à beira da catástrofe?
No comments:
Post a Comment