O problema insolúvel
Pedro
J. Bondaczuk
A maneira como
encaramos os problemas, não importa de que natureza ou complexidade, revela
muito do que somos. Uns fogem desesperados deles, como se isso fosse possível
ou “empurram-nos com a barriga”, esperando que se solucionem por si sós, ou que
se diluam e desapareçam sem deixarem vestígios. Outros, por seu turno,
arregaçam as mangas e partem para a tentativa de solução. E solucionam-nos,
sempre, mesmo que as soluções que encontrem não sejam sempre as corretas ou
adequadas. E há, até, quem “trabalhe” com eles. Há aqueles que fazem do ato de
sua resolução uma atividade profissional. Nem sempre se dão bem, mas não raro
fazem fortuna com isso e granjeiam respeito e prestígio. Problemas,
convenhamos, não nos faltam. Ademais, não avisam quando irão surgir.
Simplesmente, surgem.
É certo que quase todos
(pelo menos a maioria) são gerados por nós mesmos, por nossa ignorância, por
nosso descuido, por nossa falta de controle no que dizer e principalmente fazer
e vai por aí afora. Além do que, são de variadas naturezas. Ou seja, são
individuais ou coletivos, remotos ou próximos, permanentes ou passageiros. São
ou financeiros, ou afetivos, ou comportamentais etc.etc.etc. Ninguém, todavia,
escapa deles. Eles surgem sem aviso e nem previsibilidade, assim, de repente,
num estalar de dedos, para nos desafiar, preocupar, ameaçar ou desesperar, sem
que possamos nos prevenir contra.
Vivemos, por exemplo,
num planeta superpovoado, com mais de sete bilhões de habitantes e recebendo
novos tripulantes – à razão de três novos bebês nascidos por segundo, em média
– nessa relativamente acanhada espaçonave cósmica que singra o vazio infinito,
que é a Terra. Os espaços tornam-se cada vez menores, o ambiente crescentemente
poluído, o clima perigosamente instável dado o já não mais tão polêmico (como
muitos insensatos ainda querem dar a entender) aquecimento global. Como se vê,
é um problemão. E, pior, do tipo que pouco (ou virtualmente nada) podemos
fazer, individualmente, para solucionar, pois requer conscientização coletiva,
que não me parece (e creio que não seja) viável, para ser resolvido.
Embora este seja o
problema mais grave, dos que envolvem toda a humanidade, está longe de ser o
único. Aparentemente, não é nem o mais urgente, ou seja, imediato. Mas é dos
tais que talvez não tenham solução. E que, pela ausência dela, talvez resulte
em catástrofe, na própria extinção de nossa espécie, posto que no longo prazo
(temo, porém, que no médio, sabe-se lá). São tantos os problemas (e não importa
a dimensão ou natureza ou se individuais ou coletivos) que é rigorosamente
impossível quantificá-los. Seriam milhões? Bilhões, trilhões, quatrilhões ou
sabe-se lá quantos? Não dá para saber. Até porque, a cada instante aparecem
novos e novos e novos, sem nenhum aviso prévio e nem tempo para se prevenir.
A maneira de encarar os
problemas revela muito da nossa personalidade. O otimista, por exemplo, não os
teme e nem tenta (em vão) fugir deles. Busca sempre solucioná-los. E quanto
mais e maiores eles forem, mais privilegiado se sente. Raciocina que grandes
desafios são para pessoas aptas a enfrentá-los. Considera-se capaz de superar obstáculos,
não importa quão grandes sejam, e não abre mão de tentar, mesmo que os
problemas à sua frente pareçam (ou de fato sejam) insolúveis. Conheço muitas
pessoas que são (ou que foram por já terem morrido) assim. São as que servem de
exemplos, de paradigmas, de referenciais. São as que considero “gigantes da
espécie”.
Já o pessimista age
exatamente de forma contrária a esta descrita. Tenta fugir invariavelmente dos
problemas, mesmo dos “probleminhas” que com um pouco de paciência, bom-senso e
atenção, são facilmente solucionáveis. Vive reclamando de tudo e de todos,
atribuindo seus infortúnios a terceiros, nunca às próprias deficiências e
omissões. Passa pela vida, mas não vive. Limita-se a sobreviver. Encara cada
dia como um peso, um tormento, um castigo e não como privilégio ou mesmo como
desafio digno de ser encarado e vencido. Talvez fosse pensando nesse tipo de
pessoa que o escritor André Malraux tenha feito esta indagação: “Que noção do
homem a civilização da solidão, aquela que separa de todas as outras a posse
dos gestos humanos, saberá tirar da sua angústia?”. Sim, qual?
Só há um jeito de
conquistar a grandeza (do espírito e do intelecto): sendo grande!. É empenhando
toda nossa inteligência e talento na solução de problemas, quer individuais,
quer coletivos, não importa quais e quantos sejam. É apostando todas nossas
fichas no permanente, no durável, no infinito e no transcendente. A escritora
francesa Freya Madeleine Stark assinalou que “o amor do estudo é um elo
agradável e universal, pois trata do que a gente é e não do que a gente tem”.
Afinal, nossa efemeridade impede que, de fato, “tenhamos” o que quer que seja.
Temos, quando muito, posse transitória sobre objetos que nomeamos,
arrogantemente, como “nossos”, até que a morte nos colha, sorrateiramente e sem
aviso, em qualquer instante e lugar. E este é um problema que ninguém nunca
conseguiu e jamais conseguirá resolver: o da efemeridade.
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