Poluição, praga apocalíptica
Pedro J.
Bondaczuk
A poluição ambiental, a ameaça das armas nucleares, a
violência crescente e as distorções econômicas que aumentam os contingentes de
miseráveis no Planeta são, certamente, os maiores problemas que precisam ser
equacionados pela humanidade nestes treze anos finais do segundo milênio da Era
Cristã.
Alguns deles colocam em risco a
vida animal e vegetal e representam magníficos desafios para técnicos,
cientistas e planejadores. Seria uma atitude até acaciana afirmar que a água e
o ar são elementos vitais para os seres humanos, tão óbvio isso parece. No
entanto, são exatamente eles os que menos cuidados têm merecido por parte da
maioria das pessoas, que não se dão conta dos riscos enormes que estão correndo
com o seu descuido.
Rios, mares, lagos e até
reservatórios destinados a abastecer do precioso líquido as grandes cidades
mundiais estão, hoje em dia, impregnados de substâncias danosas, quando não
venenosas para os que as ingerem. Em novembro do ano passado, por exemplo, dois
vazamentos de produtos químicos, numa unidade fabril da Suíça e em outra da
Alemanha Ocidental, virtualmente “mataram” o tradicional Rio Reno, cantado e
decantado, em verso e prosa, por sua utilidade a uma vasta parte da Europa.
Agora, não menos conhecido e importante
Volga, na União Soviética, corre risco idêntico de se transformar em mero
esgoto a céu aberto.
Se fôssemos enumerar os cursos de
água “assassinados” pelo homem, iríamos longe, muito longe. Entre nós mesmos,
todos os dias, esse tipo de desleixo ocorre a toda a hora, extinguindo vida e
pureza, que jamais serão repostos e que farão falta enorme à humanidade, não em
séculos, mas em décadas ou até muito menos do que isso.
O irônico é que a poluição do ar,
por si só nociva, afeta diretamente as águas. São os casos das famosas “chuvas
ácidas”, conhecidas desde 1872, quando o britânico Robert Angus Smith as
pesquisou na região industrial de Manchester, mas que só agora têm vindo à
baila entre técnicos e preservacionistas.
Estudos de circulação
atmosférica, realizados nos Estados Unidos, constataram que para a ocorrência
desse fenômeno não é necessário que haja uma fonte poluidora de caráter
industrial nas proximidades. Indústrias situadas no Nordeste, por exemplo,
desde que lancem poluentes na atmosfera, podem provocar uma precipitação ácida
na Amazônia, comprometendo a qualidade do líquido da maior bacia hidrográfica
do Planeta.
A acidificação afetou 2.500 lagos
na Suécia, 1.750 na Noruega e 20% dos existentes no Canadá, causando grande
mortandade de peixes. Para que o leitor tenha uma idéia do que a poluição
representa em termos de riscos, basta dizer que, conforme relatório de técnicos
da Organização das Nações Unidas, cerca de cinco milhões de toneladas de
enxofre e vinte milhões de toneladas de nitrogênio são lançadas anualmente pelo
homem na atmosfera terrestre.
Não é de se admirar, pois, que os
casos de doenças respiratórias tenham aumentado tão drasticamente. E nem que o
câncer de pele tenha evoluído de forma alarmante. O perigo, no entanto, não
está especificamente nesses dois elementos químicos. Outros metais, de
altíssima toxicidade, como o mercúrio, o chumbo, o cobre, o zinco e o cádmio,
podem atingir as águas subterrâneas, poluindo as fontes que geram os rios,
lagos e correntes usados para prover as cidades de água potável.
Por isso, é que alguns já
afirmam, não sem razão, que a praga prevista no Apocalipse para o final dos
tempos, em que todos os mananciais líquidos da Terra se transformariam em
sangue, já está em andamento. E como todos os castigos bíblicos, esse também é
determinado pelo próprio homem, que é o que sofre diretamente as conseqüências
da sua insensatez.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 27
de março de 1987).
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