Desprezo
é como bumerangue
Pedro J. Bondaczuk
Os aposentados, depois de toda uma vida de trabalho
e sacrifícios, dando sua inestimável contribuição para o desenvolvimento do
País, até hoje, estranhamente, são prejudicados, ao invés de premiados pelo seu
esforço e perseverança, assim que se afastam do trabalho.
O tratamento que lhes tem sido dispensado é não
somente injusto, como, sobretudo, desumano. A edição, nesta semana, pelo
presidente Collor de Mello, de medida provisória alterando o sistema de aposentadoria,
pensões e contribuições da Previdência Social, corrige, em parte, essa
distorção. Mas ainda está muito distante do ideal.
Aliás, não somente em relação aos aposentados, mas
aos idosos em geral, o tratamento que lhes é dispensado pelo homem contemporâneo
é estranho e insensato. Comportamentos cristalizam-se através dos tempos e se
tornam até mecânicos, automáticos, inconscientes.
O pouco-caso com que as pessoas mais velhas são
tratadas pelas mais jovens é, sobretudo, uma armadilha para quem age assim. A
juventude eterna não passa de um sonho, de um mito, de um ideal, de uma
aspiração. Evidentemente, não existe.
O mesmo tratamento que o cidadão de menor idade
dispensar hoje aos anciões voltará para ele próprio, como um bumerangue, quando
envelhecer. Afinal, embora óbvio (mas ninguém procura se conscientizar disso,
por se tratar de uma idéia assustadora), o envelhecimento é uma fatalidade
biológica. Ninguém consegue fugir dele.
As pessoas idosas perdem, evidentemente, com o
tempo, o vigor físico. Mas a natureza, em sua sabedoria, confere-lhes algo
muito mais precioso, que apenas os anos podem dar: a experiência. Portanto,
julgar que alguém, somente pelo fato de ter mais de 65 anos, se tornou inútil;
tratar esse ser humano como se ele fosse um estorvo; agir com impaciência em
relação a ele é, não somente um ato de desumanidade, mas, sobretudo, de
burrice.
É jogar fora um potencial produtivo imenso e que na
atual sociedade consumista do “prêt-à-porter”, onde nada ganha durabilidade e
permanência, é uma atitude comum. A escritora Margareth Mead escreveu a esse
respeito: “Os que negligenciam os velhos, os segregam, são aqueles que morrem
de medo de envelhecer – e que viverão dominados pelo pavor da idade e do
amadurecimento...Mas será preciso perguntar: se os velhos se repetem, não será
por que ninguém os ouve? Se os velhos ficam diante da televisão (a maneira mais
rápida e mais tétrica de envelhecer), não será por que ninguém fala com eles?”
O importante é que, a menos que tenhamos velhos com que possamos nos
identificar positivamente, vamos passar a vida com medo da idade.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 22 de setembro de 1990)
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