Ignorando o perigo
Pedro
J. Bondaczuk
O aquecimento global,
ao que tudo indica, vem ocorrendo com muito maior rapidez do que os
climatologistas, até não faz muito, acreditavam. Imensas geleiras nas regiões
polares, do tamanho de países de médio porte inteiros, com milhares de anos de
existência, estão, literalmente, desaparecendo. Ou melhor, estão derretendo,
com suas águas vazando para os oceanos. E o processo não só é contínuo, como
crescentemente acelerado. Há provas concretíssimas dessa ocorrência, com muitas
e muitas imagens do fenômeno e, mesmo assim... muitos teimam, estupidamente, em
negar o que é tão claramente comprovável e comprovado. Pior, quem poderia (e
deveria) deter o processo (caso a detenção ainda seja possível), com medidas
saneadoras imediatas, que a cada dia que passa se tornam mais e mais urgentes,
não só se recusam a fazê-lo, como até negam que o aquecimento esteja em
andamento e, principalmente, de forma tão acelerada.
O pior que poderia
acontecer está acontecendo. Não somente as geleiras estão derretendo, e a uma
velocidade espantosa, como, para complicar, o mesmo está acontecendo com o
“permafrost”. Para o leitor não afeito a questões geológicas, cabe uma
explicação. Tentarei ser o mais didático possível. A palavra é uma espécie de
neologismo, utilizado, pela primeira vez em 1943, pelo professor e geólogo
Siemon William Muller (autor do livro “Frozen in time”). É uma junção dos
termos “perma” (do inglês “permanent”) e
“frost” (“congelado”). Permafrost, portanto, é o “permanentemente congelado”. É
uma espécie de solo formado por terra, gelo e rochas e que nunca descongela,
não pelo menos por completo. Sua espessura varia. No inverno chega a 300 metros
de profundidade e no verão, atinge, em média, dois metros. Mas nunca
desaparece. Não, pelo menos, em condições normais. Ou melhor, não desaparecia.
Mas está desaparecendo.
Esse tipo de solo é
característico das regiões polares, sobretudo do Ártico e arredores. Recobre
uma área extensíssima, muito maior do que o Brasil inteiro, ou seja, 13 milhões
de quilômetros quadrados. Cerca de 63% do território da Rússia é constituído
por permafrost. Como se vê, não é pouca coisa. E por que é essencial que esse
tipo de solo se mantenha íntegro e não desapareça? Porque ele atua (ainda que
mal comparando) como uma espécie de rolha que impede que imensas reservas de
gás metano e de dióxido de carbono retidas no subsolo vazem pára a atmosfera. E
sabem o que está ocorrendo? Vastas extensões de permafrost estão desaparecendo.
Por conseqüência, os citados gases não param de escapar, realimentando o
processo de aquecimento global de maneira que talvez já seja até incontrolável.
Cientistas integrantes
do Permafrost Carbon Research Network calculam que nos próximos 30 anos cerca
de 45 bilhões de toneladas métricas de carbono originado do gás metano e do CO2
chegarão à atmosfera. O volume equivale à emissão de gases do efeito estufa de
cinco anos provenientes da queima de combustíveis fósseis como petróleo e
carvão, por exemplo. O pior de tudo é que, cooptados por lobies de poderosas
corporações petrolíferas supranacionais, muitos pseudo-especialistas em clima
teimam em negar que a Terra esteja se aquecendo em decorrência da ação
humana. E quem poderia e deveria deter
esse processo suicida, os políticos (justo eles!) lhes dá ouvidos e nada faz.
Dia desses, foi
detectada, na região Norte da Sibéria, uma profunda cratera, que causou pasmo
nos cientistas. A hipótese inicial era a de que a área, ou seja a Península de
Yamal (nome que pode ser traduzido como “o fim do mundo”), fora atingida por um
meteorito. Uma expedição, enviada para o local para investigar o fenômeno,
todavia, concluiu que o imenso buraco foi causado, na verdade, pelo aquecimento
global. Ou seja, pelo desaparecimento de um enorme pedaço de solo
“permanentemente congelado”, ou permafrost. Um canal de televisão russo, que se
deslocou para a região, inclusive, disponibilizou um vídeo da tal cratera no
Youtube, para quem quiser ver. Pena que poucos queiram. Pena que um perigo tão
iminente e potencialmente catastrófico, como este, seja deliberadamente
ignorado, como se a humanidade agisse como se atribui á avestruz que, diante do
que a ameace, preferiria esconder a cabeça na areia, como se, não vendo o que a
pudesse destruir, se livraria da destruição. No caso da ave, isso não passa de
lenda. Ela não age dessa maneira. No da humanidade, porém... este parece ser
procedimento até corriqueiro. Voltarei, certamente, ao tema, oportunamente, por
se tratar de algo que já não pode mais ser ignorado. Afinal, alienação tem
limite!!!
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