Monday, November 17, 2014

Ignorando o perigo

Pedro J. Bondaczuk

O aquecimento global, ao que tudo indica, vem ocorrendo com muito maior rapidez do que os climatologistas, até não faz muito, acreditavam. Imensas geleiras nas regiões polares, do tamanho de países de médio porte inteiros, com milhares de anos de existência, estão, literalmente, desaparecendo. Ou melhor, estão derretendo, com suas águas vazando para os oceanos. E o processo não só é contínuo, como crescentemente acelerado. Há provas concretíssimas dessa ocorrência, com muitas e muitas imagens do fenômeno e, mesmo assim... muitos teimam, estupidamente, em negar o que é tão claramente comprovável e comprovado. Pior, quem poderia (e deveria) deter o processo (caso a detenção ainda seja possível), com medidas saneadoras imediatas, que a cada dia que passa se tornam mais e mais urgentes, não só se recusam a fazê-lo, como até negam que o aquecimento esteja em andamento e, principalmente, de forma tão acelerada.

O pior que poderia acontecer está acontecendo. Não somente as geleiras estão derretendo, e a uma velocidade espantosa, como, para complicar, o mesmo está acontecendo com o “permafrost”. Para o leitor não afeito a questões geológicas, cabe uma explicação. Tentarei ser o mais didático possível. A palavra é uma espécie de neologismo, utilizado, pela primeira vez em 1943, pelo professor e geólogo Siemon William Muller (autor do livro “Frozen in time”). É uma junção dos termos “perma”  (do inglês “permanent”) e “frost” (“congelado”). Permafrost, portanto, é o “permanentemente congelado”. É uma espécie de solo formado por terra, gelo e rochas e que nunca descongela, não pelo menos por completo. Sua espessura varia. No inverno chega a 300 metros de profundidade e no verão, atinge, em média, dois metros. Mas nunca desaparece. Não, pelo menos, em condições normais. Ou melhor, não desaparecia. Mas está desaparecendo.

Esse tipo de solo é característico das regiões polares, sobretudo do Ártico e arredores. Recobre uma área extensíssima, muito maior do que o Brasil inteiro, ou seja, 13 milhões de quilômetros quadrados. Cerca de 63% do território da Rússia é constituído por permafrost. Como se vê, não é pouca coisa. E por que é essencial que esse tipo de solo se mantenha íntegro e não desapareça? Porque ele atua (ainda que mal comparando) como uma espécie de rolha que impede que imensas reservas de gás metano e de dióxido de carbono retidas no subsolo vazem pára a atmosfera. E sabem o que está ocorrendo? Vastas extensões de permafrost estão desaparecendo. Por conseqüência, os citados gases não param de escapar, realimentando o processo de aquecimento global de maneira que talvez já seja até incontrolável.

Cientistas integrantes do Permafrost Carbon Research Network calculam que nos próximos 30 anos cerca de 45 bilhões de toneladas métricas de carbono originado do gás metano e do CO2 chegarão à atmosfera. O volume equivale à emissão de gases do efeito estufa de cinco anos provenientes da queima de combustíveis fósseis como petróleo e carvão, por exemplo. O pior de tudo é que, cooptados por lobies de poderosas corporações petrolíferas supranacionais, muitos pseudo-especialistas em clima teimam em negar que a Terra esteja se aquecendo em decorrência da ação humana.  E quem poderia e deveria deter esse processo suicida, os políticos (justo eles!) lhes dá ouvidos e nada faz.

Dia desses, foi detectada, na região Norte da Sibéria, uma profunda cratera, que causou pasmo nos cientistas. A hipótese inicial era a de que a área, ou seja a Península de Yamal (nome que pode ser traduzido como “o fim do mundo”), fora atingida por um meteorito. Uma expedição, enviada para o local para investigar o fenômeno, todavia, concluiu que o imenso buraco foi causado, na verdade, pelo aquecimento global. Ou seja, pelo desaparecimento de um enorme pedaço de solo “permanentemente congelado”, ou permafrost. Um canal de televisão russo, que se deslocou para a região, inclusive, disponibilizou um vídeo da tal cratera no Youtube, para quem quiser ver. Pena que poucos queiram. Pena que um perigo tão iminente e potencialmente catastrófico, como este, seja deliberadamente ignorado, como se a humanidade agisse como se atribui á avestruz que, diante do que a ameace, preferiria esconder a cabeça na areia, como se, não vendo o que a pudesse destruir, se livraria da destruição. No caso da ave, isso não passa de lenda. Ela não age dessa maneira. No da humanidade, porém... este parece ser procedimento até corriqueiro. Voltarei, certamente, ao tema, oportunamente, por se tratar de algo que já não pode mais ser ignorado. Afinal, alienação tem limite!!!


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