Choque fiscal
Pedro J. Bondaczuk
O ministro da Fazenda, Paulo
Haddad, deve ter voltado muito frustrado da sua viagem aos Estados Unidos,
apesar de dizer, em todas as entrevistas que deu, que considera bastante
positivo este primeiro contato de um membro de alto escalão do governo Itamar
Franco com a comunidade financeira internacional.
Volta de mãos vazias, sem nenhum
resultado a apresentar que indique a iminência da renovação do acordo do Brasil
com o FMI, que possibilite ao País contar com os US$ 4 bilhões que esperava
obter da instituição multilateral. Nem conseguiu que sua tese de combate à
inflação com moderado reaquecimento da economia fosse levada a sério. Regressa
da mesma forma que embarcou na semana passada: de mãos absolutamente vazias.
Esta, porém, não é a parte pior.
O lado mais negativo dos contatos de Haddad nos Estados Unidos é a constatação
de que o Fundo Monetário Internacional não está disposto a modificar o seu
receituário para economias doentes, como é a brasileira. Insiste em estratégias
recessivas, indiferente às implicações sociais que tais medidas possam ter.
O diretor-gerente do FMI, Michel
de Camdessus, deixou isto bem claro ao ministro da Fazenda, durante encontro
que ambos tiveram na terça-feira. Recomendou ao governo Itamar Franco que
aplique um “choque fiscal” ainda este ano, para conseguir arrecadação excedente
de US$ 24 bilhões e, dessa forma, zerar o déficit público, principal causador
da explosão inflacionária.
O que isso significa, trocado em
miúdos, para o cidadão comum? Uma brutal elevação da intolerável carga de
impostos, com a conseqüente necessidade do cerco sem tréguas aos sonegadores,
corte de subsídios e demissão de servidores.
Claro que o governo Itamar, que
assumiu o poder sem planos de qualquer espécie, não tem cacife para um jogo tão
pesado. Falta-lhe respaldo político. Se a criação do Imposto Provisório sobre
Movimentação Financeira, o malfadado IPMF, vem encontrando tamanha resistência
da sociedade, imaginem o que ocorreria se o presidente se dispusesse a retirar
do setor privado quatro vezes mais recursos do que teoricamente esse tributo
deve gerar!
A parte pior, porém, nem é esta.
Um choque fiscal, como o FMI sugere – para não dizer impõe – agravaria a
recessão a um nível nunca visto no País. Economistas estimam que as taxas de
desemprego aberto, que giram, atualmente, ao redor de 5,5%, explodiriam para a
casa dos 18%.
Haveria, em tal circunstância,
quem conseguisse evitar uma convulsão social, maior do que aquela que hoje se
manifesta através dos arrastões e dos saques a supermercados? Nem é bom pagar
para ver!
Claro que o ministro Haddad não
vai recomendar essa “receita” ao presidente Itamar. Aliás, há uma certa
incoerência dos organismos multilaterais. Enquanto prometem apoio para projetos
de combate à miséria nos países do Terceiro Mundo, fazem exigências que, se
cumpridas, agravariam o quadro já bastante trágico da miserabilidade.
Os sofrimentos que um “choque
fiscal” geraria entre a população desvalida talvez fosse de tal intensidade que
os limites de tolerância viessem a ser ultrapassados. As conseqüências não são
possíveis de se prever. Mesmo que seja o mais catastrofista de todos os
pessimistas do Planeta.
(Artigo publicado na página 2,
Opinião, do Correio Popular, em 13 de fevereiro de 1993).
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