Jornalista é eleito
para a ABL
Pedro
J. Bondaczuk
A cadeira de número 32
da Academia Brasileira de Letras, ocupada por Ariano Suassuna até sua morte
(ocorrida em 23 de julho de 2014, no Recife), já tem novo dono. Trata-se do
premiadíssimo e consagrado jornalista Zuenir Ventura, de 83 anos, que foi
eleito ontem (30 de outubro de 2014), por 35 dos 37 votos atribuídos. Os outros
dois foram para seus ilustres concorrentes: o poeta amazonense Thiago de Mello
(autor do antológico “Estatuto do Homem”) e a escritora paraense Olga Savary.
Os três merecem assento na casa fundada por Machado de Assis, por seus
inegáveis méritos literários e riquíssimos currículos (o que nem sempre
acontece, convenhamos). Mas somente um tinha que ganhar. E este foi meu ilustre
colega de profissão.
Corporativismo á parte,
entendo que a cadeira de número 32 – que já foi ocupada por Carlos de Laet,
Ramiz Galvão, Viriato Correia, Joracy Camargo, Genolino Amado e, por último,
por Ariano Suassuna – estará, doravante, em muito boas mãos. Como, ademais,
também estaria caso os acadêmicos optassem por Thiago de Mello ou por Olga
Savary. Espero que os dois que não foram eleitos não desistam da postulação e
disputem outra cadeira, em nova oportunidade, pois sua presença na ABL apenas
enriqueceria (ou enriquecerá) essa nobre casa de arte e de cultura.
Zuenir Ventura,
mineiro, nascido na cidade de Além Paraíba, em 1ª de junho de 1931, fez uma
carreira jornalística impecável. Rigoroso na apuração dos fatos, como manda o
manual do bom jornalista, nunca se descuidou do texto, da forma de expressar
idéias, fazendo-o com elegância, correção e simplicidade, características dos
bons escritores. Sempre soube misturar, na dose certa, sem nunca errar na mão,
emoção e razão, conquistando, dessa forma, a indispensável credibilidade e, por
conseqüência, a fidelidade dos leitores. Atualmente, é um dos colunistas mais
lidos e respeitados do tradicional “O Globo”. Zuenir Ventura é tão emotivo, que
na noite de ontem (30 de outubro de 2014), deu um susto daqueles nos amigos e
admiradores. Sentiu-se mal, durante jantar comemorativo de sua vitória, tendo
que ser hospitalizado. Felizmente, parece que não era nada sério. Tanto que já
recebeu alta. Sem essa, camarada! Pare de assustar seus admiradores, entre os
quais me incluo!!
Zuenir tem pouca
experiência no terreno da ficção. Tanto que seu primeiro livro ficcional, o
romance “Sagrada família”, foi publicado, somente, em 2012, pela Editora
Alfaquara. Na obra, todavia, esbanja talento, como veterano romancista (que não
é), recontando, com graça e bom-humor, as complicadas relações de uma família
da serra fluminense, numa história que situa no ano de 1940. Seus personagens
(como Tia Ninoca, por exemplo), são fascinantes, inesquecíveis e marcantes,
porquanto são humanos e simples, como cada um de nós. A história é narrada do
ponto de vista de um menino, que reconta episódios de amores e enganos, porém,
com desfechos nada óbvios. Aliás, pelo contrário: são todos inesperados e,
portanto, surpreendentes.
O fato de Zuenir
Ventura não haver se dedicado à ficção não faz dele menos escritor que
romancistas, com cinco, dez ou vinte romances no currículo. Afinal, é extraordinário
cronista e a crônica, como todos sabem, é um gênero literário dos mais
apreciados (e complexos, ao contrário do que muitos supõem). Como jornalista,
conquistou os maiores e mais importantes prêmios da profissão, como o
cobiçadíssimo Esso e o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Aliás,
nessa área, é imbatível. E não exagero. Querem uma prova? Pois lá vai. Em 2008,
Zuenir Ventura recebeu das Nações Unidas um troféu especial como um dos cinco
jornalistas que “mais contribuíram para a defesa dos direitos humanos no país
nos últimos 30 anos”.
Seus livros são dos
tais que põem o dedo na ferida de casos em que pessoas foram desrespeitadas no
que têm de mais fundamental: sua vida e liberdade. Cito, entre estes, “1968 – O
ano que não acabou” (Editora Nova Fronteira e republicado pela Editora
Planeta);”Cidade Partida” (com o qual conquistou o Prêmio Jabuti de reportagem
de 1995, Companhia das Letras); “Inveja: mal secreto” (Editora Objetiva),
“Chico Mendes: crime e castigo” (Companhia das Letras) e “1968 – O que fizemos
de nós” (Editora Planeta). Como se vê, a cadeira que foi de Ariano Suassuna
estará em ótimas mãos. Antes que me esqueça, destaco que Zuenir Ventura foi
eleito, em 2010, “O Jornalista do Ano”, pela “Associação dos Correspondentes Estrangeiros”.
A casa de Machado de Assis, como se nota, sai enriquecida com a sua eleição.
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