Infinito e eternidade
Pedro J.
Bondaczuk
O infinito e a eternidade são dois conceitos muito citados, mas não
compreendidos por ninguém. Não há como compreendê-los. Um, refere-se ao espaço,
tão extenso que não teria início e nem fim. Você consegue entender, mas
entender mesmo algo assim? Claro que não, ora, ora. Já a eternidade tem a ver
com tempo. Como o infinito, nunca começou e jamais terminará. Como conceitos
desse porte podem caber em mentes limitadíssimas, como as nossas, de dimensões
ínfimas e, sobretudo, perecíveis? Não cabem. Sempre que quero exercitar o
cérebro à exaustão, antes de empreender algum novo projeto literário, medito
nisso. Não chego a nenhuma conclusão, claro. Mas considero essa atividade
insuperável exercício mental.
Andei comparando as opiniões de alguns gênios a esse propósito;
Fernando Pessoa, por exemplo, aposta em nossa impossibilidade de entender esses
conceitos. Concordo com ele. O notável escritor dos heterônimos escreveu: “Se o
nosso espírito pudesse compreender a eternidade, ou o infinito, saberíamos
tudo. Até podermos entender esse fato, não podemos saber nada”. Os cientistas,
todavia, acham que entendem os dois conceitos. E negam a existência de ambos.
“Determinam”, por exemplo, os limites do universo, que volta e meia são
forçados a revisar, sempre que os telescópios alcançam mais longe. Não faz
muito, afirmavam que o ponto final dessa imensidão absurda situava-se a oito
bilhões de anos-luz. Atualmente, estenderam-no a por volta de treze bilhões de
anos-luz. Tolice. Admitam que isso não passa de mero “chute”, ora bolas.
O pitoresco é que, quando você questiona essa delimitação, é olhado com
menosprezo, como se fosse o suprassumo da ignorância. Esses cientistas recorrem
a complexos cálculos matemáticos, portanto lógicos, para fundamentarem suas
conclusões. Mas quem garante que a lógica rege o universo? Ou, pelo menos, que
se trata desta “lógica” humana, e não de outra, infinitamente mais complexa e
misteriosa? Assim como a noção de infinito, cuja existência os cientistas
negam, também a eternidade é negada. Parece-lhes absurda. E para rebater o que
lhes parece sem sentido, recorrem a outro absurdo ainda maior, o tal do “Big
Bang”.
Afirmam, com a convicção de quem tivesse testemunhado todo o processo,
que tudo o que compõe o universo – galáxias, estrelas, planetas, cometas,
meteoros etc. etc. etc. – estava tão comprimido que sua dimensão era
equivalente a uma ínfima cabeça de alfinete ou algo menor. A pressão de tamanha
compressão era, no seu entender, absurda de tão elevada. Era tanta, que
“explodiu” espetacularmente, dando origem a tudo o que existe. Minha mente
cartesiana teima em não aceitar essa teoria, que atualmente atinge foros de
“verdade”. Ora, ora, ora.
Algumas coisas os adeptos dessa “explicação” das origens de tudo o que
há, nunca conseguiram (e duvido que consigam) explicar. Por exemplo, onde
estava essa matéria sumamente concentrada e comprimida antes do dito “Big
Bang”? Estava, afinal, em algum lugar, em algum espaço. E quando esse
aglomerado tão comprimido começou a se formar? E antes da sua formação, o que
havia? Não, eles não explicam coisíssima alguma com sua teoria. Somente
complicam as coisas já tão complicadas por si sós. Sobre a impossibilidade de
entendimento do conceito de infinito, o escritor português, Almeida Garrett,
tem uma teoria que até faz sentido. Escreveu: “A culpa é talvez da palavra, que
é abstrata demais. Saúde, riqueza, miséria, pobreza e ainda coisas mais materiais, como o frio e o
calor, não são senão estados comparativos, aproximativos. Ao infinito não se
chega, porque deixava de o ser em se chegando a ele”. Querem coisa mais lógica?
José Saramago, por seu turno, nega a eternidade. Raciocina,
claro, em termos humanos, cuja vida tem fim e não raro até precocemente.
Racionalmente, não conseguimos conceber algo ou alguém que nunca teve início e
jamais terminará. “Como?!”, perguntamos perplexos, mas com uma infinidade de
exclamações, quando pensamos a respeito. Sim, como?!!!! Saramago escreveu:
"A eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e o Universo não
saberá que nós existimos". Bem, saber, saber, não saberá mesmo. Mas a
eternidade que não existe é a humana. Outras... Não ponho a mão no fogo.
Albert Einstein, cuja Teoria da Relatividade revolucionou
as ciências, acreditava em infinito. E, para ele, duas coisas tinham essa
característica: o universo e a estupidez humana. Claro que esta última se
tratava de metáfora do genial, e também bem-humorado cientista. Para reforçar o
efeito de sua observação, Einstein aduziu: “Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a
certeza absoluta”. Ou seja, deu a entender que certo, mas certo mesmo, estava
somente de que a estupidez humana era infinita. Não sei se ela não tem fim
(provavelmente terá, se ou quando a espécie humana se extinguir), mas que é
ostensiva e que incomoda demais, disso não há como duvidar. Voltarei
oportunamente ao tema.
No comments:
Post a Comment