Aiatolás pecam pela retórica
Pedro J.
Bondaczuk
A retórica dos aiatolás que dirigem o Irã, prometendo
vinganças e retaliações contra todas as potências, a torto e a direito,
dependendo do incidente em que o país se envolve, tem feito um grande estrago para
a imagem iraniana, em nível de opinião pública mundial.
Mas se alguém se detiver para
fazer uma análise serena das ações do governo, nestes quase nove anos de
Revolução Islâmica, verá que, à exceção da guerra do Golfo Pérsico, onde, é
lógico, o país precisa se defender e se empenhar para vencer o conflito (já
dizia um pensador antigo, “ai dos vencidos”), os demais atos extremos,
atribuídos a eles, não correspondem à realidade dos fatos. Eles têm sido mais
vítimas de ações radicais dos outros do que possíveis agressores.
Por exemplo, além da morte dos
290 passageiros do Airbus A-300, abatido, insensatamente, no domingo, pelo
cruzador “USS Vincennes”, os iranianos tiveram a lamentar, ainda, em julho do
ano passado, aa perda de mais de 400 peregrinos, que foram a Meca, cumprir suas
obrigações religiosas.
Até se admite que eles pudessem
ter errado e provocado tumulto na cidade, naquela oportunidade. Mas o que nos
parece ter sido excessivo, pelo trágico resultado, foi o modo de reprimir esses
atos de caráter político. Para arruaceiros existem prisões.
Se a moda de matar quem se
exalte, ou se exceda em manifestar sua opinião, pegar, o mundo estará perdido.
Vão faltar sepulturas para tanta gente que será vitimada. Ademais, observe-se o
seguinte detalhe: os iranianos retiveram, por 444 dias, 52 reféns
norte-americanos. É óbvio que o ato de seqüestrar pessoas não pode ser
justificado em nenhuma circunstância.
Mas ao longo de todo esse período
(extenuando, é verdade, do ponto de vista psicológico), nenhum dos cativos
morreu. Pelo contrário, todos foram repatriados, no dia da posse de Ronald
Reagan na presidência dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 1981, sãos e
salvos.
Houve relatos de ex-prisioneiros
que se internaram em hospitais, com problemas psíquicos e outros chiliques de
quem sempre teve tudo o que quis e que não suporta período algum de privações.
Mas ninguém perdeu a vida por causa disso.
O Irã foi acusado de ser mentor
de seqüestros de aviões e de cidadãos depois disso. De estar por trás do ataque
suicida contra o quartel das forças norte-americanas em Beirute, que redundou
na morte de mais de 200 soldados. E de outras tantas atrocidades, sem que
ninguém jamais provasse a sua participação nesses atos.
Mas, em momento algum sua polícia
trucidou quatro centenas de estrangeiros, como ocorreu na Arábia Saudita. E nem
sua artilharia abateu qualquer avião comercial de passageiros, nem do seu mais
radical inimigo, o Iraque. Os aiatolás, portanto, que nunca mostraram
radicalismo exacerbado nas suas ações, precisam aprender, com urgência, a
policiar aquilo que dizem.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 7
de julho de 1988).
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