Wednesday, November 19, 2014

SOS zona central


Pedro J. Bondaczuk


As cidades são como as pessoas que nelas vivem. Têm personalidade, caprichos, peculiaridades, mas também envelhecem, e ficam decadentes, caso não sejam cuidadas. Em especial, em suas áreas centrais isso acontece com mais freqüência. Esse fenômeno ocorreu, por exemplo, com São Paulo, onde o centro antigo se transformou numa espécie de gueto, de favela vertical, perdendo a nobreza e a importância que ostentou em seus tempos áureos.

O mesmo se verifica com outras metrópoles mundiais, como Nova York, Paris, Londres, Amsterdam etc. Campinas está ameaçada de passar por idêntico processo, o que seria uma pena. Afinal, não há porque não considerar todos os espaços de uma cidade como sendo importantes, nobres, dignos de total atenção.

Com o objetivo de encontrar formas e caminhos para a revitalização da área central campineira, o Centro Cultural Victória está promovendo um ciclo de debates, com extensa e variada pauta, em quatro segundas-feiras, sendo que os primeiros foram realizados nos dias 17 e 24 passados, com a conclusão prevista para 7 de junho. Participam das discussões profissionais de relevo da cidade, como engenheiros, arquitetos, professores e lojistas, além de vários secretários municipais.

São os casos, por exemplo, de Luiz Roberto Liza Curi, da Secretaria de Cultura, que no dia 17 enfocou o tema “Papel do Condepacc na Revitalização do Centro”. Ou de Ulisses Cidade Semeghini, titular da pasta de Planejamento, que abordou, nesta segunda-feira, o papel de sua secretaria no processo revitalizador da zona central. O mesmo ocorreu com Eduardo José Pereira Coelho, de Obras e Serviços Públicos, e Eduardo Homem de Melo, cada qual apresentando a sua contribuição.

Como se observa, trata-se de um esforço concentrado, envolvendo o Pode Público e iniciativa privada, para não apenas impedir uma possível decadência do Centro, como ainda revitalizar a área. Poucas regiões da cidade são tão completas e agradáveis quanto essa. E não nos referimos apenas ao aspecto comércio, mas também aos seus centros culturais, suas praças e seus locais de lazer.

Tem sido dada, nos últimos tempos, grande ênfase à questão da violência na área central. É um problema real, concreto, que não se pode ignorar. Todavia, a partir do momento em que a população voltar a fazer da região um ponto de encontro comunitário, como ocorria há pouquíssimo tempo, certamente as autoridades serão sensíveis às cobranças de segurança dos cidadãos.

O principal objetivo do ciclo é o de conscientizar o campineiro para a necessidade de não deixar que esse importante patrimônio histórico e cultural venha a se degradar, como tem ocorrido em outras grandes metrópoles. As condições ambientais do Centro somente serão melhoradas se todos trabalharem em conjunto, num esforço concentrado.

A tentativa, principalmente, é a de preservar a arquitetura da zona central, que sempre foi um cartão de visita de Campinas. Entre outras coisas que estão sendo debatidas, nesse ciclo, destaca-se a preocupação com a poluição visual. Para que a vista da cidade não se descaracterize ainda mais do que já ocorreu nos últimos anos, estão sendo reprogramadas, inclusive, as colocações de placas comercias nas fachadas dos edifícios.

Incluimo-nos entre aqueles que defendem a necessidade da preservação da personalidade dessa zona que, a despeito de alguns descuidos ao longo dos tempos, é o coração e a alma de uma das mais belas e aconchegantes metrópoles brasileiras. É tarefa de todos os que amam Campinas revitalizar a sua área central.      

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de maio de 1993)


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