SOS
zona central
Pedro J. Bondaczuk
As cidades são como as pessoas que nelas vivem. Têm
personalidade, caprichos, peculiaridades, mas também envelhecem, e ficam
decadentes, caso não sejam cuidadas. Em especial, em suas áreas centrais isso
acontece com mais freqüência. Esse fenômeno ocorreu, por exemplo, com São
Paulo, onde o centro antigo se transformou numa espécie de gueto, de favela
vertical, perdendo a nobreza e a importância que ostentou em seus tempos
áureos.
O mesmo se verifica com outras metrópoles mundiais,
como Nova York, Paris, Londres, Amsterdam etc. Campinas está ameaçada de passar
por idêntico processo, o que seria uma pena. Afinal, não há porque não
considerar todos os espaços de uma cidade como sendo importantes, nobres,
dignos de total atenção.
Com o objetivo de encontrar formas e caminhos para a
revitalização da área central campineira, o Centro Cultural Victória está
promovendo um ciclo de debates, com extensa e variada pauta, em quatro
segundas-feiras, sendo que os primeiros foram realizados nos dias 17 e 24
passados, com a conclusão prevista para 7 de junho. Participam das discussões
profissionais de relevo da cidade, como engenheiros, arquitetos, professores e
lojistas, além de vários secretários municipais.
São os casos, por exemplo, de Luiz Roberto Liza
Curi, da Secretaria de Cultura, que no dia 17 enfocou o tema “Papel do
Condepacc na Revitalização do Centro”. Ou de Ulisses Cidade Semeghini, titular
da pasta de Planejamento, que abordou, nesta segunda-feira, o papel de sua
secretaria no processo revitalizador da zona central. O mesmo ocorreu com
Eduardo José Pereira Coelho, de Obras e Serviços Públicos, e Eduardo Homem de
Melo, cada qual apresentando a sua contribuição.
Como se observa, trata-se de um esforço concentrado,
envolvendo o Pode Público e iniciativa privada, para não apenas impedir uma
possível decadência do Centro, como ainda revitalizar a área. Poucas regiões da
cidade são tão completas e agradáveis quanto essa. E não nos referimos apenas
ao aspecto comércio, mas também aos seus centros culturais, suas praças e seus
locais de lazer.
Tem sido dada, nos últimos tempos, grande ênfase à
questão da violência na área central. É um problema real, concreto, que não se
pode ignorar. Todavia, a partir do momento em que a população voltar a fazer da
região um ponto de encontro comunitário, como ocorria há pouquíssimo tempo,
certamente as autoridades serão sensíveis às cobranças de segurança dos
cidadãos.
O principal objetivo do ciclo é o de conscientizar o
campineiro para a necessidade de não deixar que esse importante patrimônio
histórico e cultural venha a se degradar, como tem ocorrido em outras grandes
metrópoles. As condições ambientais do Centro somente serão melhoradas se todos
trabalharem em conjunto, num esforço concentrado.
A tentativa, principalmente, é a de preservar a
arquitetura da zona central, que sempre foi um cartão de visita de Campinas.
Entre outras coisas que estão sendo debatidas, nesse ciclo, destaca-se a
preocupação com a poluição visual. Para que a vista da cidade não se
descaracterize ainda mais do que já ocorreu nos últimos anos, estão sendo
reprogramadas, inclusive, as colocações de placas comercias nas fachadas dos
edifícios.
Incluimo-nos entre aqueles que defendem a
necessidade da preservação da personalidade dessa zona que, a despeito de
alguns descuidos ao longo dos tempos, é o coração e a alma de uma das mais
belas e aconchegantes metrópoles brasileiras. É tarefa de todos os que amam
Campinas revitalizar a sua área central.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 26 de maio de 1993)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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