Sucessor
de Gandhi tem boas chances
Pedro J. Bondaczuk
O
Partido do Congresso, que governou a Índia por 40 dos 44 anos de vida
independente do país, está voltando ao poder, depois de um breve hiato de 18
meses, numa situação muito mais difícil do que em ocasiões anteriores. Esta
será a primeira vez que terá de governar um Estado complexo, populoso, pobre e
sumamente violento, contando com minoria no Parlamento.
Ademais,
seu novo líder, que substituiu o assassinado ex-primeiro-ministro Rajiv Gandhi,
Narasimha Rao, não tem, evidentemente, o carisma, a ascendência partidária e a
projeção internacional dos membros do clã de Jawaharlal Nehru. Trata-se de um
político negociador, ideal para governar interinamente, enquanto as paixões
ainda estão à flor da pele, após a mais sangrenta campanha eleitoral da
história contemporânea indiana. Mas não para exercer um mandato integral de
cinco anos.
O
Partido do Congresso precisa urgentemente passar por uma profunda reciclagem
diante dessa nova realidade. Sua tarefa fundamental será a de conter os
movimentos separatistas que se disseminam pela Índia, mas não através da
violência, pois se agir dessa maneira, fatalmente irá mergulhar a nação num
banho de sangue, porquanto os ânimos ficam cada vez mais exaltados, à medida em
que o tempo passa e os atentados, seqüestros e distúrbios étnicos e religiosos
se sucedem no Punjab, em Tamil Nadu, em Uttar Pradesh, na Cachemira e em Assam,
que são os Estados mais tensos e problemáticos.
Nos
últimos tempos, os membros da agremiação não têm sido muito felizes em
pacificar os indianos. A mais recente gafe política que o grupo cometeu, ainda
durante a gestão de Rajiv, foi a tentativa de oficializar o hindi como idioma
único, num país com mais de mil etnias diferentes, com línguas ou dialetos
próprios.
Um
parlamentar "iluminado", na falta de um projeto melhor a apresentar,
pretendeu acabar com o inglês como o recurso alternativo, inclusive como elo de
união entre os mais variados povos que compõem essa colcha de retalhos de 850
milhões de seres humanos.
Aliás,
esta foi uma das razões do partido não ter conseguido a maioria absoluta no
Parlamento, tendo lhe faltado 15 míseras cadeiras para não depender de ninguém
na formação de um governo verdadeiramente estável. Nota-se, portanto, que a agremiação
carece de um melhor senso de pragmatismo, de objetivos menos pueris.
Quanto
a Rao, um dos obstáculos para uma boa e longa gestão é a sua precária saúde.
Aos 69 anos de idade, ele já se submeteu a uma cirurgia para a implantação de
ponte de safena e sequer concorreu no pleito recém findo. Por isso, cumprindo a
exigência constitucional, terá de se submeter, dentro de seis meses, a uma
votação suplementar.
Seu
perfil político, todavia, é favorável. O novo líder do Partido do Congresso
sempre teve estreitas ligações com a família Gandhi, à qual serviu em dois
gabinetes --- como ministro de Relações Exteriores de Indira e como assessor de
seu filho, Rajiv, após o brutal assassinato da ex-primeira-ministra em 1984 ---
revelando-se um leal servidor.
Outro
ponto a seu favor é o fato de virtualmente não contar com inimigos, o que lhe
confere livre trânsito em parte considerável da oposição. Se sua saúde
resistir, portanto, Narasimha Rao tem tudo para fazer um bom governo, mesmo
tendo em vista a dramática deterioração da economia indiana e o conseqüente
agravamento das tensões sociais. E, principalmente, tendo de andar numa
instável corda-bamba, que é o fato de não contar com maioria parlamentar para a
aprovação de seus projetos.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de junho de
1991).
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