Adversários inconciliáveis
Pedro J. Bondaczuk
A
China reiterou, ontem, através de seu primeiro-ministro, Zhao Ziyang, uma
decisão que assumiu desde meados de 1969, quando por causa de conflitos de
fronteira, rompeu seus laços com a União Soviética, com quem estava alinhada
desde 1949, após a instalação do regime marxista no país.
Os chineses asseguraram, de novo, a neutralidade no
conflito que opõe o Leste e o Oeste mundiais. Na ocasião em que ocorreu o
reatamento das relações de Pequim com os EUA, em 1972, muitos analistas, um
tanto afoitamente, previram a possibilidade de uma aliança sino-americana para
fazer face a Moscou.
Mas em momento algum os chineses alimentaram essas
especulações, embora o relacionamento atual seja mais amplo, quase
cordial, com Washington do que com o
Cremlin. Entretanto, há um muro, muito maior do que as lendárias muralhas da
China, separando esse povo, enigmático e surpreendente, do Ocidente.
São questões que vão desde a diversidade de
ideologias, até aos objetivos nacionais, obviamente incompatíveis com a postura
de “policiais do mundo” assumida pela superpotência ocidental. Com os russos,
as diferenças são ainda maiores.
Apesar de uma certa identidade ideológica, que a
cada dia fica mais diferente, há séculos de rapinagem e expansionismo do
poderoso vizinho do Norte separando os dois países, ambos garantindo professar
os ideais de Karl Marx. São questões até mesmo inconciliáveis, que servem como
barreiras impermeáveis a um contato mais estreito entre essas populosas e tão
heterogêneas sociedades nacionais.
Essa neutralidade da China no conflito que opõe as
superpotências garante, no mínimo, que quase um quarto da humanidade,
representado pelos mais de 1 bilhão de chineses, repudia o profundo antagonismo
existente entre dois pólos ideológicos opostos, que praticamente fazem com que
soviéticos e norte-americanos, povos tão semelhantes nas características
básicas dos seres humanos, sejam, um para o outro, tão heterogêneos, como se
fossem animais de espécies diferentes.
Ambas as sociedades, certamente, perseguem objetivos
idênticos. Procuram um nível melhor de vida para os que as integram. Mas os
caminhos dessa busca são tão diferentes como água e fogo. Num caso desses, é
prudente que haja sempre uma “parede” separando elementos tão conflitantes. E é
isso que a China, com a sabedoria típica dos orientais, se apressa em se
tornar.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de novembro de 1984).
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