Tuesday, November 18, 2014

Adversários inconciliáveis



Pedro J. Bondaczuk


A China reiterou, ontem, através de seu primeiro-ministro, Zhao Ziyang, uma decisão que assumiu desde meados de 1969, quando por causa de conflitos de fronteira, rompeu seus laços com a União Soviética, com quem estava alinhada desde 1949, após a instalação do regime marxista no país.

Os chineses asseguraram, de novo, a neutralidade no conflito que opõe o Leste e o Oeste mundiais. Na ocasião em que ocorreu o reatamento das relações de Pequim com os EUA, em 1972, muitos analistas, um tanto afoitamente, previram a possibilidade de uma aliança sino-americana para fazer face a Moscou.

Mas em momento algum os chineses alimentaram essas especulações, embora o relacionamento atual seja mais amplo, quase cordial,  com Washington do que com o Cremlin. Entretanto, há um muro, muito maior do que as lendárias muralhas da China, separando esse povo, enigmático e surpreendente, do Ocidente.

São questões que vão desde a diversidade de ideologias, até aos objetivos nacionais, obviamente incompatíveis com a postura de “policiais do mundo” assumida pela superpotência ocidental. Com os russos, as diferenças são ainda maiores.

Apesar de uma certa identidade ideológica, que a cada dia fica mais diferente, há séculos de rapinagem e expansionismo do poderoso vizinho do Norte separando os dois países, ambos garantindo professar os ideais de Karl Marx. São questões até mesmo inconciliáveis, que servem como barreiras impermeáveis a um contato mais estreito entre essas populosas e tão heterogêneas sociedades nacionais.

Essa neutralidade da China no conflito que opõe as superpotências garante, no mínimo, que quase um quarto da humanidade, representado pelos mais de 1 bilhão de chineses, repudia o profundo antagonismo existente entre dois pólos ideológicos opostos, que praticamente fazem com que soviéticos e norte-americanos, povos tão semelhantes nas características básicas dos seres humanos, sejam, um para o outro, tão heterogêneos, como se fossem animais de espécies diferentes.

Ambas as sociedades, certamente, perseguem objetivos idênticos. Procuram um nível melhor de vida para os que as integram. Mas os caminhos dessa busca são tão diferentes como água e fogo. Num caso desses, é prudente que haja sempre uma “parede” separando elementos tão conflitantes. E é isso que a China, com a sabedoria típica dos orientais, se apressa em se tornar.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 20 de novembro de 1984).


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