Ligação com o Brasil
Pedro J. Bondaczuk
O
escritor peruano, Mário Vargas Llosa, um dos melhores e mais brilhantes
romancistas da atualidade em toda a América Latina e no mundo, merecedor, há
algum tempo, de um Prêmio Nobel de Literatura, além de ser muito conhecido no
Brasil --- o "Caderno de Sábado", do "Jornal da Tarde", já
publicou no mínimo duas páginas nos últimos tempos com suas idéias políticas
--- deixa transparecer uma ligação sentimental muito forte com o nosso País. Um
dos seus livros mais deliciosos e perfeitos é a "Guerra do Fim do
Mundo", abordando um fato da nossa história, que foi a revolta de Canudos,
do fim do século passado, retratado por Euclides da Cunha em "Os
Sertões". Somente um talento como o dele poderia enveredar por um tema tão
bem explorado pelo escritor fluminense (que teve um fim tão trágico). Esse
romance de Llosa é o tipo de obra que uma pessoa culta não pode deixar de ler.
Curiosamente,
contudo, essa mesma ligação sentimental com o Brasil quase o derruba em sua
pretensão de chegar à Presidência do Peru. O romancista, que começou a sua
campanha ainda na metade do ano passado, parecia fadado a "massacrar"
seus outros oito oponentes. Em janeiro deste ano, por exemplo, ele superava,
sozinho, os seus adversários somados, nas pesquisas de opinião. Tudo indicava
que sequer seria necessário um segundo turno. Que tudo seria decidido numa
única votação. Todavia, num dos seus últimos comícios, Llosa teve que elogiar o
Plano Brasil Novo, do recém-empossado presidente brasileiro, Fernando Collor de
Mello.
A
partir de então, a situação mudou dramaticamente. Enquanto seus índices caíam,
os de um candidato independente, sem maiores pretensões aparentemente do que
meramente concorrer, Alberto Fujimori, apelidado de "El Chino", passaram
a crescer, como uma bola de neve. Em três tempos, o até então desconhecido
engenheiro-agrônomo, filho de imigrantes japoneses, ascendeu ao segundo lugar.
E se houvesse um pouco mais de tempo, certamente teria conquistado o primeiro
turno. Llosa, depois disso, chegou a manifestar desejo de renunciar. Demovido
por seus partidários, no entanto, arregaçou as mangas e partiu para a luta,
agora em franca desvantagem. Todavia, de duas semanas para cá, a tendência
voltou a se inverter. Os peruanos conseguiram ver que o "bicho" não
era tão feio quanto parecia. Que o programa brasileiro exigia sacrifícios, é
verdade, mas não intoleráveis. Quem sabe, portanto, se um País que o
escritor-candidato admira tanto, e que quase o levou a um desastre nas urnas,
virá a ser o seu maior "cabo" no segundo turno presidencial do Peru,
marcado oficialmente para 10 de junho próximo! Coisas da democracia...
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 18 de maio de
1990)
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