A visita de Clinton
Pedro J. Bondaczuk
O
País, depois de ter recebido o papa João Paulo II, no início do mês, no Rio,
recepciona agora o presidente norte-americano Bill Clinton, o que lhe dá acesso
novamente à mídia internacional, com notícias que pelo menos não são
desabonadoras, ao contrário do que ocorre em condições normais.
Houve
críticas, é verdade (algumas justas, outras fruto de mera
"patriotada"), quanto às exigências feitas pelos organizadores desse
giro pela América do Sul do governante mais poderoso do Planeta. Brasil e
Estado Unidos, além disso, têm divergências comerciais de longa data, mas nada
sério a ponto de comprometer a tradicional amizade que une os dois povos.
A
principal controvérsia gira em torno da chamada "Área de Livre Comércio
das Américas", a Alca. Clinton quer implantá-la ainda em seu mandato,
enquanto Fernando Henrique Cardoso investe antes na consolidação do Mercado do
Cone Sul (Mercosul), para que a indústria brasileira tenha tempo de desenvolver
a competitividade necessária para enfrentar outras dotadas de alta tecnologia,
para só então determinar a abertura total do nosso mercado.
No
plano político, Brasil e Estados Unidos raramente estiveram tão
"afinados". Melhoramos a nossa imagem no Exterior, no que diz
respeito aos direitos humanos, embora seja preciso admitir que ainda há muito o
que fazer nesse campo. Ademais, o País está firmemente determinado a cooperar
com o gigante do norte no combate a esse flagelo da era moderna, que é o
narcotráfico.
Não
se pode, porém, como alguns pretendem, comparar as visitas do Papa e de
Clinton, tanto nos seus objetivos, quanto na sua natureza. A primeira foi de
caráter pastoral, religioso, espiritual, embora João Paulo II (com muita
justiça e equilíbrio) tenha criticado nossos desajustes sociais. Afinal, eles
contribuem diretamente para a desagregação da família, tema que o trouxe ao Rio
e de que tratou com enorme tirocínio.
A
viagem de Clinton, por sua vez, é de caráter eminentemente político. Tanto que
não foi firmado qualquer acordo comercial entre os dois países. Mas serviu para
que os norte-americanos vissem "in loco" a recuperação econômica
brasileira, em um clima de absoluta liberdade e democracia. Apesar de alguns
desacertos, estamos no caminho certo: o da prosperidade e da responsabilidade
internacional. Foi o que o visitante pôde constatar.
O
presidente norte-americano deixou claro, no discurso que proferiu na
terça-feira, no Palácio do Planalto, que este aspecto, em vez de desagradar os
Estados Unidos, é um ponto favorável à superpotência. E nem poderia ser
diferente. Afinal, só um povo próspero tem condições de adquirir, em grande
quantidade, os produtos fabricados por "Tio Sam". E o gigante do
norte está, mais do que nunca, de olho nesse promissor mercado consumidor.
(Texto
escrito em 13 de outubro de 1997 e publicado como editorial na Folha do
Taquaral).
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