Tuesday, November 25, 2014

A visita de Clinton


Pedro J. Bondaczuk


O País, depois de ter recebido o papa João Paulo II, no início do mês, no Rio, recepciona agora o presidente norte-americano Bill Clinton, o que lhe dá acesso novamente à mídia internacional, com notícias que pelo menos não são desabonadoras, ao contrário do que ocorre em condições normais.

Houve críticas, é verdade (algumas justas, outras fruto de mera "patriotada"), quanto às exigências feitas pelos organizadores desse giro pela América do Sul do governante mais poderoso do Planeta. Brasil e Estado Unidos, além disso, têm divergências comerciais de longa data, mas nada sério a ponto de comprometer a tradicional amizade que une os dois povos.

A principal controvérsia gira em torno da chamada "Área de Livre Comércio das Américas", a Alca. Clinton quer implantá-la ainda em seu mandato, enquanto Fernando Henrique Cardoso investe antes na consolidação do Mercado do Cone Sul (Mercosul), para que a indústria brasileira tenha tempo de desenvolver a competitividade necessária para enfrentar outras dotadas de alta tecnologia, para só então determinar a abertura total do nosso mercado.

No plano político, Brasil e Estados Unidos raramente estiveram tão "afinados". Melhoramos a nossa imagem no Exterior, no que diz respeito aos direitos humanos, embora seja preciso admitir que ainda há muito o que fazer nesse campo. Ademais, o País está firmemente determinado a cooperar com o gigante do norte no combate a esse flagelo da era moderna, que é o narcotráfico.

Não se pode, porém, como alguns pretendem, comparar as visitas do Papa e de Clinton, tanto nos seus objetivos, quanto na sua natureza. A primeira foi de caráter pastoral, religioso, espiritual, embora João Paulo II (com muita justiça e equilíbrio) tenha criticado nossos desajustes sociais. Afinal, eles contribuem diretamente para a desagregação da família, tema que o trouxe ao Rio e de que tratou com enorme tirocínio.

A viagem de Clinton, por sua vez, é de caráter eminentemente político. Tanto que não foi firmado qualquer acordo comercial entre os dois países. Mas serviu para que os norte-americanos vissem "in loco" a recuperação econômica brasileira, em um clima de absoluta liberdade e democracia. Apesar de alguns desacertos, estamos no caminho certo: o da prosperidade e da responsabilidade internacional. Foi o que o visitante pôde constatar.

O presidente norte-americano deixou claro, no discurso que proferiu na terça-feira, no Palácio do Planalto, que este aspecto, em vez de desagradar os Estados Unidos, é um ponto favorável à superpotência. E nem poderia ser diferente. Afinal, só um povo próspero tem condições de adquirir, em grande quantidade, os produtos fabricados por "Tio Sam". E o gigante do norte está, mais do que nunca, de olho nesse promissor mercado consumidor.

(Texto escrito em 13 de outubro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).


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