Sucateamento é questão
política
Pedro J. Bondaczuk
O
"3º Conai", realizado no Palácio das Convenções do Parque do Anhembi,
em São Paulo, que se encerra hoje, comprovou, mais uma vez, que se o parque
industrial brasileiro está enfrentando um risco de sucateamento, isto não se
deve, em absoluto, à falta de oferta de bens e serviços do setor de automação.
A questão prende-se a um modelo econômico equivocado, que privilegia as
atividades especulativas, que enriquecem apenas uns poucos que nada têm a oferecer
à sociedade, em detrimento das categorias produtivas. Nos últimos cinco anos, o
que se verificou no Brasil foi um "desenvestimento", com muitas
unidades sendo fechadas ou desativadas, para que o produto arrecadado pudesse
ser investido no "open" ou em outras aplicações.
Nossa
indústria não se modernizou, portanto, não por falta de oferta de tecnologia.
Os produtos mostrados no "Conai" comprovam isso. Quem quiser conferir
melhor, basta que dê uma simples olhada no catálogo da Associação Brasileira de
Processos de Automação Industrial de 1987. Ali, vai constatar a existência de
pelo menos 100 empresas produzindo praticamente todo o espectro de máquinas
para a modernização da indústria. Tais companhias geram mais de 10 mil empregos
diretos, sendo 30% de nível superior. Efetuaram, no ano passado, vendas da
ordem de US$ 300 milhões. Com isso, passaram a controlar os processos de
investimentos industriais de US$ 6 bilhões, que acabaram não sendo feitos. O
"open" não deixou.
A
correção desse desvio econômico no Brasil terá que seguir duas vertentes. Uma é
a conscientização de que a especulação não é um "moto perpétuo". É
auto-esgotável. Haverá de chegar o momento em que não existirá com o que
especular, se a sociedade andar para trás e se empobrecer. A outra é a adoção
de uma política privilegiando os competentes, os eficientes e os produtivos,
dando-lhes condições para lucros crescentes.
Como
ressaltou o editorial do boletim da ABCPAI, numa de suas edições recentes:
"Automação é ferramenta, é meio. E como meio de produzir ela é cultura. E
cultura não se importa ou se compra. Se adquire através de processos
educacionais e de aprendizado necessariamente lentos e penosos. Daí o valor do
nosso mercado e de nosso parque industrial". E está falado.
(Artigo
publicado na página 14, Informática, do Correio Popular, sob o pseudônimo de
Alex H. Bentley, em 23 de setembro de 1988)
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