Friday, November 28, 2014

Sucateamento é questão política


Pedro J. Bondaczuk


O "3º Conai", realizado no Palácio das Convenções do Parque do Anhembi, em São Paulo, que se encerra hoje, comprovou, mais uma vez, que se o parque industrial brasileiro está enfrentando um risco de sucateamento, isto não se deve, em absoluto, à falta de oferta de bens e serviços do setor de automação. A questão prende-se a um modelo econômico equivocado, que privilegia as atividades especulativas, que enriquecem apenas uns poucos que nada têm a oferecer à sociedade, em detrimento das categorias produtivas. Nos últimos cinco anos, o que se verificou no Brasil foi um "desenvestimento", com muitas unidades sendo fechadas ou desativadas, para que o produto arrecadado pudesse ser investido no "open" ou em outras aplicações.

Nossa indústria não se modernizou, portanto, não por falta de oferta de tecnologia. Os produtos mostrados no "Conai" comprovam isso. Quem quiser conferir melhor, basta que dê uma simples olhada no catálogo da Associação Brasileira de Processos de Automação Industrial de 1987. Ali, vai constatar a existência de pelo menos 100 empresas produzindo praticamente todo o espectro de máquinas para a modernização da indústria. Tais companhias geram mais de 10 mil empregos diretos, sendo 30% de nível superior. Efetuaram, no ano passado, vendas da ordem de US$ 300 milhões. Com isso, passaram a controlar os processos de investimentos industriais de US$ 6 bilhões, que acabaram não sendo feitos. O "open" não deixou.

A correção desse desvio econômico no Brasil terá que seguir duas vertentes. Uma é a conscientização de que a especulação não é um "moto perpétuo". É auto-esgotável. Haverá de chegar o momento em que não existirá com o que especular, se a sociedade andar para trás e se empobrecer. A outra é a adoção de uma política privilegiando os competentes, os eficientes e os produtivos, dando-lhes condições para lucros crescentes.

Como ressaltou o editorial do boletim da ABCPAI, numa de suas edições recentes: "Automação é ferramenta, é meio. E como meio de produzir ela é cultura. E cultura não se importa ou se compra. Se adquire através de processos educacionais e de aprendizado necessariamente lentos e penosos. Daí o valor do nosso mercado e de nosso parque industrial". E está falado.

(Artigo publicado na página 14, Informática, do Correio Popular, sob o pseudônimo de Alex H. Bentley, em 23 de setembro de 1988)


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