Galinha dos ovos de ouro não deve morrer
Pedro J.
Bondaczuk
A questão da dívida externa do Terceiro Mundo vem se
agravando a cada dia que passa, ganhando uma situação de insustentabilidade, a
ponto de ameaçar, com explosões sociais pavorosas, de grandes proporções,
vários países-chaves, em especial da América Latina e, com isso, colocar em
risco a democracia no continente.
Todos viram o que aconteceu na
Venezuela, na semana passada, quando o novo presidente Carlos Andrés Perez foi
obrigado a adotar medidas duras para livrar a economia venezuelana do caos.
Como o sacrifício (como sempre tem acontecido) acabou recaindo mais uma vez
sobre os que produzem os bens nacionais, sem que usufruam dos benefícios do seu
trabalho, ou seja, a classe trabalhadora, a revolta foi inevitável. Deu no que
deu.
Sensível a esse problema, o
governo do presidente norte-americano George Bush, anunciou, ontem, o chamado
“Plano Brady”. Ele é destinado a reduzir o endividamento e seu respectivo
serviço, promover novas “injeções” de dólar nas combalidas economias
latino-americanas e, em alguns casos, até mesmo perdoar débitos dos que em
absoluto tiverem condições de honrar o compromisso.
Como seria lógico de se supor,
embora ainda não tenham sido divulgados detalhes do projeto, muitos banqueiros
já manifestaram o seu descontentamento, agindo de uma forma caolha e
irrealista. Afinal, se matarem a “galinha dos ovos de ouro”, de onde tirarão
seus lucros? O mínimo senso de prudência diz que o ideal seria deixar as “aves”
gordas, para que elas rendam mais no futuro.
Se algo não for feito, na questão
da dívida, os países do chamado Primeiro Mundo vão ser duramente atingidos
também. Para que os negócios andem bem, e a atual e inédita fase de
prosperidade das sociedades nacionais ricas continue indefinidamente, é
indispensável que reine a paz no mundo.
Pessoas trabalhando produzem,
sustentam-se e, de quebra, dão lucros para os que as financiam e empregam.
Afinal, elas não têm tempo para “revoluções salvadoras” e nem para “guerras
santas”. Agora que as superpotências encontraram um ponto de equilíbrio, que os
focos de tensão mais evidentes estão cessando, seria lamentável que ocorresse
algum “levante dos miseráveis”, o que não está muito longe de acontecer.
Ademais, o “Plano Brady” deverá
trazer em si algum mecanismo que incentive os banqueiros a concederem o
“waiver” (perdão) a seus devedores. Qualquer coisa como uma isenção tributária,
ou a possibilidade de computar o total abatido ou perdoado da conta de
prejuízos, tirando isso do lucro dos acionistas ou algo semelhante.
Resta saber como os contribuintes
norte-americanos vão reagir. Se vão exigir que os bancos sacrifiquem as
“galinhas”, ou se concordarão em engordar as aves, para lucrar com os ”ovos de
ouro”.
(Artigo publicado na página 11,
Internacional, do Correio Popular, em 11 de março de 1989).
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