Amplitude e riscos da
comunicação
Pedro
J. Bondaczuk
A Comunicação, como
atividade prestadora de serviços á cidadania, não se restringe somente ao
jornalismo. A televisão, em seus programas de entretenimento, principalmente
novelas e filmes, influencia comportamentos, para o bem ou para o mal.
Mencione-se, por exemplo, o desvirtuamento que se vem fazendo, em determinados
canais (e isso não é de hoje) e em alguns horários nem sempre apropriados, da
arte do erotismo. Seu limite, em relação à pornografia, é sutil, sutilíssimo e
nem todos os expectadores têm critério ou maturidade suficientes para fazer a
distinção.
Não defendo,
evidentemente, nenhum tipo de censura. E a Constituição brasileira a proíbe. O
que é necessário é que o próprio comunicador, autor de novela, roteirista de
filme ou mesmo escritor de romances tenha autocrítica. Que pergunte, a si
mesmo, se tem algo inteligente, proveitoso, interessante e construtivo a dizer
(ou a escrever, claro). Se a resposta for positiva, que o diga. Caso
contrário...
Para se destruir algo
ou alguém, seja lá o que ou quem for, não é preciso ser criativo, dispor de
muita técnica ou ter um pouquinho a mais de massa cinzenta que os mortais
comuns. Construir, porém, é tarefa de gigantes, de pessoas especiais,
talentosas e de grande visão. Será que é válido, por certa importância em
dinheiro (e não importa quanto), um intelectual se expor ao ridículo e alterar
(para pior) o comportamento de pessoas mais simples e menos dotadas de
capacidade de análise?
A pornografia barata
apenas alimenta uma tara, uma doença comportamental, e nada acrescenta a quem
quer que seja. Há, evidentemente, quem goste dela. Essas pessoas estão no seu
direito – afinal, como preceitua a doutrina, nem tudo o que é legal é moral e
vice-versa – mas elas que procurem veículos adequados para satisfazer sua
compulsão: um pornoshop, por exemplo, ou fitas de vídeo (que existem, por aí,
em profusão) ou outro meio que não seja de livre acesso ao público, em especial
às crianças.
Há, infelizmente, hoje
em dia, toda uma indústria voltada à pornografia. Exibir bobagens publicamente,
todavia, sob o rótulo de arte, é, antes de tudo, fraude. E das mais grotescas e
grosseiras. Trata-se de enorme tapeação a quem espera do comunicador mensagens
criativas, originais e, sobretudo, construtivas. Além, é claro, de informações
precisas, exatas e isentas, pressupostos básicos de um jornalismo que se preza
e de uma Literatura de qualidade.
Pode-se, grosso modo,
destacar quatro funções básicas da imprensa livre. A primeira, é fazer com que
os líderes do governo, em seus três poderes, prestem contas à população, da
qual são originários e à qual representam. A segunda, é divulgar assuntos que
pedem a atenção da opinião pública, não importa se positivos ou negativos. A
terceira é informar os cidadãos para que possam tomar decisões, em suas vidas e
seus negócios, conscientes e fundamentadas em fatos. E, finalmente, quarta, é a
de criar conexões entre as pessoas na sociedade civil.
Nem sempre, porém, e
não em toda parte, o trabalho do jornalista é reconhecido, valorizado e
protegido. A imprensa, notadamente a internacional, apresenta um rosário de
mártires, mortos no cumprimento do dever. Entre nós, o assassinato do repórter
Tim Lopes, da Rede Globo, completou doze anos em junho de 2014 e ainda choca a
opinião pública, pelas circunstâncias e pela brutalidade do ato.
O ataque
norte-americano ao Hotel Palestine, no centro de Bagdá, em 2003, em plena
operação de ocupação da capital iraquiana, é prova de que países tidos e
havidos como paladinos da liberdade de imprensa também agem contra esse
princípio, quando têm interesses contrariados. A ação em questão redundou na morte
de dois jornalistas, o que elevou, naquela oportunidade, para doze o número de
profissionais da imprensa mortos em menos de um mês de combates para ocupar o
Iraque e pôr fim ao regime de Saddam Hussein.
Foi um dos maiores
números de vítimas, entre correspondentes, de uma só vez, em tão pouco tempo,
de que se tem notícia. No caso do Palestine, a jornalista Gabriella Simoni, da
cadeia TG5, que testemunhou a referida ação, garante que os soldados agressores
fizeram os disparos de “caso pensado”, sem qualquer provocação, e muito menos
sem intuitos meramente defensivos. “Em nenhum momento vi ou ouvi
franco-atiradores disparando do hotel”, garantiu. A mesma coisa foi dita pelo
correspondente da cadeia Sky News, em Bagdá, David Chater. “Não foi acidente.
Não ouvi nem ao menos um único disparo proveniente de nenhuma zona próxima, e
muito menos do hotel”, assegurou.
Acidente ou não, o fato
é que dois profissionais, que faziam seu trabalho na cobertura dos dramáticos
acontecimentos desse dia, vieram a se somar às centenas (quiçá milhares) de
jornalistas mortos em guerras, revoluções, repressões policiais, ações de
traficantes e de terroristas etc., etc. etc.: o cinegrafista da Agência
Reuters, Taras Protsyuk (de nacionalidade ucraniana) e o espanhol José Couso, da
Telecinco. Na mesma ocasião, só que em outro incidente, foi morto, ainda, o
enviado da rede de TV do Qatar, a Al-Jazeera, Tareq Ayoub (este em bombardeio
contra o escritório da emissora, em Bagdá).
Estes profissionais de
imprensa mortos vieram a se somar (entre os casos de maior repercussão de que
me lembro), ao do jornalista britânico David Blundy, por exemplo, vítima da
truculenta polícia salvadorenha, em manifestação ocorrida no centro de San
Salvador, em 17 de novembro de 1989. Estima-se que, anualmente, (e em tempos de
“paz”, é mister destacar) uma média de 200 repórteres, fotógrafos ou
cinegrafistas encontra a morte no exercício do seu trabalho. Alguns casos vêm a
público, pela sua dramaticidade. Mas a grande maioria não é sequer noticiada. Afinal,
o papel do profissional de imprensa é o de reportar a notícia e não o de ser
seu principal protagonista.
Em 1974, todo o mundo
pôde assistir, chocado, o trabalho de um cinegrafista sueco, que registrou, com
sua câmera de vídeo, o momento do próprio assassinato, no centro de Santiago,
durante repressão policial a uma manifestação antiPinochet, imagem que circulou
o mundo, mas que logo acabou esquecida. Em 1985, esse fato se repetiu com um
australiano, nas ruas de Bangkok, quando soldados do Exército tailandês
sufocaram uma tentativa de golpe de Estado. Mas os jornalistas, principalmente
correspondentes internacionais, estão sempre expostos a riscos, na linha de
fogo, indiferentes ao perigo.
Quando conseguem
escapar de balas na Cisjordânia e Faixa de Gaza, são trucidados em alguma
favela do Rio de Janeiro (como ocorreu com Tim Lopes), sofrem seqüestro em
Bogotá; saem ilesos ou feridos de atentados terroristas praticados por
narcotraficantes em alguma cidade da Colômbia; são espancados durante manifestação
em determinada capital européia (mesmo de países tidos e havidos como
“democráticos”); vão parar na prisão em Rangum, capital de Myanmar, a antiga
Birmânia por registrarem aquilo que os governantes preferiam que permanecesse
oculto. E poderíamos desfiar interminável relação de acontecimentos dramáticos,
em que repórteres, fotógrafos e cinegrafistas acabaram sendo agredidos,
machucados ou ofendidos em sua integridade de uma forma ou de outra (quando não
mortos), apenas por estarem cumprindo o dever. Ou seja, por tentarem reportar
fielmente os fatos.
O trabalho do
jornalista, no entanto, não agrada aos prepotentes. Descontenta, profundamente,
sobretudo àqueles que fazem do engodo, da farsa, da demagogia e da violência
instrumentos para a conquista e a manutenção do poder (ilegitimamente obtido,
logicamente). Ou dos que violam as leis e têm alguma coisa a esconder das
autoridades e/ou da opinião pública. Pensem, nisso.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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