Terceiro choque econômico
Pedro J.
Bondaczuk
A Argentina está partindo, nesta semana, para um novo
choque econômico, com o objetivo de conter a escalada inflacionária, depois que
as autoridades estimaram que a taxa de julho passado deve ter ficado em torno
de 25%, batendo os 24,04% do Brasil, embora superada pelos 30,9% do Peru.
Aliás, os três países buscaram,
em ocasiões bem próximas, remédios semelhantes para o mesmo mal. Ou seja, para
a inflação. Suas estratégias tiveram, é fato, algumas variações, de acordo com
as características peculiares de cada economia. Mas apresentaram mais
similitudes do que discrepâncias. Por exemplo, os três novos signos monetários,
criados com a intenção de permanecerem fortes. Não permaneceram.
Os argentinos substituíram o peso
pelo austral. Os brasileiros viveram a euforia dos “fiscais do Sarney” e as
promessas de um desenvolvimento como o do Japão, com uma inflação como a da
Suíça, trocando o velho e desgastado cruzeiro pelo cruzado, moeda cuja origem
remonta à época do descobrimento.
No peru, por sua vez, o solis
cedeu lugar ao inti. Embora os períodos de erosão do valor de face e as cifras
tenham variado, os resultados das três experiências, no frigir dos ovos, foram
absolutamente iguais. Nenhuma das três moedas sustentou a valorização em
relação ao dólar. Em economia, não existem mágicas.
Nenhum dos choques, na verdade, fez mais do que tontear o dragão da inflação. Agora, os três vizinhos encontram-se, mais uma vez, em idêntica encruzilhada, todos assustados com o espectro de uma temida hiperinflação, que fatalmente comprometeria suas incipientes e ainda frágeis democracias.
Mais uma vez, os números variam,
mas as previsões são assustadoras. Argentinos e peruanos, por exemplo,
tenderiam a emplacar uma inflação acumulada em torno de 500%, caso alguma
medida eficaz não viesse a ser adotada. O Brasil, por seu turno, corre o risco
de fechar 1988 em 1.000%.
O governo do presidente Raul
Alfonsin optou por emitir um novo pacote de medidas, cujo conteúdo a população
do seu país vai conhecer hoje. No Peru, Alan Garcia preferiu usar a réplica
local do feijão com arroz do ministro Maílson da Nóbrega. Ou seja, o corte de
subsídios e de despesas do governo, mas sem choque econômico.
Os três países, destaque-se, possuem o mesmo realimentador
da inflação: déficits públicos muito altos. No Peru, ele alcança a 9% do
Produto Interno Bruto. O da Argentina é, percentualmente, pouca coisa menor, de
8,3%. O do Brasil, que deve andar por volta de 5%, no entanto, em termos de
volume de dinheiro representa o dobro do déficit público argentino e quase o
triplo do peruano.
Quem conseguirá, de fato,
controlar a sua inflação (se é que algum dos três vai conseguir)? É coisa para
se conferir, digamos, em dezembro. Até lá, qualquer recurso extremo, adotado em
Buenos Aires, Lima e Brasília, não será novidade para ninguém.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 3
de agosto de 1988).
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