Friday, September 27, 2013

O preço fora de casa


Pedro J. Bondaczuk


O processo de urbanização crescente que se verifica no mundo --- 25% da população mundial habitam hoje em 93 cidades com mais de um milhão de habitantes e somente a capital mexicana, sozinha, abriga 25 milhões de pessoas --- trouxe consigo a necessidade urgente de se prover esses grupamentos urbanos de sistemas eficientes de transporte de massas.

A locomoção rápida, barata e com razoável conforto é, na atualidade, preocupação prioritária da maioria dos prefeitos do mundo todo. Ou pelo menos deveria ser. Afinal, nunca o ritmo de vida foi tão frenético, como agora, quando o chavão "tempo é dinheiro" há muito já deixou de ser mero clichê, para se tornar uma realidade concreta.

Campinas, todavia, nesse aspecto, revela-se uma cidade carente. Possui, na atualidade, o transporte mais caro do País, com a recente elevação de tarifas de ônibus urbanos para Cr$ 125,00.

Ainda se o usuário tivesse um atendimento de superior qualidade, embora tendo de pagar muito alto pelo serviço, o drama não seria tão grande. Todavia, basta que se dê uma volta de ônibus pela cidade para que se constate que não é isso o que ocorre.

Durante a campanha eleitoral, o prefeito Jacó Bittar destacou que uma de suas prioridades seria a humanização dos transportes, Isso implica, evidentemente, num custo barato, já que as opções oferecidas aos proprietários de automóveis não são das melhores.

Eles têm que transitar por ruas estreitas, nem sempre bem conservadas, fazendo da locomoção uma autêntica tortura. A cidade cresceu vertiginosamente, mas sua infraestrutura urbana não acompanhou esse crescimento.

Somente ao longo da atual administração, iniciada em 1989, as tarifas de ônibus urbanos subiram 73,529%, para uma inflação no período de menos da metade dessa taxa. Hoje o campineiro paga, para poder se locomover mediante o meio de transporte mais popular de que dispõe, quase o dobro dos Cr$ 70,00 do curitibano, cujo sistema é tido e havido como um dos mais eficientes do País, e mais de 100% dos Cr$ 60,00 do belo-horizontino, cuja cidade tem o dobro de tamanho.

Estão alinhados, portanto, dois fatores sumamente irritantes, que além de depredarem o orçamento doméstico, aviltam a qualidade de vida do habitante de Campinas: ineficiência e alto custo. Se fosse possível traduzir em cifras os prejuízos causados pela deficiência dos transportes urbanos  na economia local, certamente eles não seriam nada desprezíveis, além da carga de aborrecimentos produzida, que estraga o dia a dia de qualquer pessoa.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de fevereiro de 1991).


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