Preservar o ambiente é dever de todos
Pedro J. Bondaczuk
A defesa do meio ambiente no Brasil, em virtude da
inexistência de uma consciência preservacionista coletiva, é uma tarefa digna
de heróis. Leis a esse respeito até que o País possui, mas na hora delas serem
cumpridas é que surge a grande questão. Hoje, certamente, somos um dos povos
que mais sofrem com os efeitos da poluição e que menos fazem qualquer coisa
para conter sua expansão.
Diversos dos nossos rios estão morrendo
irremediavelmente, transformando-se em autênticos esgotos. Peixes mortos, às
toneladas, vitimados por uso inadequado de defensivos agrícolas, são imagens já
corriqueiras em nossos receptores de televisão. Imensas extensões de floresta,
que a natureza levou séculos para constituir, são dizimadas, no espaço de
poucos dias, para o aproveitamento da madeira nos fornos das siderúrgicas
nacionais, das olarias e em outras tantas atividades, que poderiam utilizar
combustíveis mais baratos e menos nobres.
Há quem argumente que existe uma política de
reflorestamento nacional. Existe? Qual a coerência em se plantar eucaliptos
(próprios para solos pantanosos) onde antes havia pinheiros? Isso, quando é
feito, acaba tendo a finalidade única de somente cumprir a lei. E a bem da
verdade, o que há é uma legislação esdrúxula, elaborada, quase sempre, por quem
não possui a mínima noção de ecologia e muito menos tem consciência da sua
importância para a vida.
O Brasil sofre dos dois principais tipos de poluição
existentes hoje na face deste Planeta, outrora maravilhoso e que aos poucos
está se transformando numa monumental "lixeira cósmica": a da miséria
dos países terceiromundistas e a da opulência das sociedades industrializadas.
Esses dois aspectos, afinal de contas, convivem em todos os campos de atividade
neste Brasil de contrastes.
De um lado, multidões que "vegetam" nas
periferias das nossas "megalópolis", sem que tenham água tratada para
beber, esgotos para eliminar seus dejetos ou sequer a mínima noção de higiene.
Com isso, acabam assaltadas por doenças que estão há anos erradicadas em nações
mais evoluídas, além de causarem intoleráveis agressões ao ambiente.
Do outro lado, estão as indústrias ditas modernas,
que olimpicamente, do alto de uma indiferença estúpida e irracional, envenenam
tudo. As altas concentrações de poluentes sólidos na atmosfera já estão
provocando as apavorantes chuvas ácidas, também entre nós, precipitações de
ácido sulfúrico, que atingem mananciais de água, plantas, pessoas e animais.
Poderíamos seguir enumerando, durante horas e horas
seguidas, os infinitos ataques feitos contra aquilo que nos é essencial, mas
isto se torna dispensável, já que basta qualquer um sair à porta de sua casa
para verificar, na prática, as conseqüências dessa atitude insensata. Muito se
tem escrito, dito e planejado acerca de protecionismo, mas na hora da execução,
de se agir efetivamente, tudo acaba se restringindo mesmo à letra morta ou ao
mero palavreado vazio.
No correr desta semana, o Brasil perdeu um dos raros
e heróicos defensores do seu meio ambiente, que dedicou toda uma vida a essa
inglória tarefa. Morreu o naturalista Augusto Ruschi, pessoa que conhecia como
ninguém os beija-flores, os macacos, as aves, as plantas e as belezas da
natureza do seu País. Que chegou a ser chamado de louco por suas atitudes
extremadas em defesa da nossa própria fonte de vida.
O homem é fruto da natureza e depende dela, em tudo
e por tudo, para sobreviver. Isso é tão óbvio, que a maioria das pessoas ainda
não se deu conta de tamanha e lógica evidência. Aliás, as pessoas são assim
mesmo. As maiores obviedades são exatamente as desconhecidas ou
desconsideradas.
Ruschi, para defender a intocabilidade de reservas
biológicas, não titubeou, até, em arriscar, uma porção de vezes, a sua própria
segurança pessoal. Certa vez chegou a armar-se de uma espingarda e ameaçar de
morte o ex-governador capixaba, Élcio Alvares, que pretendia confiscar o acervo
florestal da reserva de Santa Lúcia. Com sua determinação, conseguiu armar uma
enorme confusão. Teve contra si os poderosos do seu tempo. Mas acabou vencendo
a teimosia e a falta de visão de políticos que só têm visão imediatista das
coisas, sem a mínima preocupação com o futuro.
Quis o destino, cheio de ironias, que esse Dom
Quixote dos tempos modernos fosse devolvido à mãe natureza, e nas matas que
tanto amou e defendeu, no Dia Mundial do Meio Ambiente, ou seja, 5 de junho.
Como sempre, em tais ocasiões, autoridades vieram a público para manifestar
boas intenções a propósito do preservacionismo (até porque este é um ano
eleitoral e o assunto dá votos).
Festividades alusivas à data foram realizadas em
escolas, repartições e comunidades, como se isso fosse o fundamental para que
nossos filhos e netos tenham um mundo limpo e saudável. Editoriais, artigos e
manchetes freqüentaram os jornais. Mas de prático mesmo, nada. Nenhum filtro
novo foi instalado em qualquer das inúmeras indústrias que estragam o nosso ar.
Nenhum serviço de tratamento de esgotos ou de lixo foi inaugurado. Nenhum
cortador de florestas sequer diminuiu o ritmo de sua febre predatória. Tudo não
passou, como sempre, de mais um motivo para festas, e só. Quanta insensatez!
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 8 de junho de 1986)
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