Wednesday, September 18, 2013

Preservar o ambiente é dever de todos

Pedro J. Bondaczuk

A defesa do meio ambiente no Brasil, em virtude da inexistência de uma consciência preservacionista coletiva, é uma tarefa digna de heróis. Leis a esse respeito até que o País possui, mas na hora delas serem cumpridas é que surge a grande questão. Hoje, certamente, somos um dos povos que mais sofrem com os efeitos da poluição e que menos fazem qualquer coisa para conter sua expansão.

Diversos dos nossos rios estão morrendo irremediavelmente, transformando-se em autênticos esgotos. Peixes mortos, às toneladas, vitimados por uso inadequado de defensivos agrícolas, são imagens já corriqueiras em nossos receptores de televisão. Imensas extensões de floresta, que a natureza levou séculos para constituir, são dizimadas, no espaço de poucos dias, para o aproveitamento da madeira nos fornos das siderúrgicas nacionais, das olarias e em outras tantas atividades, que poderiam utilizar combustíveis mais baratos e menos nobres.

Há quem argumente que existe uma política de reflorestamento nacional. Existe? Qual a coerência em se plantar eucaliptos (próprios para solos pantanosos) onde antes havia pinheiros? Isso, quando é feito, acaba tendo a finalidade única de somente cumprir a lei. E a bem da verdade, o que há é uma legislação esdrúxula, elaborada, quase sempre, por quem não possui a mínima noção de ecologia e muito menos tem consciência da sua importância para a vida.

O Brasil sofre dos dois principais tipos de poluição existentes hoje na face deste Planeta, outrora maravilhoso e que aos poucos está se transformando numa monumental "lixeira cósmica": a da miséria dos países terceiromundistas e a da opulência das sociedades industrializadas. Esses dois aspectos, afinal de contas, convivem em todos os campos de atividade neste Brasil de contrastes.

De um lado, multidões que "vegetam" nas periferias das nossas "megalópolis", sem que tenham água tratada para beber, esgotos para eliminar seus dejetos ou sequer a mínima noção de higiene. Com isso, acabam assaltadas por doenças que estão há anos erradicadas em nações mais evoluídas, além de causarem intoleráveis agressões ao ambiente.

Do outro lado, estão as indústrias ditas modernas, que olimpicamente, do alto de uma indiferença estúpida e irracional, envenenam tudo. As altas concentrações de poluentes sólidos na atmosfera já estão provocando as apavorantes chuvas ácidas, também entre nós, precipitações de ácido sulfúrico, que atingem mananciais de água, plantas, pessoas e animais.

Poderíamos seguir enumerando, durante horas e horas seguidas, os infinitos ataques feitos contra aquilo que nos é essencial, mas isto se torna dispensável, já que basta qualquer um sair à porta de sua casa para verificar, na prática, as conseqüências dessa atitude insensata. Muito se tem escrito, dito e planejado acerca de protecionismo, mas na hora da execução, de se agir efetivamente, tudo acaba se restringindo mesmo à letra morta ou ao mero palavreado vazio.

No correr desta semana, o Brasil perdeu um dos raros e heróicos defensores do seu meio ambiente, que dedicou toda uma vida a essa inglória tarefa. Morreu o naturalista Augusto Ruschi, pessoa que conhecia como ninguém os beija-flores, os macacos, as aves, as plantas e as belezas da natureza do seu País. Que chegou a ser chamado de louco por suas atitudes extremadas em defesa da nossa própria fonte de vida.

O homem é fruto da natureza e depende dela, em tudo e por tudo, para sobreviver. Isso é tão óbvio, que a maioria das pessoas ainda não se deu conta de tamanha e lógica evidência. Aliás, as pessoas são assim mesmo. As maiores obviedades são exatamente as desconhecidas ou desconsideradas.

Ruschi, para defender a intocabilidade de reservas biológicas, não titubeou, até, em arriscar, uma porção de vezes, a sua própria segurança pessoal. Certa vez chegou a armar-se de uma espingarda e ameaçar de morte o ex-governador capixaba, Élcio Alvares, que pretendia confiscar o acervo florestal da reserva de Santa Lúcia. Com sua determinação, conseguiu armar uma enorme confusão. Teve contra si os poderosos do seu tempo. Mas acabou vencendo a teimosia e a falta de visão de políticos que só têm visão imediatista das coisas, sem a mínima preocupação com o futuro.

Quis o destino, cheio de ironias, que esse Dom Quixote dos tempos modernos fosse devolvido à mãe natureza, e nas matas que tanto amou e defendeu, no Dia Mundial do Meio Ambiente, ou seja, 5 de junho. Como sempre, em tais ocasiões, autoridades vieram a público para manifestar boas intenções a propósito do preservacionismo (até porque este é um ano eleitoral e o assunto dá votos).

Festividades alusivas à data foram realizadas em escolas, repartições e comunidades, como se isso fosse o fundamental para que nossos filhos e netos tenham um mundo limpo e saudável. Editoriais, artigos e manchetes freqüentaram os jornais. Mas de prático mesmo, nada. Nenhum filtro novo foi instalado em qualquer das inúmeras indústrias que estragam o nosso ar. Nenhum serviço de tratamento de esgotos ou de lixo foi inaugurado. Nenhum cortador de florestas sequer diminuiu o ritmo de sua febre predatória. Tudo não passou, como sempre, de mais um motivo para festas, e só. Quanta insensatez!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de junho de 1986)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk        

No comments: