Sunday, September 29, 2013

Não é o casamento que está em crise


Pedro J. Bondaczuk


A despeito de algumas evidências e de dramas pessoais, como o de Warren Murphy, que por ter sido abandonado pela mulher (que levou consigo os filhos do casal) invadiu o local onde trabalhava, nos Correios de Nova Orleans, feriu a bala três companheiros e manteve uma senhora como refém por 13 horas, a instituição do casamento não está falida e muito menos em crise. Quem investe contra ela aponta dados estatísticos acerca de separações e de crimes passionais como argumento. Estes, no entanto, desde tempos bíblicos, sempre existiram. Muitos matrimônios são ainda feitos por puro interesse, sem que entre nele a importantíssima componente do amor. É claro que eles não dão, nem podem dar certo.

Outros, são mortos pela rotina. O marasmo, muitas vezes, leva um dos parceiros, ou os dois, a aventuras extraconjugais. Em vários casos, elas não passam de episódios passageiros, que sequer são do conhecimento de um dos cônjuges, no caso a parte traída. Terminam como começaram e sequer deixam marcas. Em outros, contudo, verificam-se dramas pungentes.

A parte ofendida, às vezes, reage passionalmente e parte até para brutais assassinatos, que destroem  não somente o casamento, como todos os que tinham vínculo com ele. Em outras, a reação é moderada, mas a dor, o sofrimento, a humilhação são pavorosos. Deixam marcas indeléveis. E quase sempre o parceiro traidor arrepende-se do erro, quando já é tarde.

Por algumas horas de prazer carnal ilícito (que a mulher poderia ter com o marido ou este com a esposa licitamente) todo um passado de carinhos e de trabalho conjunto é posto a perder. Em geral, o adultério, com suas conseqüências escabrosas, traz resultados danosos para quem não tem nada a ver com a falta de moral dos pais. São pessoas que sequer pediram para nascer. Os afetados acabam sendo os filhos. O pior é quando os adúlteros são ambos casados. Neste caso, o risco é maior, pois duas famílias, e não somente uma, findam por ser destruídas.

O antídoto para esses casos é um só: Amor. Essa palavra, tão desgastada pelo uso inadequado que se faz dela, implica numa série de grandes virtudes, como paciência, atenção, desvelo, tolerância, perdão, amizade, carinho, compreensão, desprendimento, sexo, e muito mais, todas reunidas de uma só vez. Mas esse sentimento é como uma delicada flor. É belo, mas frágil. Precisa ser cultivado e cuidado diariamente, para que não venha a secar e se transformar em algo mórbido, doloroso, angustiante. Afinal, nele reside toda a fonte da vida, por ser o atributo maior da própria divindade.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 16 de dezembro de 1989)


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