Tuesday, September 03, 2013

Braço-de-ferro mais equilibrado


Pedro J. Bondaczuk


As autoridades polonesas estão tendo, pela segunda vez no corrente ano, o dissabor de enfrentar greves por toda a parte, desta feita de caráter meramente político, ao contrário do movimento de maio passado, que era francamente reivindicatório, em termos de salários e de condições de trabalho.

O que os trabalhadores desejam, agora, é algo que o governo central teima em não querer conceder há já sete anos. Ou seja, a legalidade do proscrito sindicato Solidariedade, que mais dia, menos dia, terá, fatalmente, que ser legalizado. Até porque, os tempos agora são muito diferentes daqueles de 13 de dezembro de 1981, quando o atual líder marxista, Wojciech Jaruzelski, decretou a lei marcial e lotou as prisões com sindicalistas para acabar com as agitações trabalhistas no país.

Naquela oportunidade, Leonid Brezhnev liderava o Cremlin e vivia fazendo ameaças veladas às autoridades de Varsóvia, que se viam impotentes para controlar a situação. Temendo a repetição das invasões da Hungria, de 1956; da Checoslováquia, de agosto de 1968 e do Afeganistão, de dezembro de 1979, os líderes poloneses não encontraram, mesmo, outra opção na época. Apelaram para o único expediente que conheciam e tinham ao seu dispor: a força bruta.

É verdade que o ato atrabiliário de Jaruzelski lhe custou, não somente muitas dores de cabeça, mas até mesmo alguns prejuízos. Ato contínuo à decretação da lei marcial e ao encarceramento da liderança do Solidariedade, por exemplo, o presidente norte-americano, Ronald Reagan, decretou um boicote comercial à Polônia.

Os efeitos desta medida, na já então arrebentada economia desse país, na ocasião, ainda estão por serem mostrados. Mas não foram pequenos. Isto, fora o prejuízo moral e o repúdio generalizado da comunidade internacional.

Os dirigentes poloneses precisam, finalmente, parar de remar contra a maré. Se em 1980, com Brezhnev no poder, eles tiveram que ceder às exigências trabalhistas (embora por um breve período), agora, com Mikhail Gorbachev no Cremlin, não poderão esperar ajuda alguma, em termos de intimidação, vinda de Moscou. Até porque os soviéticos têm os seus próprios problemas para dosar, na medida exata, as suas “glasnost” e “Perestroika”.

Distúrbios por distúrbios, os russos estão tendo que enfrentar os seus próprios. Portanto, não podem nem pensar em se aventurar alhures. Certamente, percebendo essa situação e aproveitando o descontentamento existente na Polônia com o Não equacionamento das questões econômicas que assoberbam a população (às voltas com uma inflação galopante), os líderes do Solidariedade, como bons estrategistas que são, aproveitaram o momento mais agudo para lançar a sua série de greves.

O braço-de-ferro, desta feita, portanto, será mais parelho. E ou as autoridades abrem mão da sua posição intransigente e legalizam o Solidariedade, ou podem, até mesmo, cair, como aconteceu com outros governos recalcitrantes poloneses.


(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 23 de agosto de 1988).

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