Braço-de-ferro mais equilibrado
Pedro J.
Bondaczuk
As autoridades polonesas estão tendo, pela segunda vez no
corrente ano, o dissabor de enfrentar greves por toda a parte, desta feita de
caráter meramente político, ao contrário do movimento de maio passado, que era
francamente reivindicatório, em termos de salários e de condições de trabalho.
O que os trabalhadores desejam,
agora, é algo que o governo central teima em não querer conceder há já sete
anos. Ou seja, a legalidade do proscrito sindicato Solidariedade, que mais dia,
menos dia, terá, fatalmente, que ser legalizado. Até porque, os tempos agora
são muito diferentes daqueles de 13 de dezembro de 1981, quando o atual líder
marxista, Wojciech Jaruzelski, decretou a lei marcial e lotou as prisões com
sindicalistas para acabar com as agitações trabalhistas no país.
Naquela oportunidade, Leonid
Brezhnev liderava o Cremlin e vivia fazendo ameaças veladas às autoridades de
Varsóvia, que se viam impotentes para controlar a situação. Temendo a repetição
das invasões da Hungria, de 1956; da Checoslováquia, de agosto de 1968 e do
Afeganistão, de dezembro de 1979, os líderes poloneses não encontraram, mesmo,
outra opção na época. Apelaram para o único expediente que conheciam e tinham
ao seu dispor: a força bruta.
É verdade que o ato atrabiliário
de Jaruzelski lhe custou, não somente muitas dores de cabeça, mas até mesmo
alguns prejuízos. Ato contínuo à decretação da lei marcial e ao encarceramento
da liderança do Solidariedade, por exemplo, o presidente norte-americano,
Ronald Reagan, decretou um boicote comercial à Polônia.
Os efeitos desta medida, na já
então arrebentada economia desse país, na ocasião, ainda estão por serem
mostrados. Mas não foram pequenos. Isto, fora o prejuízo moral e o repúdio
generalizado da comunidade internacional.
Os dirigentes poloneses precisam,
finalmente, parar de remar contra a maré. Se em 1980, com Brezhnev no poder,
eles tiveram que ceder às exigências trabalhistas (embora por um breve
período), agora, com Mikhail Gorbachev no Cremlin, não poderão esperar ajuda
alguma, em termos de intimidação, vinda de Moscou. Até porque os soviéticos têm
os seus próprios problemas para dosar, na medida exata, as suas “glasnost” e
“Perestroika”.
Distúrbios por distúrbios, os russos estão tendo que
enfrentar os seus próprios. Portanto, não podem nem pensar em se aventurar
alhures. Certamente, percebendo essa situação e aproveitando o descontentamento
existente na Polônia com o Não equacionamento das questões econômicas que
assoberbam a população (às voltas com uma inflação galopante), os líderes do
Solidariedade, como bons estrategistas que são, aproveitaram o momento mais
agudo para lançar a sua série de greves.
O braço-de-ferro, desta feita,
portanto, será mais parelho. E ou as autoridades abrem mão da sua posição
intransigente e legalizam o Solidariedade, ou podem, até mesmo, cair, como
aconteceu com outros governos recalcitrantes poloneses.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 23
de agosto de 1988).
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