Craque eleva patamar da
Seleção Brasileira
Pedro
J. Bondaczuk
O Brasil, em termos de
futebol, embora tenha sido o único país a jamais ficar ausente, por nenhum
motivo, de qualquer das Copas do Mundo já disputadas, iniciou sua trajetória
internacional como mero coadjuvante, como tantos e tantos outros participantes atuais,
cuja maior conquista é a mera presença na competição. As coisas começaram a
mudar, para melhor, com a presença de um dos raros gênios do esporte – como
Puskas, Pelé, Eusébio, Maradona, Cruyf, Zidane, Messi e alguns outros – que foi o caso de Leônidas da Silva. Nem
sempre a presença desses craques excepcionais, muito acima da média, garantiu
aos respectivos selecionados em que atuaram o título da principal disputa
internacional entre seleções. Foram os casos, por exemplo, da Hungria, da
Holanda e de Portugal. E do Brasil, antes da era Pelé.
Todavia, a presença de
Leônidas conferiu “pedigree” à Seleção Brasileira. Chamou a atenção para o
futebol que se praticava por estas plagas. Isso resultou, tempos mais tarde, no
sucesso do Brasil, superando todas as expectativas, ao ponto do País ostentar,
hoje, a posição que ostenta. Ou seja, do maior ganhador de copas do mundo de
todos os tempos, feito que poderá ser igualado em 2014, contudo não superado.
Leônidas foi, pois, nesse aspecto, no de competitividade decorrente da
qualidade, o pioneiro. Merecia ter sido campeão, e possivelmente seria, caso as
Copas do Mundo de 1942 e de 1946 não fossem canceladas. A primeira, por causa
da Segunda Guerra Mundial. E a segunda, pelas conseqüências decorrentes do
insano, irracional e absurdo conflito, que redundou em mais de 50 milhões de
mortos e em prejuízos materiais (e, óbvio, sociais) incalculáveis.
É verdade que Leônidas
da Silva poderia ter disputado a Copa de 1950, no Brasil, pois, embora com 37
anos, ainda tinha muito futebol para mostrar. O próprio técnico da Seleção
Brasileira daquele ano, Flávio Costa, admitiu, há algum tempo, que foi um erro
a não convocação do craque, então brilhando no São Paulo. Com ele, o Brasil
seria campeão? As opiniões, até hoje, estão divididas. Para boa parte da
torcida e da crônica esportiva, seria, ou, pelo menos, nossas chances seriam
maiores. Outros tantos, contudo, acham que não, já que o problema brasileiro
sequer foi o ataque, bastante positivo, mas nossa fragilidade defensiva e uma
certa arrogância, um prematuro e prejudicial clima de “já ganhou”.
A estreia do Brasil em
copas foi exatamente na primeira delas, a de 1930. Embora nosso selecionado
contasse com um grupo tecnicamente razoável, estava longe de ser considerado
favorito. Era tido e havido como mero coadjuvante, pois nem mesmo na América do
Sul era visto como superior, por exemplo, aos donos da casa, o Uruguai (que
havia conquistado a medalha de ouro na modalidade em duas olimpíadas) e à
Argentina, de quem éramos “fregueses”. O Brasil fez o que dele se esperava.
Sofreu sua primeira derrota em mundiais – logo na estréia, perdeu para a
Iugoslávia, por 2 a 1 – e conquistou, na sequência, a primeira vitória – e logo
com goleada, por 4 a 0, sobre a Bolívia – sendo eliminado, mesmo tendo marcado
cinco gols e sofrido somente dois.
O atacante do
Fluminense, João Coelho Neto, conhecido nos meios futebolísticos como
Preguinho, fez história nesse Mundial. Tornou-se nosso primeiro artilheiro. E
mais, foi o autor do primeiro gol do Brasil em Copas, na derrota, por 2 a 1,
para a Iugoslávia. Para ratificar sua condição de goleador, fez mais dois, na
goleada sobre a Bolívia. Preguinho, que morreu em 1° de outubro de 1979, era
filho do consagrado escritor Coelho Neto.
E onde entra Leônidas da
Silva nesta história? Entra na Copa de 1934, na Itália, que se transformou no
primeiro grande vexame brasileiro em Mundiais. Tudo por culpa (para variar) dos
nossos cartolas. Havia sérias desavenças entre paulistas e cariocas e entre as
ligas amadoras e profissionais. Por causa disso, jogadores reconhecidamente
brilhantes deixaram de ser convocados. Mas... Leônidas foi. A Seleção fez longa
viagem de navio e praticamente por nada. Fez um único jogo e perdeu, sendo
eliminada, por causa dessa derrota por 3 a 1, para a Espanha. O time todo jogou
mal, com uma exceção: o jovem Leônidas da Silva, então com vinte e um anos,
autor do nosso único gol.
Tudo iria mudar na Copa
seguinte, na de 1938, disputada na França. O Brasil fez campanha surpreendente
e mostrou ao mundo que aqui se jogava um futebol que não ficava nada a dever
aos melhores do Planeta. E o destaque, claro, foi o nosso gênio da bola, então
apelidado de “Homem Borracha”, por causa da sua elasticidade, artilheiro da
competição. Embora tenha feito, de fato, oito gols, a Fifa contabilizou,
oficialmente, apenas sete (não considerou um marcado em uma prorrogação), mas
nem assim lhe tirou a artilharia. E, de quebra, foi eleito o melhor jogador da
Copa, superando astros de renome internacional da poderosíssima Itália, que foi
a campeã do mundo.
O Brasil estreou contra
a Polônia, nas oitavas de final, vencendo-a por um placar exótico, ou seja, por
6 a 5. O jogo, no tempo normal, na verdade, terminou empatado, por 5 a 5. Na
prorrogação, nossa Seleção fez o gol salvador e passou para a fase final. Sabem
quantos gols Leônidas fez? Fez quatro, um dos quais de bicicleta! Foi um
assombro até para o mais fanático dos torcedores brasileiros. No jogo seguinte,
pelas quartas de final, houve um empate, por 1 a 1, com a Checoslováquia. Nem é
preciso informar quem fez nosso gol. Claro que foi nosso craque. O regulamento
previa que devesse ocorrer novo jogo para desempatar as coisas. E nessa segunda
partida, o Brasil venceu, por 2 a 1. O primeiro gol brasileiro foi de quem? Claro,
foi de Leônidas!
Veio a semifinal e,
para nossa infelicidade, nosso adversário foi a seleção favorita ao título, a
Itália. E deu a lógica. Os italianos venceram o jogo por 2 a 1, mas tiveram que
suar muito para conquistar a vitória. Ademais, nossa principal estrela ficou de
fora dessa partida, o que gerou muita controvérsia e por muito tempo. Leônidas
havia sofrido lesão contra a Checoslováquia e teve que ser substituído por
Niginho. As más línguas disseram que o técnico Adhemar Pimenta menosprezou a
Itália e poupou nosso maior astro com vistas a uma possível final. Exames
médicos, contudo, comprovaram que nosso “Homem Borracha” não tinha mesmo
quaisquer condições de jogo.
Vinte anos depois, em
1958, Niginho deu uma infeliz declaração, que lhe valeu, até, um processo
judicial. Acusou Leônidas de haver forjado uma contusão para não jogar contra
os italianos por ter sido, alegadamente, subornado pelo ditador Benito
Mussolini. Como seria de se esperar, o caso foi parar nos tribunais. Niginho
foi processado por Leônidas, por calúnia, e foi condenado a pagar indenização
ao ex-craque e então já cronista esportivo.
Mas o Brasil, na Copa
de 1938, não voltou da França, de mãos abanando. Derrotou a Suécia, por 4 a 2 e
conquistou o terceiro lugar. E quem vocês acham que foi o destaque dessa
partida? Claro que foi ele, Leônidas da Silva, autor de dois e decisivos gols.
Apesar de ter pendurado as chuteiras, oficialmente, em 1951, seu derradeiro
jogo oficial ocorreria dois anos depois, em 1953, e com a camisa da Seleção
Brasileira que ele tanto honrou. Foi na disputa de um Campeonato Sul-Americano
de Veteranos. Infelizmente, não consegui apurar qual seleção foi a campeã e
qual foi o desempenho de um dos maiores craques de todos os tempos, não apenas
do Brasil, mas do mundo. E isso importa?
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