Pinochet
vai respeitar as urnas?
Pedro J. Bondaczuk
O assunto político desta semana, sem dúvida alguma,
é o que se refere ao plebiscito que será realizado hoje, no Chile, onde a
população vai jogar a sorte da sua democracia. Uma eventual vitória do "sim"
vai conferir ao presidente Augusto Pinochet mais oito anos no poder. Os quinze
que ele exerceu até aqui foram todos eles marcados pelos estados de exceção.
Pela suspensão da liberdade de imprensa e das garantias individuais. Pelo
contínuo e sucessivo desrespeito aos direitos humanos. E por outros tantos
casos, de conhecimento geral.
Cabe aos chilenos, portanto, a decisão se querem que
isto continue ou se preferem um outro caminho. A grande dúvida continua sendo a
que se refere a se Pinochet vai respeitar ou não o veredicto das urnas caso o
resultado lhe seja desfavorável.
A opinião pública mundial está de olho no desenrolar
do processo eleitoral do Chile. Caso haja alguma fraude, por menor que seja,
certamente será informada. Talvez não no próprio dia, enquanto os observadores
internacionais estiverem em Santiago. Afinal, embora o presidente negue, o país
vive numa ditadura.
Mas este é o tipo de coisa que não se esconde. Há um
temor, por parte da própria população, quanto às reações do governo e das forças
de extrema-direita que lhe dão sustentação em caso do sucesso do
"não".
A campanha situacionista foi toda ela baseada nos
pretensos êxitos econômicos do regime. Está se falando, até mesmo, em
"milagre". Os brasileiros têm experiência com milagreiros. A inflação
teria sido contida em 12% anuais, as exportações estariam batendo recordes e a
dívida externa estaria sob controle.
Resta saber a que preço tudo isso está acontecendo.
Economistas da oposição, por exemplo, sustentam que o nível de desemprego e
subemprego chega a ser insuportável. As vendas externas teriam aumentado de
fato, em valor, mas não em volume. A receita maior deve-se à alta na cotação do
cobre, o principal produto exportador chileno, no mercado internacional.
O descontentamento social é uma realidade nesse país
diante do aumento do número de favelas e do empobrecimento do seu povo. O
engraçado é que quando o papa João Paulo II esteve no Chile, em abril de 1987,
nenhum correspondente que cobriu sua visita falou da "prosperidade"
chilena. Subitamente, esse tal "milagre" chegou à opinião pública,
como se fosse notícia "plantada", sem que fossem citadas as fontes
dessas informações.
Pode ocorrer até uma vitória de Pinochet no
plebiscito de hoje. Tudo é possível neste mundo louco. Afinal, 15 anos de
ditadura, com os principais opositores passando a maior parte desse tempo no
exílio, são suficientes para "castrar" toda uma geração. Mas se
formos olhar o panorama na base da pura lógica, podemos afirmar que se o
"sim" prevalecer nas urnas, terá sido o que os apostadores de Loteria
Esportiva costumam designar como sendo uma "zebra". Ou seja, um
resultado que foge por completo a qualquer senso de análise. Resta saber se
Pinochet está preparado para absorver uma possível derrota. Esta, sim, é a grande
questão.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do
Correio Popular, em 5 de outubro de 1988)
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